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Camilla Camargo sobre papéis como atriz: 'Ah, mas ela tem criança pequena'

de Universa, em São Paulo

03/07/2023 04h05

A atriz Camilla Camargo, 37, pode ser vista na Netflix como a professora Diana da novela "Carinha de Anjo", e na Disney +, na segunda temporada da série "Tudo igual...SQN". Além do trabalho no streaming, Camilla acumula 20 papéis no teatro musicado. De todos que já interpretou, no entanto, nenhum parece tão difícil quando a maternidade —não pela dificuldade em cuidar das crianças, mas pelo desafio de lidar com a culpa e enfrentar os receios de quem pensa duas vezes antes de contratar mães. Por isso, ela tem defendido que a sociedade "abrace mães trabalhadoras". Camilla é mãe de Joaquim, 3, e Julia, 2. Ela falou a Universa:

Universa: A oferta de papéis mudou depois da maternidade?
Camilla Camargo: Sinto algumas mudanças. Querem saber se a mulher já voltou a trabalhar, como é a dinâmica como mãe, se está disponível. 'Ah, mas ela tem criança pequena'. Tem uma questão aí. É um comportamento que ainda precisa ser trabalhado: aceitar as mães que voltam a trabalhar.

Vê preconceito nesse comportamento?
Tem algo, mas não sei se é preconceito, As coisas ficam mais difíceis com a maternidade. Algumas pessoas ficam com receio sobre nós, depois que nos tornamos mães. Acham que a maternidade pode interferir no nosso trabalho ou prejudicar de alguma forma. Infelizmente ainda existe esse tabu. A sociedade, em geral, questiona tanto se a mulher fica em casa com o filho quanto se sai para trabalhar e o deixa em casa. Esse julgamento, muitas vezes, vem das próprias mulheres. Já o pai não é questionado quando sai para trabalhar. Muitas mães solos dependem exclusivamente do seu trabalho para sustentar os filhos e, às vezes, outras pessoas apontam o dedo para elas.

Sentiu o peso da culpa materna quando voltou a trabalhar?
A culpa é algo constante depois da maternidade. Quando se tem dois filhos, como no meu caso, você se sente culpada o tempo todo, porque sempre acha que está em dívida com algum deles. Trabalhando não é diferente. É muito dolorido, pelo menos para mim. Com o tempo, a gente aprende a lidar com isso. Mas não sei se nos acostumamos.

Há cada vez mais mulheres assumindo que nunca quiseram ter filhos e, por isso, se arrependem da maternidade. Você sempre sonhou em ser mãe?
Sim. Sempre gostei de crianças. Sempre fui a tia que se dava bem com todas as crianças, que conseguia fazê-las dormir. Quando fiz "Carinha de Anjo" todas as crianças me chamavam de "mãe". Sonhava em ter um casal e Deus foi bom e generoso comigo, porque me deu um casalzinho, como sempre sonhei.

Amamentar também é um desafio para muitas mulheres. Como foi no seu caso?
Amamentei o Joaquim até um ano e quatro meses e a Júlia por um ano e 10 meses. Devido à pandemia, consegui amamentar o Joaquim tranquilamente, mas no caso da Julia eu já tinha voltado a gravar e ela ainda mamava. Tive que tirar leite e deixar em casa. Sem contar que é preciso lidar com a dinâmica do peito inchado, o que gera um desconforto. São situações com as quais você precisa se adaptar.

Quem te apoiou nos momentos mais difíceis com os bebês?
Nas mamadas da madrugada sempre fui eu. Mas tenho um marido que exerce a função de pai, no sentido real da palavra. Ele é o pai dos meus filhos e executa isso de maneira incrivelmente boa.

Tem diferença em criar menino e menina?
Não, a criação deles é igual. Independente de gênero, a gente respeita o ser humano e a individualidade de cada um. O Joaquim e a Julia são completamente diferentes, por mais que sejam criados do mesmo jeito e tenham vindo da mesma barriga. Os valores que passo para eles são os mesmos.

Você vem de uma família em que todo mundo é famoso. Se sentiu pressionada a também ser famosa?
Nunca senti essa pressão dentro de casa. Sempre tive total liberdade para escolher o que queria ser. Quando decidi ser atriz, tive respaldo, carinho e suporte. Obviamente, as pessoas, às vezes, têm uma expectativa sobre mim. Eu escutava muito: "Seu pai canta, sua irmã canta, todo mundo canta. Então você deve cantar também." Eu falava que não. Minha mãe não canta, então não necessariamente preciso ser afinada.

Você é mais reservada, mas é comum ver pessoas da sua família no noticiário. Já pediu que se preservassem mais?
Nunca. Somos diferentes. Por exemplo: sou extremamente pontual e chata com horários. A Wanessa [Camargo, cantora, irmã de Camilla] e meu pai [o cantor Zezé di Camargo] são mais relaxados com isso. Às vezes, mando uma mensagem no WhatsApp e eles demoram uma semana para me responder. Fico maluca. Eles lidam com a vida de forma diferente. Mas sabem do meu amor e de como os respeito como indivíduos.