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OPINIÃO

Opinião: Filme de mulher? Não, 'Barbie' também é para os homens

Margot Robbie como Barbie  - Reprodução/Twitter
Margot Robbie como Barbie Imagem: Reprodução/Twitter

De Universa, em São Paulo

20/07/2023 04h00

Eu sempre amei a Barbie e estava animadíssima para o lançamento do longa. Achava que me divertiria e daria boas risadas, bem ao estilo "Sessão da Tarde", mas me surpreendi. Dirigido e escrito por Greta Gerwig, o filme tem muita ironia e humor ácido, em sátira à sociedade e a como a mulher se encaixa (ou tenta se encaixar) em um mundo dos homens. E, sem clubismo, aquele texto só poderia ter sido feito por uma mulher — o que está longe de significar que seja voltado apenas para mulheres. Pelo contrário.

O filme teve a maior pré-venda de ingressos da história da Warner Bros. Brasil (o número não foi divulgado)

A Barbie Estereotipada, interpretada por Margot Robbie, começa a pensar sobre a morte e vê sua vida perfeita sucumbir: seu pé arqueado fica reto, ela tem vontade de chorar, sua coxa começa a ter celulite... Nada disso se encaixa no mundo perfeito da Barbielândia, onde mulheres são incríveis — e sabem disso. Por lá, o homem é só um coadjuvante.

Para que esses dilemas fossem solucionados, Barbie precisa ir para o Mundo Real. Ken a acompanha na jornada e isso é determinante para mudar o curso da história. Enquanto na Barbielândia as Barbies dominam da presidência ao Nobel e dão pouca bola para os Kens, em Los Angeles, ele encontra um mundo dominado pelos homens — e, obviamente, se encanta e quer replicá-lo em sua terra natal, onde essa lógica é invertida.

Seguindo o slogan "Você pode ser tudo o que quiser", as Barbies acreditam que, assim cono na Barbielândia, não há preconceito nem desigualdade contra mulheres, e sim que tudo é perfeito para elas também no Mundo Real. E, bom, não é nada disso, né?

A certa altura do filme, enquanto Ken olha deslumbrado para imagens de homens poderosos, a música de James Brown "It's A Man's Man's Man's World" ficou voltando à minha cabeça. Ele ficou hipnotizado pela possibilidade de os homens serem adorados e reverenciados, em vez de viverem à sombra das mulheres. E isso é repetidamente verbalizado por ele.

Aliás, todas as situações corriqueiras pelas quais as mulheres passam estão ali: homens fazem o que querem, sofrem assédio e importunação sexual e o comando de grandes empresas é dominado por homens — ainda que o foco dos produtos seja a mulher. Esses homens repetem tudo aquilo que a gente está cansada de ouvir: "não sou machista, tenho mãe", "nossa empresa é diversa, duas mulheres já foram presidentes" ou "o patriarcado continua, mas hoje a gente esconde melhor", quando Ken questiona por que não basta ser homem e é necessário ter um MBA para ocupar um cargo.

Quando você é mulher e já ouviu isso algumas vezes, a reação é grito, palmas e risos. Muitos deles, nervosos. Em Barbie, assuntos espinhosos são tratados de forma leve. As coisas estão melhorando para nós? Sim. Mas não quer dizer que estejam perto do ideal. E o discurso de America Ferrera, quase no final do filme, é digno de palmas. Toda mulher já teve aquela conversa internamente algum momento da vida. Eu realmente a aplaudi.

Barbie é um filme também para homens porque nós, mulheres, vamos nos divertir e nos identificar. Mas eles, com certeza, vão ser impactados e ter mais clareza dos clichês que estamos cansadas de ouvir e, assim, poderão se aliar à luta por nossos direitos e ao combate à desigualdade de gênero. Talvez, assim, a lacuna de 132 anos para que vivamos em condições realmente igualitárias se dê em menos tempo.