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'Me escondia em cova', diz mulher detida por jogar futebol no Brasil

de Universa, em São Paulo

25/07/2023 16h07

Se hoje comemoramos a goleada da seleção feminina de futebol na Copa do Mundo, que fez sua vitoriosa estreia na segunda-feira (24), há até 34 anos, a história no Brasil era outra. De 1941 a 1979, vigorou uma lei que proibia mulheres de praticar o esporte. Quem ousasse desobedecer ia presa.

"Sou da época onde existia a proibição do futebol feminino", conta Dilma Mendes em entrevista a Universa. "Morava no interior da Bahia e tinha entre 10 e 12 anos, não tinha entendimento da lei. Quando estava jogando, sempre vinham os policiais fardados e me levavam para a delegacia. Não me colocavam em cela, mas eu ficava de castigo numa cadeirinha", diz ela, que é treinadora da seleção feminina de futebol de 7 Sub-17 e foi eleita em 2022 como melhor técnica da categoria do mundo.

Mais jovem, ela teve que desenvolver diversas estratégias para conseguir jogar futebol.

"Cavei uma cova rasa próximo ao campo pra me esconder. Não tinha dinheiro, era de família humilde, mas vendia uns litros no ferro-velho para comprar geladinhos. Pagava o sorvete para os meninos e eles me avisavam quando o carro de polícia estava chegando. Daí eu saia correndo e me escondia na cova. Cresci cheia de estratégias. Acho que por isso sou uma boa treinadora hoje", disse.

Pieguice à parte, foi a paixão pelo esporte que a fez perseverar. "Ou eu matava um leão por dia ou viveria infeliz. Amava jogar futebol e, na época, não tinha uma estrutura sem discriminação. Ainda mais sendo uma mulher negra. Mas se, naquela época, eu fosse pensar em tudo isso, não faria o que eu mais gostava", conta.

Chamando a atenção

Já que as mulheres não podiam colocar chuteira, Dilma se tornou gandula para ficar perto do esporte. "Ficava na beira do campo só buscando as bolas. Aí eu as chutava longe para poder mostrar minhas habilidades, fazia embaixadinhas perto dos meninos. Quando um menino saía para beber água, me deixavam jogar. Mas era tão rápido que eu nem encostava na bola", conta. Até o dia que a oportunidade de jogar bola apareceu, e os meninos passaram a escolhê-la para seus times —nessa época, a proibição já tinha caído.

O Brasil deve muito a nós, mulheres, no futebol feminino. Porque nos tirou a oportunidade de realizar nossos sonhos. Eu não pensava em dinheiro, só queria ser atleta. Dilma Mendes, técnica da seleção feminina de futebol de 7 Sub-17

Na falta de mulheres, sua grande inspiração era Pelé. O grande sonho de Dilma não eram os troféus nem os prêmios em dinheiro, era ouvir o hino nacional. "Só consegui realizar esse sonho em 2019, como treinadora. Foi o maior troféu que eu já ganhei na vida", diz.

Seguem aqui os outros temas que foram destaque nesta edição do "Sem Filtro":

Profissão faz mãe perder a guarda do filho de 10 meses: "Arrancado de mim"

A comissária de bordo Josiane Lima, 29, perdeu a guarda de seu filho de dez meses porque, de acordo com a Justiça, sua rotina de trabalho era "difícil". Atualmente, a guarda provisória da criança pertence ao pai. "Muitas mulheres são demitidas após terem filhos, e aí acontece esse caso da mãe perder a guarda do filho porque está trabalhando. Não há dúvidas que isso tem a ver com machismo", diz Semayat Oliveira, jornalista e consultora do podcast "Mano a Mano".

"Equidade só vai acontecer quando houver equilíbrio nos Três Poderes", diz Cris Fibe

Existe uma pressão popular para que o presidente Lula (PT) indique uma mulher para a vaga de Rosa Weber no STF (Supremo Tribunal Federal), que se aposentará em outubro. "A equidade que a gente deseja só vai acontecer quando houver equilíbrio nos Três Poderes, inclusive no Judiciário", argumenta Cristina Fibe, jornalista, especialista em cobertura de gênero e colunista de Universa.

Zezé Motta: "Aprendi a arregaçar as mangas, não há tempo para lamúria"

No Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, Universa publica uma entrevista com Zezé Motta, que contou quando começou a estudar mais para se fortalecer e do racismo e combater a discriminação. Durante o "Sem Filtro", Semayat Oliveira, jornalista e consultora do podcast "Mano a Mano falou sobre a importância da data. "Se a vida da mulher negra melhorar, a vida de todo mundo vai melhorar. Essa é uma data para celebrar e repensar os caminhos do nosso país pela perspectiva de mulheres negras."

Assista ao Sem Filtro

Quando: às terças e sextas-feiras, às 14h.

Onde assistir: no YouTube de Universa, no Facebook de Universa e no Canal UOL.

Veja a íntegra do programa: