'Pai, aprendi que a culpa por você ter me abandonado não é minha'
O Dia dos Pais costuma ser uma data dolorida para filhos de mães solo —como também para as mulheres que criaram filhos sozinha.
Jade Yasmin da Silva, 21 anos, é estudante de jornalismo e mora em Mariana (MG). Aos 15, tendo sido criada sem pai, quis saber a história dele. Ouviu da mãe que, quando ficou grávida, o pai duvidou que a criança fosse dele. Nunca pagou pensão. Viu Jade uma vez, quando ela tinha 2, para reencontrá-la —por iniciativa dela— aos 16. Atualmente, eles trocam mensagens e se veem em almoços, mas a relação é distante.
A pedido de Universa, Jade escreveu a seguinte carta ao pai:
Pai,
Você provavelmente não tem a mínima ideia da falta que senti de você durante a infância, adolescência e, às vezes, durante a vida adulta. Lembro de perguntar para a minha mãe diversas vezes o porquê de você não me querer. Anos depois entendi, em terapia, que essa pergunta que eu tanto repetia era eu mesma me culpando pela sua ausência e essa culpa, infelizmente, foi estendida para outras relações.
Minhas amizades, namoros ou até mesmo pessoas que eu estava conhecendo foram atravessadas, inconscientemente, por essa minha culpa. Muitas vezes tive medo de cometer erros dentro das minhas relações e as pessoas irem embora assim como você foi. Como consequência, deixei de impor limites importantes, fugi e me isolei de pessoas por quem tinha muito afeto pelo medo da rejeição. E a pior de todas as consequências é o fato de até hoje eu ser incapaz de me ver com um olhar verdadeiramente carinhoso e amoroso.
Aos poucos, tenho aprendido e me libertado dessa ideia de que a culpa por você não ter me criado é minha. Afinal de contas, tenho entendido que isso tem mais a ver com você do que comigo. Aos poucos, graças a muita terapia e ao amor que recebi da minha mãe, dos meus demais familiares e dos meus amigos, tenho conseguido me ver com um olhar mais doce e respeitoso. Aos poucos, também tenho aprendido a falar sobre os meus incômodos, a entender que errar é humano e que devo impor limites em todas as minhas relações, mas acredito que essa falta nunca será suprida de fato.
De certo modo, esse vazio e essa falta que você deixou dentro de mim se tornaram meus grandes amigos e companheiros de vida. No fim das contas, eu entendi que sou eu quem vou ter que lidar com a falta que você faz e, assim, me libertar, não por você, mas por mim mesma, de todo rancor que guardei de você durante a vida.
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