Pedagoga usa redes para levar informações sobre autismo a mulheres negras
Quando estava grávida da segunda filha, a pedagoga paulistana Luciana Viegas recebeu o diagnóstico de que seu filho, Luiz, era autista. Ao acompanhá-lo em exames e sessões de terapia, descobriu que ela também tinha características de autismo. Antes de ter a confirmação, passou por questionamentos de profissionais. "Por uma série de estereótipos, eu não correspondo à imagem do autista", afirma.
Em 2020, aos 25 anos, finalmente teve o diagnóstico confirmado e, sentindo necessidade de contar sua história, criou o perfil "@umamaepretaautistafalando", no Instagram. Hoje ela já tem mais de 20 mil seguidores, além de outros cerca de 26 mil no Twitter. A partir dessa experiência, fundou o movimento "Vidas Negras com Deficiência Importam" (VNDI Brasil).
"Comecei a buscar mulheres negras autistas para entender as realidades delas, mas não encontrava. Criei o perfil para que outras como eu, quando tiverem o diagnóstico, possam olhar, ler e se identificar de alguma forma", diz Luciana, finalista no Prêmio Inspiradoras 2023 na categoria Equidade de Gênero e Liderança.
Com o acompanhamento do filho e de sua própria vivência, a pedagoga viu a necessidade de combater não apenas o racismo, mas também o capacitismo. O grupo procura criar debates que fomentem políticas públicas capazes de atender e incluir pessoas negras com deficiência.
"Eu a conheci pela internet, quando estava começando a me apresentar como autista", diz Yara Leone da Silva, 33 anos, analista de recrutamento e estudante de pedagogia de Serra (ES), participante do movimento VNDI. "Luciana falava sobre a ausência de informações a respeito da população feminina dentro do espectro, sobretudo das pretas. Isso abriu a minha cabeça para a estrutura capacitista e racista que não conseguia nos enxergar", completa.
Prêmio Inspiradoras | Categoria: Equidade de Gênero
Enquete encerrada
Total de 772 votosFormação começou na infância
Em três anos de existência, o movimento conseguiu fazer parcerias com instituições como a Universidade de York, no Reino Unido, com a qual lançou em abril deste ano o relatório "A situação das pessoas negras com deficiência no Brasil". O levantamento teve o apoio da ONG Minority Rights Group International. Pelos conteúdos produzidos, o perfil de Luciana entrou na lista D-30 Desabitily Impact List de 2022, que premia lideranças que impactam a vida de pessoas com deficiência no mundo.
A formação da pedagoga que se tornou líder e ativista começou na infância. Filha de um pai negro e uma mãe branca, Luciana nasceu no bairro do Capão Redondo, na zona sul da capital paulista. Aos cinco anos, mudou-se para Jundiaí (SP), cidade com população majoritariamente branca. Nessa idade, sofreu o primeiro episódio de racismo.
Fui criada por uma família em que o debate sobre o racismo é feito abertamente desde os meus cinco anos. Luciana
Logo que se formou em pedagogia, Luciana teve a oportunidade de trabalhar como professora de apoio em uma classe com uma garota com síndrome de Down. Assumiu para si o compromisso de ser uma professora de educação inclusiva. "Hoje, sabemos que não dá para debater antirracismo ou anticapacistismo sem incluir mulheres negras, mães de crianças com deficiência", afirma.
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