Carolina Ferraz ri com meme da Record e diz que já quis fugir para o mato
Ainda que tenha ficado conhecida por suas personagens nas 15 novelas que fez na Globo —quem não se lembra da Norma de "Beleza Pura" gritando 'eu sou riiiica"— Carolina Ferraz, 55, começou a carreira como apresentadora. Em 1987, comandava o programa musical Shock, na TV Manchete e, na sequência, um programa de notícias. Depois disso, viveu papéis na televisão, no teatro e no cinema, até que sua carreira a trouxe novamente para a posição de âncora: desde 2020, ela está à frente do "Domingo Espetacular", na Record.
Sobre isso, brinca: "Recebi o meme 'morreu ou foi para a Record' outro dia. Juro que não conhecia. Morri de rir. Fausto Silva me ensinou algo importante: meu ofício é sagrado, não o local onde trabalho", contou em entrevista à Universa. Ativa nas redes sociais, onde mostra sua vida e dá opinião, diz que está numa fase de refletir para que serve a internet. Gosta da tecnologia, mas confessa que já quis largar tudo e se esconder no mato. "Às vezes cansa."
Mãe de duas filhas, Valentina, 28, e Isabel, 8, Carolina se emociona ao falar de maternidade e seus desafios. E não foge das perguntas difíceis.
UNIVERSA: Voltar a apresentar um programa de notícias depois de tantos anos estava nos seus planos?
Carolina Ferraz: Honestamente, nunca imaginei que fosse fazer isso. Sou feliz no que faço, mas não sou jornalista, minha formação é outra. E ainda assim consigo passar credibilidade. Não tinha nem o sonho de ser atriz, queria ser veterinária. Mas não me vejo fazendo outra coisa que não seja trabalhar com televisão e comunicação. Acho que sou uma das poucas atrizes que já fez as duas coisas. E os programas sempre foram premium.
Algumas notícias do "Domingo Espetacular" são bem pesadas. Alguma história te abala?
Muitas vezes, sim. Tem quadros que eu não consigo nem ver. Tem um que chama "Quase Morri", as pessoas passam por situações-limite e saem ilesas. Não dou conta. Também me dá dá mal-estar quando é criança. Sei que as atualidades jornalísticas envolvem crimes, mas fico abalada porque tenho uma filha pequena. Às vezes, chego a chorar. Tem uns casos de crueldade que peço para a câmera não voltar em mim depois que exibem a reportagem, para voltar no Sérgio [Aguiar, coapresentador], que é muito companheiro.
Como você se informa?
Tenho os aplicativos de todos os jornais em meu celular, mas também assino o formato em papel. No final de semana levo para a cama e leio tudo. Tento me informar bastante sobre economia, que é um tema que me interessa, principalmente sob a ótica feminina. Descobri, por exemplo, que 63% das mulheres envelhecem na miséria, pois não são condicionadas a pensarem em si mesmas e, quando chegam nessa fase da vida, podem ter gastado todo o dinheiro provendo outras pessoas. Quase 47% das casas no Brasil são sustentadas por mulheres. Educação financeira é algo muito sério e tinha que ser ensinado no colégio, para as pessoas crescerem sabendo cuidar do próprio dinheiro. Ele é importante para uma velhice digna e tranquila.
Qual sua opinião sobre a disseminação de fake news? Já caiu em alguma?
Acho que sim, dá até aquele choque. Acho a internet uma coisa maravilhosa, mas precisamos de legislação. Minha mãe tem 84 anos, a quantidade de fake news que ela recebia durante a pandemia era muito grande. E ela acreditava. As dimensões que isso pode ter na sociedade são imensas. É um assunto delicado que merece a nossa atenção. Quanto antes nos posicionarmos e criarmos maneiras de controlar, melhor.
Você é bem ativa nas redes sociais. Tem dia que dá vontade de largar tudo e se esconder no mato?
Todo dia! Brincadeira. Mas de vez em quando dá. Às vezes cansa mesmo. Não quero me excluir desse momento, de estar ativa nas redes sociais. Sou contemporânea, não sou uma mera espectadora. Quero estar aqui. Mas estou refletindo muito para que serve isso. Não me considero uma pessoa capacitada para dar minha opinião sobre tudo, nem acho que seria interessante.
Já teve algum comentário de hater que te incomodou?
Graças a Deus, nada absurdo. Mas sempre tem um ou outro. Algo que as mídias sociais me ensinaram é que pode ter 700 comentários bons, mas se uma pessoa diz que sou papuda, que meu cabelo é horroroso, vou lembrar só daquilo e ignorar os outros que disseram que tenho um sorriso lindo, por exemplo. Tudo é apagado em detrimento dos comentários negativos. Temos que nos policiar, pois nos colocamos à mercê das pessoas.
As novelas tiravam o seu tempo para fazer outros projetos?
Novela não é fácil, ainda mais quando você é protagonista. Somos abduzidos por algo maravilhoso. Amo fazer televisão, adoro atuar. Inclusive, estou louca para voltar a fazer teatro. Na TV já trabalhei com os melhores autores, atores, tive o prazer de ter a companhia de elencos geniais, brilhantes e deliciosos. Mas realmente consome muito tempo. Quando saí da Globo, não tinha que provar mais nada a ninguém, fiz tudo o que precisava fazer. Agora quero viver a minha vida de uma maneira mais integrada. Durante o isolamento veio meu terceiro livro, em homenagem a minha mãe, vi essa abertura nas redes sociais e fui buscar a compreensão do que ia comunicar como uma mulher mais velha. Quero ir além, trabalhar muito. E aí veio o projeto com minha filha Valentina [a marca de produtos para casa Cimples.
Como é ser mãe e sócia da filha?
Tento respeitar isso ao máximo. Não quero magoá-la, ela é o maior tesouro da minha vida. E não brigamos, tenho o maior orgulho e admiração por ela. Valentina foca no lado dos negócios, e eu, na parte criativa. Sou muito empreendedora, tenho ótimas ideias, mas preciso de pessoas que façam essas ideias se tornarem realidade.
Você contou que está com vontade de voltar a atuar. Mas do que não sente saudade do ambiente das novelas?
Quem cria problema, normalmente, são os atores mais jovens. É difícil ter perrengue com os mais consagrados. Quero chegar em um lugar e poder contribuir, amenizar a brutalidade massacrante que é o exercício de atuar em televisão. Não só para mim, mas para toda equipe. Quero chegar no set e saber o nome de todos que estão ali, ser aquela que, dentro do elenco, suaviza as dificuldades do dia a dia.
Muita gente considera retrocesso na carreira ir para a Record. Tem até o meme. Foi julgada pela sua escolha? Ouviu comentários que te incomodaram?
Eu não conhecia esse meme, me mandaram esses dias e morri de rir. Não ouvi nada nesse sentido, talvez as pessoas tenham falado, mas não para mim. Mas acho o seguinte: Fausto Silva me ensinou que sagrado é seu ofício, e não onde você trabalha. Sou uma artista, uma comunicadora. Tenho que fazer bem o que faço em qualquer lugar. Saí da Globo e estou trabalhando na segunda maior emissora do país, apresentando um programa muito bem posicionado, com bons índices de audiência. Devolvo o que a casa investe em mim. Fui muito bem acolhida, me tratam muito bem. Não tenho nada a reclamar. Estou fazendo o que gosto e estou amarradona.
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