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'Fotos do pênis': mulheres acusam maître de churrascaria famosa de assédio

Fazenda Churrascada São Paulo; restaurante disse que funcionário foi demitido  - Reprodução/Instagram
Fazenda Churrascada São Paulo; restaurante disse que funcionário foi demitido Imagem: Reprodução/Instagram

Simone Machado

Colaboração para Universa, em São José do Rio Preto (SP)

03/08/2023 10h47Atualizada em 04/08/2023 19h15

Cinco ex-funcionárias de um restaurante de alto padrão, no Morumbi, em São Paulo, acusam um maître de assédio sexual. Segundo os relatos, o homem insistia para que elas saíssem com ele, pedia fotos e chegou a passar a mão nas partes íntimas de algumas das vítimas.

O maître trabalhava no restaurante Fazenda Churrascada São Paulo, onde os assédios teriam acontecido. O estabelecimento afirma que, após tomar conhecimento das acusações, demitiu o funcionário.

As mulheres entraram com um processo trabalhista contra o restaurante. No mês passado, uma das sentenças determinou indenização de R$ 60 mil a uma das vítimas, Juliana (nome fictício).

Ela trabalhou no restaurante por cinco meses, durante o ano passado, como temporária. Segundo ela, o assédio sexual, começou no segundo mês de trabalho.

"Eu percebi que, desde o começo, ele me olhava de maneira diferente, com malícia, mas fingia não ver. Até que um dia ele me perguntou se meu marido estava em casa e eu desconversei. Ele insistiu e pediu para que eu enviasse nudes para ele, mas eu disse que não gostava desse tipo de coisa."

Ainda segundo a mulher, as investidas do maître não pararam por aí. Ela relata que mesmo tentando afastar o homem, ele a assediava sempre que tinham qualquer diálogo. Até que um dia ela recebeu fotos dele nu.

Ele me mandou uma foto do órgão genital dele e perguntou se eu havia gostado. Fiquei em choque quando vi a mensagem e não respondi. Em seguida ele mandou um vídeo dele tomando banho.

Com medo de ser demitida, Juliana conta que não contou a situação para os donos do local, já que o maître era seu supervisor. Mas ela relata que muitos dos assédios aconteceram em frente às câmeras de monitoramento do restaurante.

"Teve uma vez que eu estava segurando uma bandeja, de costas, e ele veio em minha direção e me deu um tapa na bunda, eu me senti podre após esse episódio."

Ainda segundo a ex-funcionária, após não corresponder às diversas investidas do gerente, ela deixou de ser chamada para trabalhar no local. Em seguida, a mulher procurou um advogado e entrou com uma ação judicial contra o estabelecimento comercial relatando o assédio sexual sofrido e pedindo reconhecimento do vínculo empregatício.

Mais relatos

Juliana não foi a única mulher que buscou a Justiça após os supostos assédios. Mariana (nome fictício) também afirma ter sido vítima do homem durante os cinco meses que trabalhou no local.

Também atuando de maneira freelancer no restaurante, ela afirma que, desde o primeiro dia de trabalho, o maître passou a chamá-la para sair.

"Ele falava que queria sair comigo e que me buscava após o trabalho. Eu sempre o ignorava e cortava as investidas dele. Mas ele não se importava, seguia com os convites e os assédios", conta.

Ainda segundo a jovem, o homem não se importava com a presença de outras pessoas durante as investidas e chegava a propor que as funcionárias saíssem com ele em trisal.

"Todo mundo ficava desconfortável com a situação. Porém, precisávamos de emprego, então íamos levando a situação como dava."

A reportagem teve acesso a um print de mensagens que o maître teria enviado a uma das vítimas. Na conversa é possível ver que o homem chama a funcionária de "amor" e "vida".

print - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Print de suposta conversa entre o maître e uma funcionária
Imagem: Arquivo Pessoal

Outras três mulheres também entraram com ação judicial relatando os supostos assédios sofridos. Com medo, elas não quiseram dar entrevista sobre o caso.

O advogado das vítimas, Vitor Moya, afirma que o número de mulheres que podem ter sofrido assédio sexual no local é ainda maior.

"Outras quatro mulheres já me procuraram relatando que também sofreram assédio sexual e pretendem entrar com ação judicial. Os relatos são todos semelhantes", afirma o advogado.

O que diz o restaurante

A reportagem procurou o restaurante Fazenda Churrascada São Paulo, que explicou que fez o desligamento do funcionário assim que tomou ciência do caso. Veja a nota:

A Fazenda Churrascada São Paulo informa que assim que teve conhecimento da ação tomou imediatamente todas as medidas necessárias para o afastamento e desligamento do funcionário do quadro de colaboradores.

Salientamos que a FC repudia veementemente qualquer prática de abuso ou discriminação e que conta com o Código de Ética e Conduta, que é de conhecimento de todos os funcionários, incluindo o canal direto de denúncias "Comunicação de portas abertas", com objetivo de garantir que qualquer funcionário possa registrar uma denúncia de forma segura e confidencial.

Nesse sentido, enfatizamos que o canal nunca teve qualquer registro de denúncia do caso mencionado, e que a empresa tomou conhecimento da denúncia pela justiça.

Já o homem acusado de assédio disse que foi desligado da empresa e não pode comentar o caso. "A orientação do meu advogado é aguardar todos os trâmites do processo na Justiça."

A violência sexual contra a mulher no Brasil

No primeiro semestre de 2020, foram registrados 141 casos de estupro por dia no Brasil. Em todo ano de 2019, o número foi de 181 registros a cada dia, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Em 58% de todos os casos, a vítima tinha até 13 anos de idade, o que também caracteriza estupro de vulnerável, um outro tipo de violência sexual.

Como denunciar violência sexual

Vítimas de violência sexual não precisam registrar boletim de ocorrência para receber atendimento médico e psicológico no sistema público de saúde, mas o exame de corpo de delito só pode ser realizado com o boletim de ocorrência em mãos. O exame pode apontar provas que auxiliem na acusação durante um processo judicial, e podem ser feitos a qualquer tempo depois do crime. Mas por se tratar de provas que podem desaparecer, caso seja feito, recomenda-se que seja o mais próximo possível da data do crime.

Em casos flagrantes de violência sexual, o 190, da Polícia Militar, é o melhor número para ligar e denunciar a agressão. Policiais militares em patrulhamento também podem ser acionados. O Ligue 180 também recebe denúncias, mas não casos em flagrante, de violência doméstica, além de orientar e encaminhar o melhor serviço de acolhimento na cidade da vítima. O serviço também pode ser acionado pelo WhatsApp (61) 99656-5008.

Legalmente, vítimas de estupro podem buscar qualquer hospital com atendimento de ginecologia e obstetrícia para tomar medicação de prevenção de infecção sexualmente transmissível, ter atendimento psicológico e fazer interrupção da gestação legalmente. Na prática, nem todos os hospitais fazem o atendimento. Para aborto, confira neste site as unidades que realmente auxiliam as vítimas de estupro.