Física combate fake news e aproxima ciência do cotidiano nas redes sociais
A doutora em física Gabriela Bailas, 32 anos, mais conhecida como Bibi Bailas, chega a alcançar 50 milhões de visualizações em vídeos que posta nas redes sociais. Só no Instagram, a gaúcha natural de Bagé (RS) conta com 300 mil seguidores. Já em seu canal no YouTube, batizado de "Física e Afins", são 400 mil inscritos.
Nos dois espaços, ela desmistifica temas científicos, aproximando-os do dia a dia dos seguidores. "Tento mostrar que a ciência está em tudo. Não conseguimos perceber porque a estrutura educacional no ensino médio é focada em quantidade de conteúdo", diz Gabriela, finalista do Prêmio Inspiradoras 2023 na categoria Mulheres na Ciência.
Gabriela também combate a chamada pseudociência. A física já fez vídeos para falar de temas como "thetahealing", apontada como uma técnica energética capaz de quebrar crenças limitantes, e constelação familiar, terapia alternativa que atribui problemas pessoais a conflitos familiares não resolvidos.
"Falar sobre esses assuntos no campo da fé individual, tudo bem. Mas não se pode dizer que isso é ciência ou tem física quântica envolvida, como fazem", explica Gabriela.
No Brasil, a constelação familiar tem sido usada em processos jurídicos para criminalizar e punir mulheres em disputas familiares. Há casos graves, como o de quem sofreu violência doméstica, mas acaba passando de vítima a ré por argumentos tirados de sessões de constelação.
A prática tem sido usada para fazer com que a mulher peça perdão ao abusador. Isso é violência de gênero. Gabriela
No ano passado, a física respondeu a um chamado da Organização das Nações Unidas (ONU) para que fossem enviados relatos de problemas no Brasil a serem verificados pelo órgão internacional. Junto com outros três colegas, Gabriela escreveu um documento sobre o tema. Em outubro, a ONU publicou um artigo sobre o assunto, reconhecendo se tratar de prática que coloca em risco a segurança de mulheres e crianças.
Antes disso, em março do ano passado, a cientista também participou de audiência pública promovida pela Comissão de Assuntos Sociais do Senado. Seu desejo agora é que o tema seja discutido num projeto de lei no Congresso.
Prêmio Inspiradoras | Categoria: Mulheres na Ciência
Enquete encerrada
Total de 7623 votosPopularizando a ciência
Gabriela passou a produzir conteúdo para o YouTube em 2016, quando fazia doutorado na França. O canal que ela criou se chamava "França e Afins" e o objetivo era falar sobre cultura, a experiência de viver no país, além de dar dicas sobre como estudar fora do Brasil.
Dois anos depois, ela mudou o nome para "Física e Afins", que se tornou popular ao explicar a ciência por trás de vídeos que viralizaram na internet. Num deles, a pesquisadora mostrava sua reação frente a uma discussão entre uma psicóloga e um homem que se dizia coach quântico.
"Bibi é uma inspiração. Ela ajuda as pessoas a desenvolver o pensamento crítico, alertando contra as más práticas", diz a nutricionista Lorella Barbi, que é pesquisadora na Universidade de Lisboa e divulgadora de ciências no Instagram.
Para a colega, Gabriela tem ainda outro mérito: o de ser um exemplo de mulher na ciência, ocupando um espaço importante na sociedade e servindo de inspiração para outras. Hoje, o "Física e Afins" é conhecido como o maior canal de divulgação científica criado e produzido por uma mulher.
Assim como a Bibi, Lorella também sente na pele a discriminação. "A ciência é um meio praticamente dominado por homens. A mulher precisa se posicionar três vezes mais para ser ouvida", afirma.
De volta ao Brasil com planos para educação
Atualmente, a pesquisadora vive no Japão, mas está arrumando as malas para voltar ao Brasil junto com o marido japonês e o filho Umi, que nasceu em março. Na bagagem, transporta também muito estudo, pesquisa e experiências, como a de ter feito pós-doutorado e trabalhado no High Energy Accelerator Research Organization, o maior laboratório de física de partículas do Japão.
Além do Japão e da França, onde conquistou o título de doutora, Gabriela também passou por Portugal, o primeiro país onde estudou fora do Brasil. Na época, estava na graduação na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e conseguiu uma bolsa para estudar na Universidade de Coimbra, conquistando diploma pelas duas faculdades.
A pesquisadora, no entanto, quase desistiu de seguir o caminho das ciências exatas aos 14 anos, quando estava num curso técnico em eletrônica. Na turma, só havia Gabriela e mais três garotas. "No primeiro ano, o professor me fez uma pergunta e eu não sabia a resposta. E ele falou: 'Está vendo? É por isso que mulher não tem que estar aqui, tem que fazer corte e costura'. Aquilo me deixou arrasada, mas meus pais me incentivaram a não desistir", conta.
Agora, o plano é inaugurar uma escola no Brasil que ensine ciência desde o ensino infantil.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.