Vítima de estupro em BH 'começava a vida' após superar doença, diz delegada
De Universa, em São Paulo
09/08/2023 14h42Atualizada em 09/08/2023 16h25
A jovem de 22 anos que foi estuprada após ser abandonada desacordada em uma calçada em Belo Horizonte vinha de um histórico de tratamentos por ter nascido sem partes do esôfago e estômago, explicou a delegada responsável pelo caso, Danúbia Quadros.
O que disse a delegada?
Jovem começava a "aproveitar a vida" agora após mais de 10 anos de tratamento para a reconstrução dos órgãos, segundo os depoimentos dos familiares à polícia.
"Ela ficou por muitos anos internada, em tratamento, afastada da vida social. Agora, com 22 anos, que ela está começando a viver, começando a aproveitar a vida, e infelizmente foi vítima dessa série de atos inconsequentes e posteriormente atos criminosos.
Danúbia Quadros, delegada da polícia de MG
Vítima fazia "algo natural" para "qualquer pessoa que queira se divertir": a delegada rechaçou a possibilidade da mulher ser culpabilizada independentemente dos resultados do laudo toxicológico. A vítima negou ter utilizado drogas no show e na festa para a qual se dirigiu depois, e relatou ter apenas misturado diferentes tipos de bebidas.
"Ela não pôde, de maneira alguma, oferecer resistência para se defender", disse a delegada ao comentar o indiciamento do principal suspeito do estupro, que foi preso em flagrante, e do motorista de aplicativo que deixou a jovem sozinha e embriagada na calçada.
Por tudo que foi investigado e pela própria oitiva dessa jovem, ela permaneceu [desacordada] por todo o trajeto e por todo o tempo no campo com esse homem de 47 anos. Ela não se recorda de absolutamente nada do que houve. Então, ela claramente não pôde oferecer resistência para se defender dessa violência sexual.
Acusado de estupro pode pegar 15 anos de cadeia; motorista, até 3, no máximo. A delegada afirmou que não existe previsão legal para prender preventivamente o motorista.
Amigo foi "inconsequente, irresponsável", mas não cometeu crime, avaliou Danúbia Quadros. "A Polícia Civil não pode considerar a reprovação social apenas, a reprovação midiática do comportamento desse, entre aspas, amigo", declarou.
Por mais inconsequente, irresponsável, reprovável socialmente que tenha sido essa conduta e que a gente espera que nunca mais isso aconteça, [...] a gente não trabalha com crime.
Relembre o caso
A jovem foi a um show no estádio Mineirão na noite de 29 de julho. Por volta das 2h de domingo (30), ela decidiu ir embora quando um amigo chamou um motorista por aplicativo e compartilhou o trajeto da viagem com o irmão da vítima.
Desacompanhada no veículo, a mulher chegou ao endereço onde mora cerca de uma hora depois. O motorista teria acionado o interfone do prédio duas vezes e tentado fazer ligações pelo celular, mas não conseguiu retorno.
Alguns minutos depois, ele resolveu retirar a jovem do carro, desacordada, e abandoná-la na rua com a ajuda de um homem que passava pelo local.
A jovem só acordou por volta das 8h de domingo, quando agentes do Samu a atenderam em um campo de futebol. Ela estava com um cobertor e a roupa íntima abaixada. Exames médicos atestaram que ela foi estuprada.
O irmão da mulher disse à polícia que não acompanhou a viagem da irmã, nem escutou aos chamados do motorista, porque estava dormindo.
O suspeito do crime, um homem de 47 anos, foi preso em flagrante por estupro de vulnerável e já foi ouvido no próprio domingo. Ele foi encaminhado ao sistema prisional e está à disposição da Justiça. Segundo a PM, o homem negou que tenha estuprado a jovem.
Em caso de violência, denuncie
Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.
Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.