Ativista forma lideranças para atuar na luta contra violência e racismo
Lúcia Xavier, 64 anos, passou a lutar por direitos bem cedo. Aos 18, já participava de ações culturais e políticas relacionadas ao enfrentamento do racismo. Hoje, a finalista do Prêmio Inspiradoras na categoria Justiça para Mulheres é coordenadora da ONG Criola, no Rio de Janeiro (RJ), que organiza a agenda sobre antirracismo para melhorar o acesso à Justiça pela população negra.
Em abril de 2022, participou do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, em que discursou sobre a violência racial no Brasil e a vulnerabilidade de mulheres negras. E foi, há 10 anos, uma das ativistas que ajudou a difundir e criar uma reflexão sobre a consciência negra, culminando no feriado facultativo nacional celebrado no dia 20 de novembro.
No começo dos anos 1980, Lúcia fez parte do grupo "Acorda Crioulo". Durante a faculdade, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, participou do Instituto de Pesquisa das Culturas Negras. Ainda no início de sua formação, começou a fazer um trabalho com meninas e mulheres negras como facilitadora em uma instituição que tinha um espaço de cuidado de crianças e adolescentes. "Foi ali que fui me aprofundando mais nas questões dessa população".
"Passei a ter um entendimento político da situação das crianças. O fato dos pais terem trabalhos como o de cortadores de cana trazia muitas dificuldades para elas", diz a ativista. Lúcia Xavier se via nesse ambiente. Ela morou com as duas irmãs em um cômodo simples, enquanto a mãe passava o dia trabalhando em uma loja.
É no trabalho na defesa do direito das crianças que ela desperta para a realidade das meninas. "Eram formadas em profissões subalternas, voltadas para o cuidado. Cursos de manicure, cabeleireiro, culinária. Para os meninos, eram oferecidos outros tipos de atividades, com algum nível de administração"
Nessa época, Lúcia começou a ter mais contato com crianças que moravam nas ruas do Rio de Janeiro. "Percebi que é uma questão geracional. Mulheres mais velhas tinham passado pela mesma situação das filhas e filhos."
Assim, em 1985, trabalhou em uma iniciativa voltada para crianças moradoras de rua na Rocinha.
Olhava para o cuidado dessas meninas, mas também trazia debates políticos do movimento negro, o movimento feminista, o das mulheres negras.
Prêmio Inspiradoras | Categoria: Justiça para Mulheres
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Total de 70882 votosUma liderança em rede
A ONG Criola surgiu em 1992, como uma organização fundada e dirigida por mulheres. "Articulamos mulheres, lideranças comunitárias, lideranças religiosas, intelectuais e jovens. Também atuamos para construir, fortalecer, deliberar e cobrar políticas públicas que garantam os direitos das mulheres", afirma Lúcia Xavier. É dessa maneira que a ativista cria um trabalho com foco no enfrentamento à violência, levando em consideração o racismo como base das agressões.
"Atuamos na área da defesa do direito à saúde, integridade física e moral dessas pessoas. Queremos uma justiça mais eficiente para elas e focamos em tirar essas mulheres da situação de vulnerabilidade."
O papel da ONG Criola é de ajuda e conscientização. A entidade oferece e distribui cestas básicas para as famílias, mas também informa e cadastra as mulheres e meninas em programas governamentais, para que tenham acesso aos seus direitos.
A ONG forma e cria pequenas lideranças, cuja importância é disseminar, em suas comunidades, maneiras de se mobilizar socialmente. A partir do trabalho em rede, a ONG Criola chegou a atingir 11 mil famílias.
Durante a pandemia, a ONG Criola fez um monitoramento de direitos (Observatório de Direitos Humanos Crise e Covid-19), que exigia a democratização do acesso à saúde e a recursos necessários para preservar a vida e enfrentar desigualdades e discriminações.
A ONG Crioula produz estudos, pesquisas e análises sobre as condições de vida das mulheres negras para a mobilização da sociedade. Oferece assessoria técnica para instituições públicas e privadas, monitora as políticas voltadas às mulheres negras e promove ação política junto às instituições públicas e privadas.
Lúcia Xavier percebe a força de seu trabalho em casos que acompanha de perto. "Tem uma liderança que perdeu o filho para a violência e começou a trabalhar com a gente. Recentemente, ela perdeu outro filho, pelo mesmo motivo. Achamos que ela desistiria, mas ela entende que precisa continuar. Que mais mulheres não podem passar pelo que passou", explica. Há, ainda, o caso de uma garota que chegou ainda criança para fazer formação na ONG.
Estava sempre estudando, mas os pais queriam que ela começasse a trabalhar. Insistimos para que deixassem ela fazer a formação. Ela estudou em uma faculdade pública e, hoje em dia, é advogada. É um trabalho de formiguinha, mas que vale a pena.
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