Após sair da prostituição, ela defende direitos de trabalhadoras sexuais
Mulheres que vivem em situação de prostituição estão entre os grupos mais vulneráveis à violência. Ao mesmo tempo, para ter acesso ao sistema legal e de saúde, quase sempre enfrentam uma série de desafios. O primeiro deles é o preconceito.
É nesse contexto que a Associação Agentes da Cidadania —Coletivo Mulheres da Luz— acolhe trabalhadoras sexuais na região do Parque da Luz, no centro da capital paulista.
Fundada por Cleone dos Santos, que morreu em maio, aos 65 anos, hoje a ONG é liderada por Thamiris dos Santos, 33, finalista do Prêmio Inspiradoras na categoria Conscientização e Acolhimento.
"Nosso principal objetivo é ouvir as mulheres atendidas e desenvolver, em conjunto com elas, projetos e atividades para amenizar as dificuldades do dia a dia", diz Thamiris.
Entre as medidas práticas do coletivo estão o encaminhamento e acompanhamento das mulheres aos serviços de saúde, distribuição de preservativos e orientações sobre autocuidado e prevenção. Para isso, têm parcerias com médicos e outros profissionais de saúde.
Semanalmente, o coletivo atende cerca de 150 mulheres, distribui 700 preservativos masculinos, 300 preservativos femininos e 700 embalagens de gel lubrificante. Além disso, também promove ações de educação, cultura e oficinas de costura e outros trabalhos para aquelas que desejam trocar de ofício.
"A maioria das mulheres que está ali [na região do Parque da Luz] é arrimo de família. Muitas são avós que sustentam filhos e netos. E todas têm alguma história de violência", afirma Thamiris.
Prêmio Inspiradoras | Categoria: Conscientização e Acolhimento
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Thamiris passou anos sendo preparada por Cleone para assumir o coletivo. As duas se conheceram há duas décadas, atuando como militantes em movimentos sociais da região do ABC (SP) ligados às causas dos trabalhadores e, sobretudo, dos direitos das mulheres.
No fim da adolescência, Thamiris enfrentou dificuldades financeiras e acabou em situação de prostituição. Foi Cleone, que já havia estado nas mesmas condições, quem a acolheu e a convidou a fazer parte do coletivo.
"Ela foi minha mãe, companheira, professora e conselheira", diz Thamiris, que ainda passou algum tempo em situação de prostituição mesmo depois de conhecer o coletivo. Hoje, além da coordenação da instituição, Thamiris é estudante de graduação em assistência social e gestão pública.
Uma mulher de presença
A presidente e coordenadora de comunicação do Geledés Nilza Iraci, 73, já trabalhava em ações sociais junto com o Coletivo Mulheres da Luz quando conheceu Thamiris, durante a pandemia. Foi em uma das atividades promovidas pela ONG ainda sob coordenação de Cleone.
"Apesar da timidez, eu sempre vi um potencial enorme ali", conta. Aos poucos, o que era só uma percepção foi se comprovando como fato. A timidez, na verdade, era calma, atributo que, Nilza nota, faz diferença no trato com as atendidas pelo coletivo.
"Esse é o diferencial da Thami: ela tem presença, mas ela é discreta."
"Estou te preparando"
É impossível falar do coletivo Mulheres da Luz sem lembrar da história de sua fundadora, Cleone dos Santos. Antes de montar a ONG, ela viveu 18 anos em situação de prostituição.
Dedicou a maior parte dos 65 anos de vida à luta por direitos humanos, principalmente àqueles relacionados a causas femininas.
Quando morreu, além da atuação no coletivo, era coordenadora de Políticas Públicas para Mulheres de Diadema, na Grande São Paulo. Como boa liderança que era, fez questão de preparar sua sucessora ao longo do tempo. "Ela dizia: 'você pensa que isso vai ser barato assim? Você pensa que estou fazendo isso à toa? Estou te preparando'", conta Thamiris.
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