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'Fim de semana é para descansar, não fazer faxina', diz organizadora da TV

de Universa, em São Paulo

31/07/2023 04h05

Cora Fernandes é apresentadora do programa "Menos É Demais", do Discovery Home & Health, e trabalha colocando a bagunça dos outros no lugar. Ela se divide entre as gravações de TV, seus clientes e sua loja, onde vende produtos de organização. Em entrevista a Universa, Cora lembrou dos primórdios da carreira e compartilhou sua principal dica para pôr a vida em ordem.

Universa: Tem alguma dica de organização que você sempre aplica? A sua preferida?
Cora Fernandes: Desapegar e tirar da frente aquilo que não usa. É o primeiro pilar da organização. Isso vai te ensinar a reconhecer o que vale manter ou não. Tudo tem que caber em seu espaço, a casa fica com mais harmonia e você começa a reconhecê-la. Durante a pandemia, a contratação de profissionais da organização duplicou, porque as pessoas não se entendiam dentro de suas próprias casas, pois tudo era organizado de acordo com os profissionais que estavam dando apoio no dia a dia. Tudo funciona quando a gente desapega.

E dica para desapegar, tem?
É um processo complicado. Minha dica é: olhe ao seu redor. Você está feliz com o que está vendo? Se tem uma reunião de trabalho, consegue encontrar tudo o que precisa? Se você tem facilidade para desapegar, ótimo. Se não tem, é necessário rever o comportamento. Porque o espaço para guardar nunca muda. Se tiver coisas demais, não vai caber. Costumo dizer que com organização você ajeita todas as áreas de sua vida. A amorosa, porque tem mais tempo para ficar com seu marido, por exemplo. A de lazer, porque em vez de passar o final de semana organizando, tudo já está em seu lugar. Sábado e domingo são para descansar, não para fazer faxina. Deus me livre. A organização vem para isso, para nos programarmos.

Você sempre gostou de organização?
Minhas coisas estavam sempre no lugar e era motivo para a minha mãe me elogiar. Sempre gostei de ter controle. Eu era um pouquinho descontrolada com compras, mas quando casei e a minha casa tinha cinco pessoas --eu, meu marido e meus três filhos--, entendi que cada um precisava ter um cantinho organizado. Foi aí que comecei a me perceber como uma profissional da organização. Desde os nove anos eu já arrumava o guarda-roupa das minhas amigas de escola. Acho que a profissão nasceu comigo.

Você já contou que uma amiga falou sobre a profissão e assim teve um estalo. Como foi essa conversa?
Era uma colega de trabalho. Comentei que não gostava da minha casa bagunçada e ela, que era muito ligada nas redes sociais, me mostrou aquele boom de organizers que tinham começado a postar o resultado de seus trabalhos na casa dos famosos. Essa colega me perguntou: "Por que você não faz isso?". E acendeu uma luz. Comecei a entender mais da profissão e no outro dia já tinha decidido que era isso que eu faria. Na mesma semana pedi demissão.

Foi rápido assim?
Sim. Sempre fui uma pessoa indecisa. Conversei com meu marido, porque nós dois trabalhávamos e tínhamos duas rendas. Ele sugeriu que eu continuasse no trabalho até me adaptar à nova ideia e me firmar. Mas eu, teimosa, disse não. Pedi a opinião dele sabendo o que queria, que ser organizer era o meu destino. Aquilo bateu muito forte em mim, não conseguia esperar. Passei por maus bocados, pois não me programei para nada. Então usei todas as minhas energias para crescer na profissão.

Que tipo de perrengue você enfrentou?
De grana. Tínhamos duas rendas e o que eu tinha para receber pela empresa após a demissão não era muito. Usei o dinheiro para ir de São Paulo, onde moro, até o Rio de Janeiro para arrumar o closet da atriz Sheron Menezzes, a primeira famosa que me contratou. Precisei recalcular minha rota, porque sair de um trabalho é complicado em uma família. Não tínhamos renda alta e morávamos de aluguel --aliás, moramos até hoje. Tirar a renda repentinamente foi complicado.

E como você chegou à casa das globais?
Uma coisa puxa a outra. Na época, eu não entendia como as outras organizers, que estavam em evidência, chegavam até as famosas. E pensei: "Bom, o Instagram é a ferramenta que eu tenho. Vou entrar em contato por ali e mandar e-mail para essa galera". Uma amiga fez uma apresentação bem legal do meu trabalho e começamos a mandar para as assessorias de famosas. Até que a Sheron me respondeu. E foi dando certo. Fiz uma relação de todos os e-mails e fui escrevendo para as agências, me apresentando.

E quando você percebeu que tinha dado certo?
Me sinto no caminho, ainda. A vida é uma loucura, cheia de reviravoltas. Toda hora penso que acertei, mas nunca sei se acertei mesmo, porque cada momento é um aprendizado. Ainda erro muito.

Cora Fernandes - Kelly Fuzaro  - Kelly Fuzaro
Cora Fernandes: desapegar para organizar
Imagem: Kelly Fuzaro

Você já chegou para trabalhar e desistiu porque a bagunça era demais?
Não e não dá para recusar. Sou a profissional para qualquer bagunça que vier. Alguma coisa vou conseguir plantar para aquela família. Até com clientes mais resistentes, que dizem logo no começo que não têm nada para desapegar, acabo conseguindo mostrar, com olhar clínico, que algumas coisas não são legais. Ou questiono de quais itens ela gosta mais e pergunto onde vão ficar as peças que não entraram na lista de queridinhas. No processo de organização, não há espaço para o que sobra: nem na sua casa e nem na sua vida.

Como rolou o convite para o programa de TV?
Me chamaram para um teste. Fui lá, fiz e passei. E estou na segunda temporada de "Menos é Demais". Já tinha participado como especialista de um outro programa de TV e foi uma experiência bacana. Achava que não teria a chance de fazer um segundo, ainda mais tão grande assim, como apresentadora. Costumo dizer que tudo o que profetizo acontece em minha vida. Isso é energia. Às vezes, fico sonhando em conversas com meu marido e digo: "Já pensou?". Muitas vezes falei em ser apresentadora de TV.

Ficou nervosa com o desafio?
Não, porque quero que todo mundo tenha a chance da organização. Quando comecei, em 2016, era um serviço para quem tinha dinheiro. Mas é mais simples do que isso. Quando falamos com simplicidade, de modo didático, as pessoas entendem melhor. Meu objetivo é levar a organização para todos. Não importa quem você é, onde mora, se tem closet. Organização tem que caber dentro do espaço de cada um. Meu apartamento tem 70m² e aproveito o espaço ao máximo. Estar na televisão é mostrar isso. Você pode amar mais suas coisas, amar mais sua casa e preservar aquilo que Deus deu.