'Soquinho na costela'? Fetiche do funk é perigoso até para quem é do BDSM

O "soquinho na costela" foi sucesso em letras de funk que ganharam o TikTok no ano passado. Mas, agora, o fetiche virou centro de uma controvérsia graças a um vídeo da influenciadora Lays Peace, que gravou um vídeo levando o golpe "de surpresa", durante um beijo.

Nas redes sociais, muitos questionaram se o fetiche — que tem milhares de resultados em sites de conteúdo adulto — é perigoso. E, para os estudiosos do assunto, as costelas são sim uma zona que merece atenção redobrada na hora do sexo.

Praticante de BDSM há seis anos, srta. g, 50, explica que a sigla é sinônimo de uma série de práticas envolvendo bondage, disciplina, dominação e submissão, e sadomasoquismo.

Apesar de defender a individualidade na hora do sexo, a fetichista destaca que os praticantes do BDSM têm "muito cuidado" e estudam a sensibilidade de cada parte do corpo, delimitando as áreas seguras e o impacto e força aceitáveis em cada uma delas. Há até um gráfico para isso.

"Não é só sair batendo, enforcando e amarrando. Existem técnicas corretas e áreas onde simplesmente não se faz práticas de impacto. Em todos os mapas do corpo, o impacto nas costelas é indicado como de alto risco", explica ela, a Universa.

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Segundo a psicóloga Ana Canosa, fetiches fazem parte das chamadas parafilias e podem ser saudáveis, desde que levem em consideração os limites do próprio corpo e do parceiro.

"Parafilias são práticas sexuais 'não usuais' que intensificam a excitação das pessoas. Estamos falando de contextos, objetos, partes do corpo, que precisam ser incorporadas no jogo erótico para gerar excitação. E quando uma parafilia se torna um transtorno? Quando ela provoca prejuízo para o indivíduo ou para as pessoas com quem ele pratica o comportamento sexual. Pode ser físico, psicológico ou social"

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Costelas protegem órgãos vitais

No caso de um soco na costela, o maior prejuízo é uma fratura na caixa torácica, que protege órgãos vitais como pulmões e coração.

A maioria das pessoas que eu conheço no meio BDSM prefere não fazer impacto nas costelas, mas isso não significa que quem faz está sendo muito violento ou tenha algum tipo de transtorno. srta. g

"Se o consentimento foi dado livremente, os dois entendem os riscos e tem conhecimento suficiente pra saber como agir caso algo dê errado, só cabe aos parceiros fazer essa escolha. Pra mim, é um risco que não vale a pena correr. O nosso corpo é cheio de áreas mais seguras para isso", opina ela.

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O sexólogo Jeová Batista concorda que todo fetiche, se consentido, pode fazer parte da transa, mas também alerta: nem tudo que é permitido, é recomendado.

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Use códigos

Quando o sexo envolve práticas que podem ser perigosas, como socos e tapas, ele recomenda que os parceiros combinem com antecedência os "códigos" que usarão caso estejam desconfortáveis.

"Por exemplo, se você usa força, existem palavras que são chave para o outro parar. Isso precisa ser feito com muito cuidado e muita atenção", afirma Jeová.

Ele ainda aconselha que as pessoas vigiem uma possível perda de controle sobre os fetiches, procurando um profissional caso ele passe a atrapalhar a saúde da vida sexual. O vício em pornografia, por exemplo, é um problema constante entre os pacientes atendidos pelo sexólogo.

"Fica fácil falar que cada um vive sua intimidade, e é verdade, mas a gente não pode trazer uma certa naturalidade para qualquer prática. Como, por exemplo, pegar o universo da pornografia e tentar levá-lo para o relacionamento a dois. Então, para além de dizer que desde que consentido está ok, acho que vale a pena olhar o que está por trás disso", afirma.

"Código de ética" do BDSM

Para os interessados nas práticas do BDSM, é importante seguir uma base ética chamada de "SSC", ou "São, Seguro e Consensual", segundo srta.g.

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  • São: fazer escolhas com a mente lúcida e sem estar sob uso de substâncias que influenciam na consciência do praticante.
  • Seguro: buscar conhecer os riscos e fazer tudo ao alcance para diminuí-los.
  • Consensual: o praticante precisa concordar -- ou não -- com a relação, de forma livre e clara (e com a possibilidade de retirar o consentimento a qualquer momento).

E a fetichista explica: cada pessoa deve determinar sozinha o próprio limite dentro do sexo. Por isso mesmo, práticas consideradas degradantes ou violentas pela "sexualidade normativa" podem, sim, fazer parte das relações.

"Traçar esse limite é algo muito particular, especialmente quando se fala do jogo entre sádicos e masoquistas", conclui.

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