Com tranças, ela mudou a cara do Pelourinho. 'Antes, era só cabelo alisado'
Na região do Pelourinho, no centro histórico de Salvador (BA), dezenas de mulheres ganham a vida trançando os cabelos de turistas. Há uma mulher que está entre as principais responsáveis por essa cena: a cabeleireira Negra Jhô. Nos anos 1980, ela chegou ali, vinda do interior do estado, em busca de algo que não achou.
"Pensei que ia encontrar a cidade num boom afro, todo mundo de turbante, de black. Mas não tinha nada disso. Vi um povo de cabelo alisado, tudo meio cinza", lembra.
A frustração, no entanto, não afastou Jhô, que concorre ao Prêmio Inspiradoras na categoria Empoderamento Econômico, dos seus objetivos. Ela colocou um banco na escadaria da Fundação Jorge Amado e passou a oferecer seus serviços de trancista. Logo conquistou não apenas uma legião de clientes, como passou a servir de exemplo para outras mulheres —ela fez questão de ensinar a técnica para as novas colegas.
Agora, a baiana já perdeu a conta de quantas mulheres ajudou a conquistar autonomia financeira em diversas áreas, sobretudo na estética afro. Atualmente, forma trancistas que vivem no sistema prisional e organiza a Feijoada da Negra Jhô. O evento, que está na 14ª edição, reúne, além de profissionais da cozinha, músicos e outros artistas. Parte dos trabalhadores está ali para aprender algum ofício.
Além disso, ela é criadora do Instituto Kimundo, organização que trabalha na preservação e valorização da identidade e autoestima de crianças e adolescentes negras de Salvador. Lá, promove oficinas, exposições e ações em parceria com outras organizações sociais, escolas, faculdades, comunidades quilombolas. Também tem atuação em importantes grupos de cultura baiana, como o Bloco Afro & Escola Olodum, os Filhos de Gandhy, o Ilê Aye e a Banda Didá, entre outros.
Prêmio Inspiradoras | Categoria: Empoderamento Econômico
Enquete encerrada
Total de 2590 votosEnsinando a trançar, levantando mulheres consigo
Jhô é mais do que uma multiplicadora de um ofício. Ela é uma grande referência em cultura afro em Salvador. E, muito antes das redes sociais e das hashtags, já praticava sororidade e influenciava outras mulheres a se apropriarem da beleza.
Durante anos, foi responsável por cuidar dos looks das candidatas ao título de Deusa do Ébano, no concurso Beleza Negra, promovido pelo bloco Ilê Ayê. Trata-se de uma competição em que mulheres pretas de até 30 anos colocam em disputa não só atributos estéticos (fora do padrão eurocêntrico), mas o domínio da cultura negra, da dança e da história africanas.
Gerusa Menezes conheceu Jhô, em 1993 e foi trabalhar com ela trançando cabelos na escadaria. Em seguida, resolveu participar do concurso e Jhô ficou responsável por seu figurino e maquiagem. Conquistou o título.
"Jhô já trabalhava com a autoestima da mulher negra desde que chegou na cidade", diz ela, que hoje tem seu próprio salão no bairro da Liberdade, vizinho à sede do Ilê.
Vida, força e resistência
Negra Jhô não esconde que gosta de ser vista. Diz que chamar atenção pelo que se é de verdade é o melhor que pode acontecer a alguém. E tem convicção de que todas as suas conquistas devem ser divididas.
Quando eu abro uma porta, sempre deixo aberta, para que outra venha atrás e avance comigo também. Negra Jhô
Durante a pandemia, Jhô fez lives e ministrou cursos para quem estava em situação de vulnerabilidade. No Instituto Kimundo, trabalha perto de pessoas com depressão, promovendo o resgate da autoestima.
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