Valen Bandeira estreia em 'Beija Sapo' e diz curtir comparação com Casimiro
O "Beija Sapo", programa de relacionamento que fez sucesso no início dos 2000, foi ressuscitado e volta ao ar neste domingo (17), em uma produção do Tinder, Pluto TV e MTV. A escolhida para ser a "fada-madrinha" e comandar o programa é a atriz, criadora de conteúdo e comediante Valentina Bandeira, 29.
Universa conversou com a nova aposta do humor brasileiro, que se disse lisonjeada com comparações ao fenômeno Casimiro. "Tem uma raiz machista de me comparar com um homem, mas estão me comparando com o homem mais legal do momento", disse.
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O programa, que ficou conhecido por transmitir um dos primeiros beijos gays da TV brasileira, não quer ficar parado no tempo e deseja estar antenado com o quanto a pauta de gênero no país evoluiu nestes 15 anos de hiato do programa.
Quando tivemos essa conversa sobre representatividade no 'Beija Sapo', o que achei mais legal foi pensar em absorver aquilo como a coisa mais normal do mundo, porque na verdade é normal, né? O que eu não queria era que uma mulher trans nesse programa pensasse 'sou uma mulher trans'. Quero que ela viva o programa como todos.
Confira a íntegra da conversa com a humorista.
UNIVERSA: "Beija Sapo" marcou os anos 2000 e foi pioneiro em programas de relacionamento, mas hoje temos reality shows para todos os gostos e de todas as temáticas. O que ele ainda tem de diferente dos outros?
Valentina Bandeira: É diferente porque é um programa de auditório. É um programa louco, mas ao mesmo tempo um programa clássico, com todas as estruturas de um programa mais antigo, sendo que é extremamente atual. O que o "Beija Sapo" tem para agregar é trazer a galera da internet para uma televisão mais clássica, mas sem ficar careta e chato.
O programa está chique, muito sofisticado e tem pessoas interessantes. "Beija Sapo" tem um elenco engraçado de gente comum, pessoas que vemos na rua. Não são pessoas com corpos surreais. São pessoas autênticas na particularidade que só pessoas comuns podem ter.
Na época, era a única atração do tipo a exibir beijos de pessoas do mesmo sexo, né?
Muito disruptivo (risos).
Desde então o debate de gênero avançou bastante. O que você acha que ainda falta e o que o programa pretende trazer?
Essas questões têm que ser discutidas, pautadas e têm que chegar em espaços de visibilidade, mas o que eu não queria que era uma mulher trans nesse programa pensasse "sou uma mulher trans". Quero que ela viva o programa como todos.
Não quero que a mulher preta esteja lá para falar sobre como é ser uma mulher preta. Ela vai ter milhões de ambientes para ela falar sobre isso, mas naquele espaço é sobre ser, sobre todo mundo poder brincar e para, ali, ela ser só mais uma pessoa que existe no mundo. O programa é feito de pessoas e existe uma pluralidade de pessoas no mundo. Então é só isso, sabe?
Programas como "De Férias com o Ex" começaram agora a trazer mais representatividade de mulheres pretas, mulheres gordas, homens gays. Mas eu acho difícil, falta muito ainda, né? Quando tivemos essa conversa sobre representatividade no "Beija Sapo", o que achei mais legal foi pensar em absorver aquilo como a coisa mais normal do mundo, porque na verdade é normal, né?
O programa vai ser um espaço para todo mundo entrar e brincar. Para a plateia trocar número de WhatsApp entre si. Não é mais um programa só de pegação, é um programa de relacionamento, de pessoas se relacionando de todas as formas possíveis.
Como tem sido a recepção das pessoas com seu nome para substituir a Daniela Cicarelli?
Fiquei angustiada de as pessoas receberem mal, porque a Cicarelli foi muito marcante e elas têm respeito e afeição pela imagem dela. Mas a recepção tem sido muito boa.
Não penso muito na recepção do público antes de eles verem o que eu vou fazer, quero ver o que que eles vão dizer depois que eles virem o que eu fiz. O que importa é o que eles vão pensar daqui em diante.
A MTV Brasil nos anos 1990 e 2000 formou uma geração de comediantes e se fala muito em tentar ressuscitar aquela experiência. Como você imagina uma MTV para a geração Z?
O que fazia a MTV tão interessante ali nos anos 2000 e na década de 1990 era o desprendimento com a forma, com fluidez, despretensão e extroversão. Mas também estamos em momento épico, com pessoas que também fazem esse humor com naturalidade na internet e no YouTube. Nós, que crescemos com MTV, já somos os filhos da MTV. Isso já está sendo feito e construído. Já está acontecendo.
Que conteúdos você consome?
Sou uma pessoa antenada e hipermídia, fico o dia inteiro com a televisão ligada no noticiário e com o YouTube em outra tela. Consumo basicamente a CazéTV, PodPah. Também já consumi muito o Falha de Cobertura, Choque de Cultura, Diva Depressão, Lorelay Fox. São todos amigos que consumo muito. Confesso que eu sou bem rata de YouTube, vendo tudo que aparece pela frente.
Você já falou sobre ser uma mulher que faz comédia em lugares ocupados apenas por homens. Você pode contar algum episódio que você tenha vivido e que tenha sido marcante para você?
Ainda estou elaborando isso. É uma coisa que eu ainda vou saber falar melhor quando conseguir elaborar. Sofremos muitas microviolências o tempo inteiro e tenho muito medo de fazer uma comédia ressentida.
Quando acumulamos muitas microviolências, podemos ser atravessadas pelo ressentimento. Por isso eu tendo a falar pouco disso, porque eu ainda estou elaborando uma forma que não seja desesperançosa.
Ficamos muito cansadas e não quero falar com esse cansaço, eu queria falar como alguém que traz alguma esperança.
Nós, mulheres comediantes, temos que empurrar, chegar dando cadeirada. Os homens estão muito preparados para nos rejeitar, eles já têm uma estrutura inconsciente formada para botar a gente de canto, e ficamos como coadjuvante da história. Não tem isso de fazer a revolução com calma. Tem que sair voadora sim. Qualquer homem superdotado é uma menina normal. Essa é a minha máxima.
E como você está elaborando tudo isso?
Falando sobre, conversando sobre isso em análise e vivendo, tendo experiências. Quase um processo psicanalítico.
Uma diferença entre o início dos anos 2000 para hoje é que há um pedido de posicionamento mais crítico e maior cobrança política em torno dos humoristas, como naquele caso de Léo Lins que também envolveu Fábio Porchat. Como você enxerga isso?
Quero que o Leo Lins vá para a puta que pariu. Com todo o respeito. Posso falar com tranquilidade que aquilo não é humor. É engraçado discutirmos se algo é humor quando crime é um crime. Não existe discussão sobre isso.
O humor é muito rápido, é a representação direta da atualidade, do momento presente. Ele é cúmplice e tem que estar completamente integrado no que está acontecendo no momento do mundo. Uma pessoa que faz uma "piada" como aquela que o Léo Lins fez não está acompanhando isso. Por isso que os programas acabam. O "Casseta & Planeta" emergiu, fez um sucesso do caralho e acabou porque o humor é rotativo, ele precisa estar atual. A graça não existe mais ali, já acabou.
O UOL deu uma manchete com a pergunta "Valentina Bandeira será a próxima Casimiro?". Este tipo de comparações te incomoda?
É claro que como uma pessoa razoavelmente letrada entendo o cunho machista de me comparar com um homem e de estar sempre me comparando com o Cazé ou com Diogo Defante. Mas sei o país onde moro e das limitações, né? E, na verdade, é um grande de um elogio, porque tem a raiz machista de me comparar com um homem, mas estão me comparando com o homem mais legal do momento, com um homem que admiro para caralho. Fico lisonjeada, entendo isso como um elogio. Sou muito fã do Cazé, acabei de trabalhar com ele e foi uma honra muito grande. Das comparações, essa é a mais emocionante de todas.
Você já fez novela, dublagem, programa de entrevistas. O que você ainda espera fazer que não tenha feito?
Algo que acho que vou fazer quando eu ficar um pouco mais velha e que prospecto é botar grana em artista. Queria pegar uma galera de periferia, de favela, artistas incríveis e conseguir linkar eles com marcas e conseguir botar dinheiro neles. Conseguir levar pessoas, porque tudo que faço é pensando na promoção da cultura do Brasil. Eu quero produzir e fortalecer a cultura do Brasil e apresentar a cultura do Brasil para o mundo. Quero estar bem relacionada para poder fazer outras pessoas crescerem. Acredito muito nos artistas brasileiros e quero passar isso adiante.