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Advogada defende pacientes de câncer de mama contra planos de saúde e SUS

Prêmio Inspiradoras: Maria Paula é finalista na categoria Atenção ao Câncer de Mama - Mariana Pekin/UOL
Prêmio Inspiradoras: Maria Paula é finalista na categoria Atenção ao Câncer de Mama Imagem: Mariana Pekin/UOL

de Universa, em São Paulo

04/08/2023 04h00

A advogada pernambucana Maria Paula Bandeira estava casada havia seis meses quando recebeu o diagnóstico de câncer de mama, aos 24 anos. O tratamento incluiu cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Quase cinco anos depois, em janeiro de 2016, ela fazia exames porque planejava engravidar, mas descobriu que estava com uma metástase no ovário e precisou retirar os dois.

De lá pra cá, ela faz uma sessão de quimioterapia a cada 21 dias por causa do câncer de mama metastático.

"Entrei na menopausa aos 29 anos, cheia de projetos e planos, mas tive de dar um novo significado à vida", afirma. Na época, recorreu às redes sociais em busca de relatos de pacientes que tivessem a mesma idade ou história parecida com a dela, mas não encontrou. Foi assim que decidiu criar o Lenço do Dia, perfil no Instagram com mais de 30 mil seguidores, onde compartilha informações sobre a judicialização da saúde. Por sua atuação, Maria Paula é finalista do Prêmio Inspiradoras na categoria Atenção ao Câncer de Mama.

No começo, a advogada usava o perfil para dividir a rotina de tratamentos com os seguidores, além de dar informações sobre a doença, noticiando inovações científicas e tecnológicas e compartilhando dados sobre novos medicamentos. Depois decidiu mostrar a rotina pessoal —viagens, visitas ao salão de beleza e comemorações com amigos e familiares.

Não me limito a um diagnóstico, a vida é muito mais do que isso. Não tenho urgência em viver, mas tenho necessidade de viver plenamente, todos os dias. Maria Paula

Prêmio Inspiradoras | Categoria: Atenção ao Câncer de Mama

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Mariana Pekin/UOL
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Ativista pelos direitos dos pacientes

Maria Paula percebeu ser frequente que planos de saúde neguem aos pacientes medicamento ou tratamento por não constarem do rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde (ANS).

Trata-se de uma referência básica para a cobertura obrigatória dos planos de saúde contratados a partir de 2 de janeiro de 1999. Também acontece de o Sistema Único de Saúde (SUS) negar o acesso de pacientes a protocolos ainda não incluídos em suas rotinas. Além de orientar os seguidores, ela os representa juridicamente para tentar reverter as decisões, por valores abaixo do mercado — a advogada cobra no máximo um salário mínimo e meio para entrar com o processo.

"Tento usar meu conhecimento técnico para que não se precise judicializar. Quando isso acontece, não cobro nada", conta Maria Paula, que já auxiliou cerca de 50 pessoas de todo o Brasil em processos para garantir tratamentos.

"Ela ajuda os pacientes a ampliar seus repertórios para dialogar com os médicos. Essa conversa pode ser em busca de qualidade de vida, seja para fazer uma viagem, seja para exigir o acompanhamento de uma equipe de paliativista ou de alguém que consiga reduzir a sua dor", afirma Tom Almeida, publicitário. "Maria Paula fala sobre câncer tirando os estigmas, principalmente, sobre como é viver com a doença metastática. Ela trata de temas como dor, por exemplo, de maneira simples e fácil de entender."

O encontro entre Tom e Maria Paula ocorreu em 2017, durante a organização de um evento sobre cuidados paliativos em Bauru (SP). No ano anterior, o primo de Tom havia morrido devido a um câncer e ele decidira se dedicar ao estudo de temas como morte e cuidados paliativos. Hoje, se dedica ao Movimento inFINITO —que promove debates e eventos sobre finitude— e preside o Instituto Ana Michele Soares, antiga Casa Paliativa. Ana Michele Soares, a AnaMi, fundadora da Casa Paliativa, foi finalista do Prêmio Inspiradoras em 2022 e morreu em janeiro deste ano, depois de 12 anos com câncer de mama metastático.

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Prêmio Inspiradoras: Maria Paula é finalista na categoria Atenção ao Câncer de Mama
Imagem: Mariana Pekin/UOL

Maria Paula e Tom trabalharam juntos para transformar a Casa Paliativa em Instituto Ana Michele Soares —ela era paciente e advogada da instituição. Entre pacientes e familiares, o instituto atende cerca de 2.500 pessoas. Dos pacientes, 90% são mulheres. "A atuação da Maria Paula já era importante na Casa Paliativa. Agora, no Instituto, do qual ela é uma das diretoras-fundadoras, sua influência será maior porque vamos ampliar nosso alcance", diz Tom.

O Prêmio Inspiradoras é uma iniciativa de Universa e Instituto Avon, que tem como missão descobrir, reconhecer e dar maior visibilidade a mulheres que se destacam na luta para transformar a vida das brasileiras. O foco está nas seguintes causas: enfrentamento às violências contra mulheres e meninas e ao câncer de mama, incentivo ao avanço científico e à promoção da equidade de gênero, do empoderamento econômico e da cidadania feminina.