'Minha ex me incentivou a experimentar seu leite materno. Nunca a superei'
No novo episódio do "Sexoterapia", podcast de Universa, a jornalista Bárbara dos Anjos Lima e a sexóloga Ana Canosa receberam a atriz e humorista Jacy Lima. Além de conversarem sobre relacionamentos tóxicos e abusivos, elas analisaram casos enviados por ouvintes.
No primeiro, um homem se questiona como superar uma relação com uma mulher que terminou há dois anos.
No segundo, uma mulher relata que o marido, que é bipolar e tem transtorno de ansiedade, começou a sair do controle mais vezes do que o normal. Agora, ela está em dúvida se pede o divórcio ou tenta apoiá-lo por estar em um momento difícil.
Relação terminou de uma hora para outra. Nunca superei
Não sei quais problema minha ex estava passando mas, quando nos conhecemos, ela estava há dois anos sem nenhum tipo de relacionamento e sem sexo. Tinha tido um filho com o ex-marido e aí, na na rotina do bebê, a falta de sexo fez com ele começasse a não ficar em casa e não ter relações com ela. Na sequência, eles se separaram. Dois anos depois, nas palavras dela, começamos nosso relacionamento. Ela me disse as coisas mais lindas que já ouvi uma mulher falar para um homem abertamente.
Ela era de uma classe social bem superior a minha, daquele tipo que chamamos de padrão de beleza. Ela enalteceu minhas qualidades e sensibilidade.
Me apaguei a ela e ao filho dela e planejávamos morar juntos.
Ela estava em lactação e me incentivou a experimentar seu leite, criou um tipo de laço esquisitíssimo comigo. Na primeiro relação sexual, me disse que eu era muito bom nisso.
Só que assim como um dia ela mostrou os lugares onde eu colocaria minhas coisas em sua casa, no outro, sem nenhuma briga, ela me mandou uma mensagem dizendo: 'Muito obrigada por tudo, mas não vou continuar'. Já faz dois anos e nunca superei.
Acho importante salientar que estou na região limítrofe de ser uma pessoa neuroatípica [com alterações neurológicas], tenho superdotação. Minha cabeça já é uma loucura e meus sentimentos são fortíssimos. Sinto muita dor e não consigo superar. Como ir em frente?
Ana Canosa: "Ele foi abandonado na lactação. Quando eu li esse relato, me coloquei no lugar dessa pessoa, do quanto ela se sentiu abandonada, como um bebê mesmo".
Tem toda uma intensidade ali, uma relação simbiótica, profunda. Me dá uma sensação que ele foi meio que um homem filho. Ela usa disso, não sei se de maneira consciente, porque tem uma coisa ali meio de maternidade. Ela tem mais dinheiro, ela é bonita, tem uma questão de poder aí nessa hierarquia. Ana Canosa
"Ele quase que fez uma função de ponte entre um relacionamento e outro, uma coisa de um homem meio menino. É muito doido isso", apontou.
A questão do fetiche relacionada a lactação também foi debatida.
Ana Canosa: "O desejo delas [de quem cede ao fetiche] é dizer sim ao dominante mas, no concreto, durante a relação, existe um limite, tanto físico quanto emocional. Tenho a sensação de que, no fetiche, a gente tem que tomar muito cuidado para não transformar a outra pessoa em um mero objeto", completou.
Jacy Lima finalizou com uma reflexão sobre a autoproteção.
Jacy Lima: "Acho que nunca estamos protegidos, a gente depende muito do outro. Às vezes, no início, o outro demonstra ser maravilhoso. E aí, do nada... Some. A pessoa precisa entender qual o lugar de conforto, mas não ficar com medo de se relacionar."
Meu marido tem crises de ansiedade e fica agressivo. Isso é tóxico?
Sou casada há nove anos. Tenho dois filhos de oito e seis anos, e meu marido é diagnosticado com bipolaridade e transtorno de ansiedade generalizada. Quando ele consegue ter uma rotina estruturada, funciona bem. Mas, quando algo sai do padrão, ele não consegue lidar. Por exemplo, na pandemia foi ok se isolar, ele encarou melhor do que eu. Mas quando começou a ser possível sair e fazer programas, ele começou a ter crises de ansiedade.
Não sei se por isso ou como consequência disso ele foi ficando agressivo, parece que tudo tira ele do sério. Fica mal-humorado, briga no trânsito e em restaurantes se a comida demora para chegar, tem discussões homéricas por politica. Nunca foi violento fisicamente comigo ou com as crianças mas, às vezes, usa o tom errado.
Pra mim, o pior foi ano passado, que ele teve uma briga com o irmão e os dois romperam. O Natal foi um climão pesadíssimo. Ele tem um acompanhamento psicológico e psiquiátrico e vai lidando com as crises conforme elas aparecem.
Mas tenho refletido sobre meu lado nessa história. Será que ele é uma pessoa tóxica e devo me separar ou esse é o momento de mostrar apoio ao meu marido e pai dos meus filhos?
Ana Canosa: "É uma questão muito sensível porque transtornos mentais podem tornar as pessoas mais agressivas sim. Primeiro, como a pessoa lida com seus desatinos? Reconhece as dificuldades? Ele percebe a doença, ele procurou ajuda. Isso já é fundamental. Mas ela também tem que pensar no quanto aguenta".
Depois, tem o quanto que ele tem de intenção em conter o comportamento agressivo. Muitas vezes pessoas se apoiam na doença pra fazer o que querem. Não é habitual, mas acontece. Ana Canosa
Bárbara destacou a importância de procurar a ajuda, mas ressaltou também que é importante se observar.
Bárbara dos Anjos: "A pessoa que está do lado fica com toda a carga mental, não tem essa orientação, as pessoas não estão olhando para ela".
Ana Canosa questiona o que pode ter de tóxico no comportamento do homem citado pela ouvinte. "Ele mina sua alegria, é possesivo, ciumento, agressivo na fala, negativo? Tem comportamentos que vão minando o entusiasmo de viver. Quanto disso faz parte da personalidade dele e quanto é do transtorno?".
"Talvez seja importante ela conversar com o psicólogo e com o psiquiatra dele. Mesmo assim, tem essa escolha de continuar essa relação ou não", apontou.
Qual a diferença entre relação tóxica e abusiva?
Ana, Bárbara e Jacy também conversaram entre si sobre relações tóxicas e abusivas.
Ana Canosa: "Estou dando aula de sexualidade para o ensino médio e uma das perguntas que mais recebo é o que configura uma relação tóxica. Jovens de 15 e 16 anos estão preocupados com a temática. Por que tudo virou relacionamento tóxico".
A sexóloga emendou em uma reflexão a respeito do que pode ou não se perdoar dentro de um relacionamento.
"Acho que dá para perdoar tudo, por mais doloroso que seja. Mas posso escolher não querer estar com essa pessoa nunca mais. Esse é um ponto importante."
Se perceber e perceber o outro
Para a sexóloga, em vez de chamar tudo de tóxico, é importante perceber as reações do outro dentro da relação. "A gente tem que ir sacando, percebendo se o outro nega quando você aponta um problema, se chama de louca. Aí é tóxico mesmo", diz.
Jacy falou sobre a dificuldade em se ver em uma situação desconfortável: "Quando você vem de um relacionamento abusivo e tóxico, acaba reproduzindo muitos padrões de comportamento por causa da insegurança".
Ana Canosa completou a conversa sobre papéis de gênero. "Tem questões sociais que parecem ir orientando homens e mulheres a serem manipuladores, cada um a seu modo. Tem muitas mulheres que são abusivas. A gente precisa falar sobre isso também e olhar para o que está fazendo mal para o casal."
A sexóloga ressalta que "todos nós podemos ser tóxicos". "A gente sabe muito bem como fazer. Quando você tem intimidade com alguém, sabe como deixar a pessoa insegura.
Jacy pontuou a importância do diálogo e foi seguida por Bárbara.
Bárbara dos Anjos: "A conversa tem que vir antes de taxar que o outro é tóxico. Parece que só falam depois. Podiam ter conversando antes daquilo em vez de deixar chegar onde chegou. A impressão que tenho é que é mais fácil botar sempre a culpa no outro".
"Precisamos fazer essa autocritica para que possamos evoluir ao lado do parceiro ou da parceira", apontou Jacy.
Jacy Lima: "Tenho consciência que já fui abusiva num relacionamento. Às vezes a pessoa é dependente emocional, mas isso cai sobre o outro. Também já vivi uma situação que meu namorado foi abusivo mas, no final, eu estava numa dependência emocional. Ele já não queria mais e eu estava forçando ele a continuar comigo".
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