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'Engravidei 2 vezes usando DIU': será mesmo que só fica grávida quem quer?

Gabriela Pires conta que o DIU de cobre falhou duas vezes - Arquivo pessoal
Gabriela Pires conta que o DIU de cobre falhou duas vezes Imagem: Arquivo pessoal

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa

08/06/2023 04h00

"Só engravida quem quer". Você já deve ter ouvido essa frase por aí — falada muitas vezes quando uma mulher tem uma gravidez não planejada. Métodos contraceptivos — quando usados corretamente — são, em geral, bastante eficazes.

Mas nenhum é garantia 100% de contracepção.

A paranaense Gabriela Pires, 26 anos, de Faxinal (PR), por exemplo, conta que engravidou duas vezes mesmo usando um DIU (dispositivo intrauterino) de cobre.

Ela não queria se expor a hormônios, base da maioria dos anticoncepcionais, e acabou optando pelo DIU, que promete eficácia superior a 99% e poucos efeitos colaterais.

Segundo ela, o dispositivo intrauterino falhou — não só uma, mas duas vezes, praticamente na sequência.

"Fiz o ultrassom seis meses após a colocação em 2016 e estava tudo certo. Três anos depois, a menstruação atrasou 16 dias. Fiz o teste e descobri que estava grávida. Foi um susto, mas, como já tinha planos de ser mãe e estava há seis anos em um relacionamento sério, acabou se tornando motivo de alegria."

O dispositivo havia se deslocado e, segundo Gabriela, foi fácil tirá-lo: o embrião estava grudado no útero e o DIU, quase fora da cavidade. A médica só precisou puxá-lo.

A segunda surpresa

Cerca de quatro meses após o nascimento do primogênito Henrique, Gabriela decidiu dar uma segunda chance ao DIU de cobre. Afinal, além de ainda não querer a contracepção hormonal, não acreditava nas chances de o método falhar novamente. Mas foi isso o que aconteceu — e em curto espaço de tempo.

Fiz o primeiro ultrassom e vi que o dispositivo estava no lugar. Planejava refazer o exame com seis meses, como indicado, mas nem deu tempo: uns quatro meses depois de ter colocado, engravidei de novo. Meu primeiro filho estava com nove meses

Vinícius, o caçula, chegou em dezembro passado. Passado o susto com a segunda gravidez, a paranaense acabou optando pelo anel vaginal.

"Não é a opção que queria. Preferia evitar hormônios e seus efeitos colaterais, mas escolhi esse método, junto da minha médica, pois tem menos hormônio que uma pílula", diz.

Como funciona o DIU

Os dispositivos intrauterinos podem ser hormonais ou não conter hormônios (DIUs de cobre ou cobre prata).

A opção usada por Gabriela, o DIU de cobre, não inibe a ovulação nem cessa a menstruação. Apenas deixa o útero hostil ao recebimento do óvulo e espermatozoide, chegando a 99,4% de sucesso.

O deslocamento do DIU pode ocorrer, inclusive como consequência das contrações uterinas do período menstrual. Deve-se fazer exames periódicos para saber se o DIU está no lugar certo.

Os DIUs que levam hormônios funcionam como métodos hormonais, cessam o sangramento e provocam ainda a hostilização do útero, o que aumenta sua eficácia para 99,8% a 99,9%.

DIU: quais os cuidados?

DIU - iStock - iStock
DIU funciona em 99% dos casos
Imagem: iStock

Conforme Geraldo Caldeira, ginecologista e obstetra do Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana, o DIU funciona em 99% dos casos, ou seja, tem 1% de chance de falha.

A chance de falhar é muito pequena; não é zero, mas pode acontecer, igual a qualquer outro método anticoncepcional, pois todos têm uma chance de falha, mesmo que pequena
Geraldo Caldeira, ginecologista e obstetra do Serviço de Reprodução Humana do Hospital e Maternidade Santa Joana

Segundo ele, uma mulher que nunca engravidou deve usar DIU menor, porque a cavidade uterina dela também é menor. É necessário um pouco mais de cuidado, porque a paciente pode não se adaptar ao dispositivo.

Obrigatoriamente, logo após a colocação do DIU, é necessário fazer um ultrassom para checar se o dispositivo está no local ou se precisa mexer, explica Caldeira. Depois, o ideal é repetir o exame a cada 6 meses. Caso não seja possível, é preciso fazer esse acompanhamento pelo menos uma vez por ano.

Há casos, entretanto, de contraindicação absoluta para o uso do DIU, quando a cavidade uterina tem irregularidades e/ou não é normal. Quem tem malformação mülleriana, útero bicorno, útero septado e mioma submucoso não deve adotar o método.

Na opinião de Caldeira, quando uma paciente engravida usando DIU de cobre e opta por repetir a medida preventiva, o ideal seria adotar um DIU hormonal, que libera progesterona, atrofia a camada interna do útero e, com isso, diminui a chance de gravidez.

Todo método pode falhar

Assim como o DIU, não existe método 100% livre de falha. E há uma diferença entre a proteção em teoria e a proteção "na vida real", quando outros fatores do dia a dia (como a interação com medicamentos, vômito ou diarreia) entram em jogo.

Veja abaixo a taxa de eficiência de outros métodos contraceptivos "na vida real", conforme estudo publicado no periódico Contraception. Cientistas da Universidade Princeton (EUA) acompanharam 100 mulheres que usaram durante um ano cada método e verificaram quantas engravidaram.

Implante subdérmico

Eficiência do uso na vida real: 99,9%. É um "chip" que a mulher implanta na nádega ou no braço e libera hormônio. Ele deve ser trocado a cada três anos. É considerado o método mais eficientes no mercado.

Injeção

Eficiência do uso na vida real: 94%. É aplicada no músculo do bumbum e vai liberando hormônio lentamente no organismo. Existem injeções mensais e trimestrais e a taxa de proteção delas no uso perfeito ultrapassa os 99%.

Pílula

Pílula - Peter Dazeley/Getty Images - Peter Dazeley/Getty Images
Pílula anticoncepcional; métodos contraceptivos
Imagem: Peter Dazeley/Getty Images

Eficiência do uso na vida real: 91%. Para ter praticamente risco zero de gestação, é preciso seguir exatamente todas as instruções que estão na bula. Por exemplo, tomar o anticoncepcional todos os dias por volta do mesmo horário.

Anel vaginal

Eficiência do uso na vida real: 91%. Ele promete 99,7% de proteção no uso perfeito, ou seja, se for colocado corretamente e trocado no momento indicado. No estudo americano, nove das cem mulheres acompanhadas engravidaram usando o método.

Camisinha

Eficiência do uso na vida real: 82%. O preservativo é o método anticoncepcional que apresenta maior variação entre a taxa de proteção no uso perfeito (98%) e na vida real (82%). Um dos erros mais cometidos é usar o preservativo somente no fim da transa, quando o homem vai ejacular.

Tabelinha

Eficiência do uso na vida real: 76%. Basear-se no ciclo menstrual da mulher é um método bem arriscado para evitar a gravidez.

Por que os métodos falham?

Conforme explica o ginecologista e obstetra Geraldo Cadeira, as pílulas podem falhar devido ao uso incorreto, como quando a mulher se esquece de tomá-las.

Já o DIU pode não ser eficiente pelo deslocamento; e os preservativos, devido a possíveis furos no látex.

Ainda assim, condições além do modo de uso podem alterar a eficácia.

Antibióticos, corticoides e a maioria das medicações usadas por muito tempo -- não de uso contínuo para manutenção, mas para tratar doenças -- podem influenciar. Todo remédio metabolizado no fígado pode mudar a ação dos hormônios
Karen Rocha de Pauw, ginecologista e obstetra, especialista em reprodução humana

Já a pílula do dia seguinte é entendida não como um método contraceptivo, mas como medida de emergência. Seu horário de ingestão é fator determinante para sua eficácia.

"O ideal é tomar no mesmo dia após a relação suspeita. Se tomada no dia da relação, a eficácia é de 90%. Já no outro dia ou mais do que dois dias, cai para 50%", diz Geraldo.

Dois métodos

Para aumentar a eficácia dos métodos, Karen diz ser possível combinar dois deles, como o hormonal e o de barreira. No entanto, ainda assim não se chegará a uma eficácia de 100%, já que isso é considerado impossível. Por outro lado, a combinação evita as DSTs.