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Aos 18, ela identificou 9 asteroides. 'Na escola pública, olhava o céu'

Prêmio Inspiradoras: Ana Beatriz é finalista na categoria Mulheres na Ciência - Mariana Pekin/UOL
Prêmio Inspiradoras: Ana Beatriz é finalista na categoria Mulheres na Ciência Imagem: Mariana Pekin/UOL

de Universa, em São Paulo

04/08/2023 04h00

Ana Beatriz Rodrigues Carvalho tem só 18 anos, mas já prestou uma contribuição importante para a ciência. No ano passado, ela identificou nove asteroides. O feito se deu enquanto participava de um programa promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), em conjunto com o International Astronomical Search Collaboration (IASC/Nasa Partner), em Brasília (DF).

Além da identificação dos corpos celestes, a investigação é relevante para que se possa impedir a colisão de um asteroide contra a Terra.

"A Nasa estima que, a cada 100 mil anos, deve cair na Terra um asteroide do mesmo tamanho e da mesma proporção daquele que matou os dinossauros", afirma Ana Beatriz, que concorre ao Prêmio Inspiradoras 2023 na categoria Mulheres na Ciência. Ela é aluna da graduação em física e matemática da Universidade de Campinas (Unicamp). Além disso, já fez 43 cursos nas áreas de física e astronomia.

"Meu sentimento é de estar, literalmente, contribuindo para a ciência."

Prêmio Inspiradoras | Categoria: Mulheres na Ciência

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Mariana Pekin/UOL
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Agora é esperar para batizar asteroides

Batizado de Caça Asteroides, o programa do qual Ana Beatriz participou tem o objetivo de popularizar a ciência e atrair voluntários para participar de descobertas astronômicas originais. Isso é feito por meio de análise de imagens flagradas por um telescópio da Nasa localizado no Havaí.

Os cientistas voluntários, como Ana Beatriz, têm acesso às imagens. Por meio de um software utilizando informações cruzadas, vídeos e gráficos, enviam relatórios sobre os corpos celestes detectados para análise da agência espacial americana.

Ao analisar o material, a estudante fez 76 marcações do que acreditava serem possíveis asteroides. Uma semana após enviar seu relatório aos especialistas do programa, ela recebeu o retorno, confirmando que nove se encaixavam na categoria.

Agora ela aguarda uma nova confirmação, para saber se as descobertas são inéditas ou se alguma outra pessoa já havia identificado os mesmos corpos celestes.

Ainda que não sejam novas, as detecções sempre podem contribuir para completar um trabalho de pesquisa que já está sendo realizado. Ana

Se, por outro lado, for confirmado que ela é realmente a pioneira nas descobertas, a jovem cientista ganha o direito de batizar o asteroide.

"É difícil olhar para o lado e não ver ninguém parecido comigo"

As conquistas da estudante têm servido de exemplo para outras meninas que também pretendem se dedicar à ciência. É o caso de Júlia Lopes, 20, que terminou o ensino médio em 2021 e está se preparando para tentar uma vaga na graduação em física numa universidade dos Estados Unidos.

Também participante da caça aos asteroides, Júlia teve Ana Beatriz como líder da equipe. "Ela nos incentivava a pesquisar e enviar os materiais nas datas certas. Como já havia participado de outros projetos, foi uma guia importante", conta.

A garota é uma das cerca de 1.100 pessoas que seguem Ana Beatriz no Instagram e aproveitam as dicas que ela compartilha por lá. "Ela divide informações sobre cursos, livros e projetos. Isso é bom porque, muitas vezes, não sabemos onde encontrar oportunidades para nos desenvolvermos", afirma.

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Prêmio Inspiradoras: Ana Beatriz é finalista na categoria Mulheres na Ciência
Imagem: Mariana Pekin/UOL

Ana Beatriz sabe a importância de ter alguém que incentive uma menina a se dedicar à ciência. Quando estava no Ensino Médio, dois professores notaram o gosto da garota pela astrofísica. Recomendaram, então, que passasse a olhar mais para o céu, a partir da quadra da escola pública onde estudava, na zona leste de São Paulo. "Eles me ensinaram a diferenciar uma estrela de um planeta e foi sensacional", conta.

Apaixonada pelo que começou a ver, decidiu que esta seria sua carreira. Passou a pesquisar e frequentar cursos livres sobre o tema e está determinada a driblar os desafios por não ter dinheiro para custear os estudos. Para bancar custos com viagens, como a ida à Brasília para participar da caça aos asteroides, organiza rifas.

"Sou a única da minha classe que veio de escola pública. É difícil olhar para o lado e não ver ninguém parecido comigo. Por isso, pretendo continuar inspirando outras mulheres como eu a ocupar este espaço."

O Prêmio Inspiradoras é uma iniciativa de Universa e Instituto Avon, que tem como missão descobrir, reconhecer e dar maior visibilidade a mulheres que se destacam na luta para transformar a vida das brasileiras. O foco está nas seguintes causas: enfrentamento às violências contra mulheres e meninas e ao câncer de mama, incentivo ao avanço científico e à promoção da equidade de gênero, do empoderamento econômico e da cidadania feminina.