Professora brilha no OnlyFans e é ameaçada por instituição e pai de aluno
Em agosto do ano passado, a professora e doutora em biologia Rosana dos Reis Abrante decidiu criar uma nova conta no Instagram. Na época, ela enfrentava uma fase aflitiva na vida pessoal: a separação depois de 22 anos de casamento.
O divórcio e a descoberta de problemas de saúde inspiraram mudanças. Fugindo do comum - mas nem tanto - ela então investiu em um ensaio sensual. O primeiro em seus 42 anos.
"Na pandemia, engordei dez quilos. Recebi um diagnóstico de que estava diabética, com gordura no fígado... E então eu decidi fazer um ensaio fotográfico de cientista, com jaleco. Publiquei as fotos e comecei a receber muitos elogios. Me senti desejada. Comecei a me cuidar. Meu índice de colesterol caiu pela metade. Estou malhando, me cuidando mais... Por esse lado, ter publicado as fotos me fez muito bem", diz.
Em poucos meses, a nova conta foi de zero a 8 mil seguidores. E Rosana decidiu criar perfis no Privacy e no OnlyFans. O que ela não esperava é que a atividade, desenvolvida em seu horário livre, seria um problema para a Instituto Federal do Espírito Santo, instituição em que trabalha e é coordenadora de curso.
"Primeiro, o Comitê de Ética sugeriu a retirada da página do Instagram. Eu não retirei. Depois disso, o pai de um aluno denunciou a minha página para a ouvidoria. O julgamento do caso está em processo, devem emitir um parecer no dia 30 deste mês. Eles alegam que isso mancha o nome da instituição, que um servidor 'tem que manter a conduta moral mesmo fora do horário de serviço'. Só que eu acho que tenho direito à minha individualidade. Eu sou uma pessoa. Não sou uma servidora do Instituto Federal só. Isso melhorou a minha autoestima, me fez voltar para academia, me ajudou no processo de separação."
Procurada por Universa, a instituição se limitou a informar que: "A denúncia está em apuração pela Comissão de Ética do Instituto Federal do Espírito Santo, conforme o Código de Ética Profissional do Servidor Público. O processo corre em sigilo".
Para Rosana, ter a conduta profissional questionada a partir fotos artísticas que ela fez fora da instituição e em seu horário livre é injusto.
"Ao meu entender, o comitê de ética deve julgar coisas do tipo: se eu falto, se não entrego algo no prazo, se eu bato ponto de forma inadequada, se assedio um aluno. Faltas que você comete dentro da instituição. Aí eu estaria passível de sofrer uma punição. Só que eu estou sofrendo uma punição por algo que eu não fiz na escola".
Com os trabalhos na plataforma, Rosana ganha cerca de 10% do salário de professora federal.
Consultada pela reportagem, a advogada Bianca Figueira Santos, mestra em direito e especialista em direitos humanos, informou que a tentativa de interferência da instituição na vida particular da professora não tem embasamento legal.
"O fato de a Rosana expor as imagens dela em uma rede social como o Instagram ou em uma plataforma como o OnlyFans é uma forma de expressão artística e está amparada em princípios fundamentais da Constituição Federal. Além disso, tem ainda o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos que fala que 'todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e expressão'. E esse direito implica liberdade de manter suas próprias opiniões, sem interferência".
E conclui: "Certamente é algum tipo de perseguição, é algum tipo de regra própria que eles querem criar, violando, inclusive a nossa Constituição Federal. Não tem sentido prosperar esse tipo de processo administrativo.".
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