Mayana Neiva: 'Quer me ver feliz? É forró. Exercício para a alma'
Em participação no "Desculpa Alguma Coisa", videocast de Universa com Tati Bernardi, a atriz Mayana Neiva falou sobre aplicativos de relacionamentos e o que espera de um parceiro.
Ela disse como seria sua descrição se estivesse em um app de paquera. "Colocaria meditação e arte, uma foto de biquíni e vai. Forró também. Quer me ver feliz? É forró. Exercício para a alma".
O que esperar de um parceiro de vida? "Acho que a gente foi criada numa geração que supervaloriza a relação romântica e, às vezes, a mulher é sobrecarregada nessa relação, esse romantismo tem essa serventia. Nos últimos anos, tenho dado muito valor aos amigos, às pessoas que estão na minha vida há 20 anos, me acompanham nos altos e baixos. Se vier um companheiro, quero que ele seja melhor que meus amigos, não tenha isso de ficar projetando. Alguém que esteja disposto a ser feliz, se entregar, viver dessa forma", diz.
Sofrer por amor? "Já sofri muito de amor. Hoje eu sofro, choro. Mas a arte é um canal de cura. Vou chorar? Vou. Mas saio muito mais rápido. Choro, mas quando vou embora, tchau. Vivo a intensidade da alegria e da dor".
A atriz diz que já tentou entender os homens, mas desistiu. "Falei: 'Vou é me entender e, se alguém quiser entender o mundo comigo, vou adorar'. Só queria coragem, mas acho que os homens não tem muita coragem de se abrir, se jogar nesse lugar", diz.
O que não suporta em um encontro? "Detesto gente mal-educada. Que trata você bem, mas trata o garçom mal."
"Fiquei arrebatada"
Mayana tentou outras carreiras antes de ser atriz. "Tentei fazer faculdade de direito, letras, tentei fugir, mas uma hora você aceita quem é. Não acho que a pessoa seja artista por escolha, é uma espécie de indignação com a vida. Tem uma parada muito inquieta na alma do artista".
A atriz contou como começou sua paixão pela atuação. "Descobri o teatro por acaso. Estava num intercâmbio, amava física e fazia curso de astrofísica. Cheguei à primeira aula e a conselheira falou pra fazer uma aula eletiva de teatro. Lembro que, quando entrei, eles estavam montando 'As Bruxas de Salém'".
"Lembro que eu senti como o drama é forte. Como eu consigo viver uma época que não vivi? Como isso ativa as dores das mulheres desse tempo? Fiquei arrebatada. Desde aquele dia, falei: 'lascou'", brinca Mayana.
Ela conta, ainda, como começou seus projetos em que resgata a ancestralidade feminina. "Tem a ver com o fato de ter morado fora. Quando voltei, me perguntei: 'Estou sempre contando histórias de outras pessoas. Mas e a minha, onde a minha começa? Quem eu sou? Foi quando outras revoluções começaram em mim. E começo pela minha ancestralidade feminina."
A atriz voltou a sua terra natal, a Paraíba, para os trabalhos de resgate. "Com o documentário sobre meu avô, comecei o clipe de 'Cordel da Mulher Paraibana'", diz ela, referindo-se ao vídeo e a música, lançados em 2022.
"Fui falar com as mulheres do sertão da Paraíba para filmar. O sertão é diverso, lindo, peguei mulheres de todos os tipos, tamanhos, cores, idades, mulheres trans. Várias. Para mim, isso foi um manifesto."
Força e resiliência
Mayana destaca a importância de ter feito um documentário sobre o avô."Ele era balaieiro da feira, bem pobre. A memória que ele tinha da infância é o sangue escorrendo e ele entregando carne do açougue na casa das pessoas", diz.
"Muito jovem, ele começou a aprender fotografia, só de observar. Ele é semianalfabeto. Começou a desenhar, a trabalhar com retoque de fotografia e se tornou um dos maiores fotógrafos de Campina Grande. Foi parte do movimento político da época, se tornou um educador. Foi preso, sofreu um monte de questões", contou.
Mayana contou o que traz em si de suas origens. "O que tenho da Paraíba é a resiliência. O povo nordestino consegue ver alegria nas pessoas. Essa coisa de acordar, comer cuscuz, tapioca, um cafezinho, conversar, ser família. Tenho muito em mim."
Família de mulheres fortes
Mayana falou da intensa ligação que tem com as mulheres de sua família. "Venho de uma história de mulheres nordestinas muito fortes. Minhas duas avós tiveram vida difícil. A mente que pensa o coletivo no feminismo sempre foi muito presente na minha família, minha avó sempre foi uma representação disso."
"Nos anos 1950, ela já trabalhava, era fotógrafa. Tinha uma independência e uma opinião muito forte na época. Eu tenho duas irmãs, a gente é um clã", completa.
"Todas as vezes na minha vida que precisei, foi uma mulher que me ajudou. As mulheres têm, para mim, um lugar de ser capaz, de olhar para o outro, de acolher. Elas se olham e falam do que está acontecendo por dentro."
Mayana tem um grupo no WhatsApp com suas irmãs e sua mãe. "A gente chama de Colegiado. Cada uma na sua casa com o telefone, discutindo a vida da família, legislando sobre a vida afetiva de todas as pessoas."
A atriz também falou a respeito do livro que escreveu para sua sobrinha, Marina, que nasceu prematura. "Parecia que eu sofria de gravidez psicológica porque quando ela nasceu, foi muito emocionante, estavam todos no hospital torcendo pela vida dela. Luciana foi a primeira de nós três que teve filho e, quando Marina veio ao mundo, meu coração explodiu de amor, de querer guardar como quem guarda numa garrafa."
"E aí escrevi 'Sofia', que é esse livro sobre uma menina que engole o sol e o que acontece depois. Era o jeito de dizer a Marina que ela se escutasse, que ela nunca esquecesse de quem ela era", afirma.
Fama ajuda ou atrapalha?
Mayana respondeu se o seu trabalho como artista e a fama já atrapalharam seus relacionamentos. "Atrapalha. As pessoas projetam muito sobre o que é a vida de um artista. Existe uma fabulação quando existe muito trabalho".
"Acho que a gente vive uma crise do masculino muito grande. O masculino é lindo, mas está tão adoecido, tão cheio de violência. A gente precisa viver melhor essa dança", pontuou.
Mayana disse também evitar relacionamentos com pessoas com as quais esteja trabalhando. "Quando eu era mais jovem, aconteceu uma coisa comigo, mas, depois disso, nunca mais deixei cruzar essa linha. Hoje separo bem e acho isso fundamental", completou.
"Minha alma precisava"
Mayana Neiva contou por que começou a meditar e falou da importância da prática na vida dela.
Mayana Neiva: "Tinha acabado de fazer um filme e decidi ir para Nova York. Saí de um set de filmagem superlegal para cair no meio de um dos piores invernos de NY. Lembro de chegar lá desesperada. E aí veio a meditação".
A atriz decidiu estudar para entender melhor como meditar. "Não sabia que, quando entrasse naquela aula, minha vida inteira mudaria e seria uma das maiores revoluções na minha vida. Minha alma precisava daquilo. Colou, encaixou. Fui me aprofundando, comecei a fazer retiros. Com a arte, foi a coisa mais importante que me aconteceu."
Mesmo estudando meditação, não esperava começar a palestrar a respeito do tema. "Primeiro, comecei a estudar porque precisava. Depois de anos estudando e me misturando com aquilo, tive um convite de uma professora para preparar uma palestra. Ali eu estava compartilhando a coisa que mais tinha revolucionado a minha vida. Acionei um lugar que eu não esperava".
Mayana Neiva: "Meditar é nosso estado natural. Você pode usar para respirar melhor ou para revolucionar sua vida. São acessos muitos diferentes. Tem muita coisa por aí disponível e tem muita balela também", contou.
A atriz finaliza: "Arte e meditação são duas armas na minha vida. A arte dá espaço para o claro e para o escuro. O escuro precisa fazer parte, é a investigação da dor, de tudo isso que vai deflagrar saltos na sua vida. A arte produz esse lugar, e a meditação ilumina isso tudo".
Confusão com atriz de Hollywood
Mayana contou que já fui confundida com Rachel Weisz, vencedora do Oscar de melhor atriz coadjuvante em 2006 pelo filme "O Jardineiro Fiel".
Mayana Neiva: "Estava fazendo um filme chamado 'Para a Minha Amada Morta', do diretor Aly Muritiba. Estreou no festilval de cinema de San Sebastián, na Espanha. Alguém perguntou para o Aly: 'Como você, com um filme brasileiro independente, conseguiu trazer a Rachel Weisz?'"
Então, ela conta, o diretor a chamou para participar do festival. "Ele disse: 'Você não sabe o que estão falando, vem para cá, eles querem ver a Rachel Weisz'", diz Mayana, que lembra a história com bom humor.
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