Ela se casou com o irmão da amante do seu ex-marido: 'A maior benção'
Victoria Borges
Colaboração para Universa, em São Paulo
05/09/2023 04h15
Depois de terminar um casamento precoce e tumultuado, marcado por abusos e traições, Maria Aparecida Martins, 41, conheceu Gessilei Souza, 46, pelas redes sociais, mas logo descobriu que ele era irmão da mulher que foi amante de seu ex-marido.
Apesar da ironia do destino, a faxineira decidiu dar uma chance para o amor e teve um final feliz. Hoje, os dois vivem juntos e têm uma filha. A Universa, Cida conta sua história:
Casei aos 16 anos
"Venho de uma família simples, do interior de Minas Gerais, sou a mais velha de três irmãs e meus pais eram muito rigorosos. Não tínhamos liberdade para sair. Meu pai, severo, só permitia que eu estudasse à noite se minha mãe me buscasse todos os dias na escola. Eu só saía de casa para ir à missa aos domingos, com minha madrinha ou minha avó.
Até que conheci um rapaz e comecei a namorar escondido por uns 2 meses. Quando contei ao meu pai, foi a maior confusão. Ele ameaçou até me tirar da escola.
Quando finalmente aceitou o relacionamento, só podia namorar aos fins de semana, com minha mãe vigiando. Sair sozinha, nem pensar! A única alternativa era casar.
Então, no ano seguinte, aos 16 anos, com 10 meses de namoro, casei e fui morar em Portugal.
Achei que, longe de todos, viveria em paz.
Se eu contasse, ninguém acreditaria
Engano meu. Meu marido não tinha responsabilidade com as contas da casa e nós brigávamos muito. Até que um dia ele me agrediu fisicamente.
Eu não contava o que acontecia para os meus pais, por vergonha. Meu marido era visto como um cara legal e todos gostavam dele. Se eu contasse, ninguém acreditaria em mim.
Voltamos para o Brasil, mas ele me deixava sozinha em casa e ia beber. Um dia quebrou a casa toda e queimou minhas roupas, me xingava e dizia que eu tinha outro homem.
Saí só com a roupa do corpo e fui para a casa dos meus pais. Era impossível conviver com meu pai, então fui ficar com a minha avó.
Aos 22 anos, comecei a trabalhar como empregada doméstica, voltei a estudar e passei a trabalhar em uma padaria, de segunda a segunda.
Mas, acabei voltando com o meu marido.
Já estávamos casados há quase 6 anos, entre idas e vindas, quando um amigo que trabalhava no Conselho Tutelar apareceu na minha porta com um bebezinho que sofria maus-tratos. Foi ali que pari meu primeiro filho, o João Vitor.
Tudo estava indo muito bem, até que meu marido começou a beber de novo.
Um dia, contou que uma mulher dizia ter um filho dele. Eu quis morrer, me sentia um lixo. Via o meu sonho de engravidar sendo realizado por outra. Tentei tirar minha própria vida e, quando saí do hospital, meu filho me abraçou.
Naquela hora, decidi que ia aguentar o casamento por ele.
Mas saiu o resultado do DNA, e o filho não era dele.
Vida nos EUA
O sonho do meu marido era trabalhar nos Estados Unidos, mas eu não queria. Ele comprou as passagens mesmo assim.
Quando cheguei, passei a trabalhar com limpeza de obras, ganhando 800 dólares por semana. Estava nas nuvens, mas isso começou a incomodá-lo. Voltou a me xingar.
Não aguentava mais aquela vida, mais de 20 anos juntos e tudo continuava igual. Eu não era feliz.
Um dia, a irmã dele me ligou avisando que o dono do apartamento em que morávamos tinha entrado com uma ordem de despejo por falta de pagamento do aluguel. Nós tínhamos cerca de um mês para sair.
Ao mesmo tempo, descobri que ele não viajava a trabalho, mas para encontrar outra mulher.
Estava tão desesperada, procurando uma nova casa, que nem importei. Mas, quando peguei os dois conversando por chamada de vídeo, enquanto eu era despejada com o filho dele, surtei!
Finalmente me separei.
Xinguei nos comentários
Quando me mudei, não tinha nada além das minhas roupas, as do meu filho e um carro velho.
Na mesma semana, consegui um trabalho na limpeza de um supermercado, das 3h às 6h da manhã, de segunda a segunda.
O que ganhava ainda era pouco, então passei então a cuidar de duas crianças na parte da tarde. Me vi com três empregos.
Meu ex-marido tinha sumido. Até que, num belo dia, entro no Facebook e vejo um comentário dele numa postagem de um rapaz que eu tinha adicionado. Não pensei duas vezes e o xinguei ali nos comentários.
Logo recebi uma mensagem no privado. Um homem, chamado Gessilei, pedia para que eu não xingasse ninguém nas publicações dele, pois usava a página para trabalho.
Fiquei curiosa para saber quem era aquele cara.
Quando entrei no perfil, a primeira foto que vi foi da amante do meu ex-marido. Eles eram irmãos.
Encontro pelas redes sociais
Durante um mês, ele me mandava mensagens de bom dia e eu o mandava para o inferno, sem a menor paciência.
Um dia decidi perguntar a ele o que queria comigo. Ele respondeu que queria ser meu amigo — eu disse que era impossível, pois ele era cunhado do meu ex-marido, que tinha me feito muito mal.
Ele então me fez a proposta de não tocarmos no nome do meu ex, nem da irmã dele. Dei uma chance e começamos a conversar.
Descobri que somos da mesma cidade, que estudei com uma de suas irmãs e que o filho dele fez taekwondo junto com o meu. Quando vi, estávamos fazendo chamada de vídeo.
Uma amiga me alertou: 'isso não vai prestar, você sabe de quem ele é irmão'. Eu concordei e, na noite seguinte, disse a ele que não podia mais continuar com aquilo.
Para minha surpresa, me pediu em namoro. Nos encontramos pessoalmente pela primeira vez um mês depois. Ele também morava nos EUA, numa cidade a 2 horas da minha.
Confusão em família
Foi uma confusão na família. Os parentes dele viraram as costas para nós, mas sempre dizíamos que o mais importante era estarmos juntos.
Até hoje não tenho contato nenhum com a irmã do meu marido, que também não está mais namorando meu ex.
Na pandemia, perdi todos meus empregos e fui morar com meu namorado. Eu tinha acabado de sair de um casamento sofrido, de mais de 20 anos, não queria. Mas não tinha muitas escolhas e aceitei.
Meu filho não gostou da ideia e foi morar com o pai. Me senti traída, trocada. Depois, eles se mudaram para outro estado.
Em setembro daquele ano, precisei descartar a hipótese de gravidez antes de tomar um remédio e, no susto, veio um teste positivo. Nem acreditei, sonhava tanto com aquele momento. De repente, vi minha vida desacelerar.
Ainda assim, passei a gravidez inteira chorando a falta do meu menino. A Valentina nasceu e ele só conheceu a irmã um mês depois.
Alguns meses depois, o pai dele queria voltar ao Brasil e desta vez não dei escolha: ele viria morar comigo.
Com isso, pude dar entrada para regularizar a documentação do João. Ele já conseguiu tirar a carteira de motorista e a autorização de trabalho, e tem grandes chances de conseguir o Green Card [visto permanente de imigração].
Hoje, posso dizer que Deus tem suas formas de agir e não conseguimos entender tudo. Meu filho está comigo. Meu marido é irmão da mulher que foi amante do meu ex-marido. Aos 38 anos, engravidei de forma natural. Voltei a trabalhar limpando minhas casinhas.
Não tenho muito dinheiro, mas o que eu tenho não trocaria por nenhuma fortuna.
A família que Deus me deu aqui foi e é a maior benção que eu poderia receber nessa vida. Nem sei como agradecer. Contando a minha história hoje, não sei como sobrevivi."