'Uma hora ele chorava, na outra me batia', diz ex sobre agressões de Antony
A DJ e influencer Gabriela Cavallin, 23, detalhou com exclusividade ao UOL a rotina de agressões físicas e violência psicológica que diz ter sofrido nos quase dois anos em que namorou Antony, 23. O jogador do Manchester United foi cortado da seleção após a publicação da reportagem.
Gabriela afirma que as crises de ciúme eram o estopim para situações de pânico e ameaças. Vinham com xingamentos, puxões de cabelos, socos, cabeçadas e ameaças por parte do jogador. "Ou eu ia ficar com ele, ou ia morrer todo mundo, eu, ele e nosso filho", lembra ela.
A DJ, que está separada de Antony desde maio, conta que decidiu dar um basta na relação após um dos episódios mais violentos que diz ter enfrentado. Após uma briga em casa, Antony teria arremessado um copo de vidro contra ela, lesionando gravemente os dedos de sua mão.
Fotos, vídeos e áudios revelando as agressões foram publicados em reportagem do UOL e integram o inquérito que levou a medidas protetivas de Gabriela contra Antony no Brasil. Uma investigação também foi aberta pela polícia de Manchester após as denúncias da DJ.
Procurado pelo UOL antes da publicação, Antony respondeu, por meio de sua assessoria de imprensa, que não se pronunciaria sobre o caso, que corre em segredo de Justiça no Brasil. Após a publicação, escreveu nas redes sociais que as acusações são falsas.
Leia a seguir os principais trechos da conversa.
UOL - Queria voltar ao início da história. Como você e Antony se conheceram e quando começaram a namorar?
Gabriela Cavallin - Um amigo nosso em comum me chamou para ir a um churrasco na casa dele. Conheci [o Antony] lá. A gente conversou a noite inteira e teve a conexão. Na hora de ir embora, dei um beijo nele. Ele pegou meu celular, me seguiu no Instagram e a gente manteve contato desde então.
Depois ele viajou para as Olimpíadas [de Tóquio, em 2021]. Com a distância, a gente se falava todo dia, ficava dez horas por dia na ligação de vídeo, não dormia, madrugava junto. Quando ele voltou para a casa dele em Amsterdã, uma semana depois, fui para lá e não voltei mais.
Quando soube que estava grávida?
Eu soube ano passado, em maio. A gente veio de férias para o Brasil, e eu estava passando muito mal, com a pressão muito baixa, desmaiando muito.
Achei que eu estava doente, com covid ou influenza. Fiz vários exames e nada. Aí falaram que a opção era fazer um exame de gravidez. Fiz e descobri que estava grávida, acho que de dois meses já.
Em uma das conversas por WhatsApp a que tivemos acesso, o Antony está te encorajando a assinar uma rescisão. Ele pediu para você largar a sua carreira?
Na verdade, era assinar um termo onde eu dizia que ficaria um ano na Europa. Porque, pelo meu contrato, eu não podia sair do Brasil. Tinha que residir em São Paulo e ficar disponível para shows. Ele queria muito que eu fosse morar com ele em Amsterdã. Disse que me daria o suporte que eu precisasse. Acabou que fechei isso com meus empresários e fui morar lá.
Só que aí, cheguei lá, e não foi o que ele me falou, né? Ele ficava com ciúmes do DJ que ia me dar aulas lá, não queria que eu fechasse shows, até o ponto de falar que não queria mais que eu trabalhasse com isso.
Quando você começou a ver nele os primeiros sinais de agressividade?
A primeira vez aconteceu quando eu estava grávida ainda, ano passado. Foi numa discussão. Ele acabou se alterando, me xingando, me ofendendo, me machucando fisicamente, puxando meu cabelo, me segurando pelo braço.
Tentou bater o carro também, quando a gente estava saindo da balada. Falou coisas do tipo que, se eu não fosse ficar com ele, eu não ia ficar com ninguém, que eu estava grávida de um filho dele. Ou eu ia ficar com ele ou ia morrer todo mundo: eu, ele e nosso filho.
Tinha sido a primeira vez. Eu nunca tinha passado por nada nem parecido na minha vida.
Então, ele pediu desculpas dois, três dias depois. Eu estava grávida, não queria ficar sozinha e acabei perdoando.
Foi em junho do ano passado. Em fevereiro, ele voltou a ficar mais agressivo, mais impaciente. Acredito que devido a problemas que ele teve no novo clube [Manchester United]. Ele não estava entregando tanto quanto as pessoas estavam esperando dele.
Ele não falava muito, não externava o que ele estava sentindo, sabe? As agressões eram externas. Objetos, coisas de casa, quarto, e depois de um tempo, em fevereiro, começou a ser comigo.
Brigas bestas mesmo. Às vezes sem motivo. Às vezes, se eu estivesse do lado dele e subisse para o outro cômodo para atender o celular, podia ser minha mãe ou qualquer pessoa, ele já subia me xingando. Já subia quebrando minhas coisas.
Se alguém curtisse minha foto, ele brigava. Se a gente saísse para algum restaurante e eu levantasse sozinha para ir ao banheiro, ele achava ruim. Se eu fosse a alguma festa com ele, cumprimentasse alguém, ele queria me bater. Não podia mais sair sem ele.
Não podia dormir sem estar com o celular na mão. Se estivesse longe dele, tinha que dormir com o celular aberto na chamada de vídeo. Para ele ver que eu estava dormindo e não achar que eu saí.
Meu celular não podia descarregar de madrugada, se eu estivesse dormindo. Tinha que atender sempre quando ele ligava. Se eu não atendia, ele queria me agredir. Se eu demorasse para responder, ele me xingava.
O primeiro caso mais grave foi ainda no ano passado, por volta de junho. Segundo o inquérito, você foi a uma casa noturna, ele foi atrás e vocês saíram de lá de carro. Ele estava alterado e ameaçou bater o carro...
Grave para quem está de fora da situação, entende? Dentro da situação, eu tentei arrumar desculpas para o que estava acontecendo. Falei: 'Ele está bêbado, com a emoção muito aflorada porque descobriu que vai ser pai. Não está pensando direito'.
Ele pegou o carro, começou a dirigir para a praia, a mandar mensagem para mim se despedindo, pedindo para eu cuidar do nosso filho, que ele ia se matar e tal. Então eu fiquei desesperada. Pensei que fosse se matar por minha causa.
Eu mesma arrumei uma desculpa para a atitude dele para aceitar e voltar com ele, porque na minha cabeça eu pensei: 'Nossa, se eu não voltar com ele, ele vai se matar e a culpa vai ser minha. meu filho vai crescer sem pai'.
E o que ele falava para você depois desses episódios?
Que não era ele, que foi um momento de raiva, que ele mesmo colocava na cabeça dele que não tinha feito. Eu falava: 'Mas você tentou bater o carro?'. Aí ele: 'Não é que eu ia bater o carro, só dei uma mexidinha no volante'. Eu dizia: 'Você me deu um tapa'. Ele: 'Não te dei um tapa, eu fui te segurar'.
No dia que ele quebrou meu celular, falei: Você jogou meu celular no chão. Ele respondeu: 'Não, você que derrubou. E não foi eu que derrubei, ele pegou e jogou meu celular no chão'.
Eu tinha noção do que tinha acontecido, mas ele não tinha, ao que parece. Ele diminuía o que ele tinha feito e também colocava a culpa em mim.
Eu me sentia na obrigação de perdoar para ele não fazer nada de mal para ele. Eu aceitava para ele não fazer nada de mal a si mesmo.
Isso tudo aconteceu com você grávida. Qual foi o impacto na sua vida?
Foram os quatro meses em que eu mais sofri na minha vida. Os quatro meses em que eu estava grávida. Pensei até em tirar [o bebê]. Quando descobri que estava grávida, ele estava brigando muito comigo. Então eu falei: 'Melhor eu tirar que eu não tô com a cabeça boa para ser mãe agora. Como vou lidar com ele e cuidar do meu filho desse jeito?'.
Passou um milhão de coisas na cabeça, mas preferi não tirar. Só que foi muito difícil. Eu sangrava todo dia na minha gravidez. Passei minha gravidez toda no hospital praticamente. Eu ia três, quatro vezes por semana no hospital tomar soro, fazer exame.
Esse dia da briga na balada, acordei no outro dia sangrando muito. Fui para o hospital, fiquei três dias internada. Eu falava pra ele no carro que ele sabia que eu estava grávida, que estava me assustando, fazendo meu coração acelerar, com medo. Que não era bom eu ter esses sentimentos, porque uma hora esses sustos não acabariam bem.
E mesmo assim ele nem ouvia o que eu estava falando, dirigindo a 200 km/h, na chuva, na rodovia. Parou o carro no meio da rua, correu para dentro da favela. Aí eu e o amigo dele corremos atrás dele. Eu, grávida, correndo na chuva, de madrugada. Achamos ele deitado na calçada, chorando. Muita loucura.
Uma hora ele estava chorando, uma hora ele estava me batendo. Aí ele chorava de novo; Saía correndo do nada.
Esse dia foi assim: saí da balada 4h30, cheguei em casa 10h da manhã, aconteceu muita coisa durante o caminho, foi com certeza um dos piores dias da minha vida.
Depois desse episódio do carro, você falou que teve um período mais tranquilo. Em janeiro deste ano, há uma conversa na qual ele se incomoda por você ter curtido fotos do Neymar
Não foi nem isso. Eu não curti fotos do Neymar. Eu conheço um amigo dele, o Gil [Cebola], que é um amigo em comum. O Gil postou uma foto com o Neymar e com mais algumas pessoas, e eu curti. Isso quatro anos atrás. Eu nem sabia que o Antony existia nessa época.
Só que o Antony ficava procurando, sabe? Ele entrava no Instagram das pessoas e procurava as fotos antigas para ver se eu tinha curtido. Se eu tinha comentado. Depois que conheci o Antony, nunca mais curti foto de ninguém. Nem falei com ninguém, nem com o Gil nem com o Neymar. Nada.
E poucos dias depois disso você apontou outra agressão, que teria feito você passar por cirurgia
Sim. Também por ciúmes. Eu não lembro exatamente por causa de quem era a briga, mas era alguém que eu já tinha ficado há anos atrás também. Ele tinha muitos ciúmes de pessoas famosas com quem eu já tinha ficado. Não importa se há dez anos ou ontem. Ele não tinha essa noção de tempo e espaço, parece.
Mas foi uma briga por algum motivo desses, alguém que eu já tinha ficado, ciúmes. E aí acabou como acabou, né? Ele me deu um soco no peito e meu silicone virou. Cortou minha cabeça também. Aí eu vim para o Brasil operar, trocar a prótese.
Ele falava: 'Não quis te machucar, foi sem querer, não foi um soco, eu só te empurrei, eu só te segurei na parede, não foi para te machucar'.
Ele bateu o braço na minha cabeça, e eu acho que o relógio cortou. Aí eu falei: 'Você cortou minha cabeça, você me deu uma cabeçada. Ele: 'Não foi minha cabeça, foi o boné que te machucou'. Aí eu respondi: 'O boné não voou na minha cabeça sozinho. Você me deu uma cabeçada e cortou'.
Em fevereiro, também há um episódio em que uma amiga sua presencia coisas. Foi em uma festa?
A gente foi comemorar alguma coisa que ele tinha ganho, algum título. E a gente foi para uma balada e cumprimentei uma menina que eu conhecia. E aí ele perguntou: 'De onde você conhece?' Eu falei: 'Do Brasil. Ela tinha ido até a Inglaterra, porque uma amiga dela ia ser mãe'. E aí ele falou: 'Ah, você não conhece do Brasil, é mentira. Você está saindo escondida de mim. Você conheceu ela aqui, certeza'. E aí ele entrou nisso e virou uma confusão assim do nada.
A gente tinha acabado de chegar na festa. Para não começar uma discussão, eu levantei para ir embora. Ele me puxou pelo cabelo de volta, me colocou sentada no sofá do camarote e aí começou a gritar comigo, bater o dedo na minha cara, me chamar de diversas coisas que ele chamava, me empurrar.
Eu tentava levantar do sofá, ele me empurrava de volta para o sofá, e aí ficou uma confusão a festa inteira. Ele não deixava eu ir embora. Ele também não ia embora, e não parava de brigar. Não dava para resolver. Tinha que ser no tempo dele, do jeito dele. Nada que você falasse interferia nas atitudes dele. A briga durava o tempo que ele quisesse que durasse.
Se ele estivesse brigando há duas horas e do nada ele falasse assim: 'Ó, acabou a briga, vem aqui, me dá um abraço, vem aqui, me dá um beijo'. Eu tinha que ir lá e dar um abraço, dar um beijo nele, e fingir que nada aconteceu.
E na última vez, talvez a mais grave de todas, você diz que ele chegou a te atacar com um copo, que feriu e provocou uma lesão exposta dos seus dedos da mão. Foi ali que você decidiu acionar a Justiça?
Nesse último dia, eu realmente fiquei com medo de não conseguir sair de dentro da casa e de ele me matar. De ele fazer alguma coisa do tipo.
O único que ficou mais preocupado comigo foi o fisioterapeuta dele, que é uma pessoa maravilhosa. Ele me ajudou a sair de lá. Convenceu o Antony a me deixar ir ao hospital.
O Antony trancou a porta de casa e não me deixava sair. E eu com o dedo aberto, com a cabeça aberta, toda machucada. E ele não deixava sair. Quebrou todas as minhas coisas. Pegou meu passaporte. A mãe dele e o padrasto até prenderam ele dentro da quadra de futebol que tinha dentro da sala de casa, envolta por grade, como se fosse um alambrado mesmo.
Ele transtornado, tentando sair de dentro da quadra de qualquer forma, jogando bola de futebol em mim. Jogando celular em mim.
Ele falava que ia me matar, que eu tinha destruído a vida dele. Que, se eu terminasse, ele ia se matar e o filho ia crescer sem pai. E a culpa era minha.
Depois desse dia, eu falei 'chega'. Aí vim para o Brasil e coloquei na cabeça que não voltaria mais, e que precisava acionar a Justiça.
Porque ele estava vindo para o Brasil também, de férias, e fiquei com muito medo de ele vir atrás de mim. Foi aí que eu resolvi ir à delegacia.
Ao longo desse tempo, você tentou conversar com alguém em torno dele, assessores, empresários, familiares, pedir ajuda para alguém? Como essas pessoas reagiram a isso?
O único que sabia era o fisioterapeuta dele. Só que ele me dava o conselho que todo mundo me dava: 'Você precisa terminar'. Só que eu não conseguia. Não é de mim. Nunca fui assim. Sou o tipo de pessoa que, se você me dá um tapa, eu te peço desculpa. Não sou de briga e discussão.
Nesse dia na balada mesmo, fiquei sentada no banco chorando, e ele gritando comigo e fazendo um caos. Veio até uma menina que eu nem conhecia, que trabalhava na balada e perguntou se eu estava bem. E eu falei que não estava tudo bem, que eu tinha medo de acontecer alguma coisa com ele.
Para finalizar, queria que você falasse sobre o impacto que teve na sua vida passar por tudo isso
Está muito difícil ainda. Tenho que ficar à disposição dos meus advogados, tanto aqui quanto em Londres agora. Então não consigo fazer muitos planos. Até por isso ainda não fiz a cirurgia no dedo. Preciso de pelo menos um mês para me recuperar.
Graças a Deus, tenho uma rede de apoio familiar, e minhas amigas sempre estão comigo aqui. Estou tentando fazer coisas para distrair, tentando sair, tentando fazer coisas para voltar a me sentir bem. Voltar a me sentir eu mesma e ser uma pessoa feliz.
Quer voltar a trabalhar tanto com Instagram, rede social, quanto no palco, como eu sempre trabalhei durante anos antes me envolver com ele. Mas, apesar de estar tudo muito confuso, eu me sinto muito melhor hoje. Mais segura. Me sinto muito mais tranquila e leve.
Parece que eu tinha um peso, como as amigas e minha mãe me falavam: 'Você está com um semblante destruído, está até estranho olhar para você.'. Hoje eu não me sinto mais assim.
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O que fazer em caso de violência doméstica?
Se você está sofrendo violência doméstica, seja ela física ou psicológica, ou conhece alguém que esteja passando por isso, pode ligar para o número 180, a Central de Atendimento à Mulher. Ela funciona em todo o país e no exterior, 24 h por dia. A ligação é gratuita.
O serviço recebe denúncias, dá orientação de especialistas e faz encaminhamento para serviços de proteção e auxílio psicológico.
O contato também pode ser feito pelo WhatsApp no número (61) 9610-0180.
Para denunciar formalmente, procure a delegacia próxima de sua casa ou então faça o boletim de ocorrência eletrônico, pela internet.