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Modelo conta como quase morreu após quebrar crânio em 11 partes no shopping

Cris Leite, 49, sofreu um acidente na escada de um shopping; na foto, ela 30 dias após a queda - Arquivo pessoal
Cris Leite, 49, sofreu um acidente na escada de um shopping; na foto, ela 30 dias após a queda Imagem: Arquivo pessoal

Victoria Borges

Colaboração para Universa

14/07/2023 04h00

A vida de Cris Leite, 49, sofreu uma mudança radical após um grave acidente na escada de um shopping, que resultou em 11 fraturas em seu crânio.

Depois do longo período de recuperação, ela tomou coragem para abandonar uma carreira consolidada como dentista e seguir o antigo sonho de trabalhar com arte. Hoje, Cris é modelo e atriz e sente que o episódio foi um gatilho para resgatar sua essência.

A Universa, ela conta sua história.

"Nasci em São Paulo e fui para Campinas, no interior do estado, com 11 anos. Meu sonho sempre foi ser modelo e atriz. Tentei seguir nessa carreira diversas vezes, mas meu pai nunca apoiou. Então, me formei em odontologia.

Trabalhei por 25 anos como implantodontista. Era bem conceituada na área, dei aulas pelo Brasil inteiro e até fora do país. Eu trabalhava muito, era workaholic mesmo. O ritmo era insano, minhas filhas quase não me viam, eu mal ficava com a minha família, com a minha mãe.

Tudo mudou quando, em outubro de 2019, sofri um acidente durante um passeio no shopping: um homem caiu em cima de mim enquanto subíamos a escada. Bati a cabeça e meu crânio fraturou em onze partes

Acidente - Divulgação/Ford Models - Divulgação/Ford Models
Acidente deixou sequelas, como a redução do paladar
Imagem: Divulgação/Ford Models

Dali, me levaram para a Santa Casa de São Paulo, onde passei um mês internada. Só na UTI, em coma induzido, foram 10 dias. Em casa, fiquei mais um mês dormindo à base de remédios por recomendação médica. Eu precisava ficar parada para que os ossos se consolidassem novamente.

Não lembro de nada desse período. Tem gente que pergunta, mas eu não lembro de nada, não vi nada, não sei. A única coisa que eu lembro é da minha irmã perguntando se doía. Eu respondia para ela me deixar dormir. Eu sentia dor e queria dormir.

Como fraturei a cóclea [órgão do ouvido interno, na porção anterior ao labirinto], eu não tinha equilíbrio. Quando pude sair da cama, passei um tempo na cadeira de rodas e depois de muleta, enquanto fazia fisioterapia. Nesse tempo, tive um princípio de AVC gerado por uma dissecção na artéria direita e tive de passar com um neurocirurgião.

'Perdi o paladar'

O processo de recuperação durou seis meses. Perdi parcialmente o olfato e o paladar. Eu percebo o azedo, amargo, doce, salgado e apimentado, mas não os detalhes do sabor. Além disso, um lado do meu rosto é mais fundo e caído que o outro. Alguns fragmentos do osso também prensam o nervo que passa atrás da bochecha, então toda a parte esquerda é anestesiada.

Não perdi nada da minha habilidade motora, que é o que precisava na odontologia. Mas, depois que voltei a trabalhar, entrei em depressão. Dentro do meu coração, eu me perguntava por que isso tinha acontecido comigo. Tinha de ter um motivo. Eu não podia ter passado por tudo aquilo e me recuperado tão bem para voltar à mesma vida que eu tinha

Foi aí que lembrei de uma frase que diz: "Quando tudo estiver um caos, volte ao começo".

Na hora, entendi que precisava resgatar a minha essência. Sempre quis trabalhar com arte, mas por causa da falta de apoio do meu pai, não evoluí. Decidi que não podia continuar minha vida sem viver esse amor.

Cris - Divulgação/ Ford Models - Divulgação/ Ford Models
Cris passou a trabalhar como modelo, após acidente
Imagem: Divulgação/ Ford Models

Entrei em uma agência de modelos em Campinas e comecei fazendo pequenos trabalhos. Poucos meses depois, fechei com outras agências em São Paulo e passei a ganhar destaque, até que a Ford Models me chamou para trabalhar com eles, no final do ano passado.

Aos 49 anos, sinto que estou recomeçando minha vida. Tenho uma profissão nova, quero estar bonita não só para as marcas, mas para mim mesma. Tem gente que faz do limão uma limonada. Costumo brincar que fiz uma torta de limão para tomar com champanhe. Sinto que tudo aconteceu da forma certa, na hora certa.

Depois do acidente, decidi que não queria mais viver naquela loucura e fui em busca da minha essência. Quando a gente resgata o que está em nós, a felicidade transborda, as coisas ficam mais simples e a vida fica mais leve

Quero que minha história sirva de exemplo para outras mulheres seguirem seus próprios sonhos. As mulheres, principalmente as mais velhas, sentem que não podem muitas coisas, mas nós temos de ser do jeito que somos e que gostamos de ser. Nossa vida é tão curta, tão rápida. Temos de fazer aquilo que está no nosso coração.

Hoje, eu valorizo a beleza das coisas. Não tenho paladar, mas sinto prazer em comer só pela oportunidade de estar comendo. Posso estar mais perto das minhas filhas enquanto trabalho fazendo aquilo que eu quero. Hoje, sinto que sou puro amor."