'Sou uma das sobreviventes', diz Negra Li sobre passado sem sororidade
Na terça-feira (19), Negra Li colocou a plateia na Casa Natura Musical para dançar ao som de seus sucessos. A cantora era a atração musical da noite de entrega do Prêmio Inspiradoras 2023. Depois de cantar "Vai Dar Certo", música que foi tema da novela das sete "Vai na Fé", refletiu sobre a força de acreditar que realizaria seus sonhos. "Quero ser sempre o melhor que sou. Voltar à lembrança do sonho de infância. A Negra Li foi a determinação de uma garota porque uma menina um dia sonhou e colocou na cabeça que eu vou ser. Vou agradecer essa menina", disse.
Ao apresentar "Era uma Vez Liliane", música composta para falar sobre sua trajetória, a cantora também comentou sobre o quando subiu ao palco da Casa Natura Musical em 2022, como uma das madrinhas do Prêmio Inspiradoras, a cantora Negra Li, inspirada por "tanta gente maravilhosa", saiu do script e surpreendeu a todos com uma versão a cappella de "Feeling Good", de Nina Simone.
Natural da periferia de São Paulo, ela conta que se emocionou ao ouvir as histórias daquelas mulheres. "Eu estou aqui, então eu também sou uma delas", diz ter pensado. "Eu sabia que ia dar bom e iam me chamar de novo", brinca a artista, que emocionou o público presente no evento. A premiação é uma parceria entre Universa, a plataforma feminina do UOL, e o Instituto Avon. Accor providenciou a hospedagem das finalistas em São Paulo e Uber, o transporte.
Dias antes da festa, Negra Li conversou com Universa. Contou sobre a preparação para desfilar como madrinha de bateria da Vai-Vai, no Carnaval, sobre seu papel na cena musical brasileira e ter inspirado a protagonista de uma novela, entre outros temas.
Universa: Esta é a segunda vez que você participa do Prêmio. No ano passado, você foi madrinha de duas categorias. Neste, a grande atração musical. Por que é importante para você estar presente em eventos como esse?
Negra Li: Isso impulsiona a gente a querer contribuir mais, sabe? Estar ali como uma das que inspiram é uma honra, significa que eu estou fazendo certo. Eu acho que eu tô no mundo para isso, para fazer a diferença nele e poder fazer parte de um evento desse, onde se reúnem tantas mulheres maravilhosas assim me faz querer seguir.
Você iniciou sua carreira num período em que a cena musical do rap era bastante masculina e assuntos como igualdade de gênero não eram muito abordados - se é que eram. O que significa para você ser uma referência para as novas artistas mulheres do rap nacional?
O grande significado é que eu sou uma das sobreviventes de uma época em que se levantava pouco a bandeira, as mulheres se uniam menos e tinham menos espaços. Então me considero também muito corajosa por ter desbravado novos horizontes. Quando eu decidi fazer minha carreira solo, inclusive o primeiro disco se chama Negra Livre, um nome significativo, eu percebi que eu precisava de mais espaço para tomar minhas próprias decisões, ter independência. Eu tive muita coragem de seguir caminhos novos.
Você inspirou a personagem principal da novela 'Vai na Fé', cuja música tema 'Vai dar certo' é um hit. De que forma esses feitos pessoais podem colaborar na vida de outras pessoas que têm uma origem semelhante à sua, que saiu da periferia de São Paulo para brilhar nos palcos?
Foi uma experiência única receber uma homenagem em vida, né? Ver que eu sou observada, que aqueles traços da minha personalidade serviram para inspirar uma personagem me surpreendeu, porque nem eu achava que eu transparecia tanto da minha religião. [Na novela, a personagem Sol Sol, vivida por Sheron Menezzes, é uma mulher de fé que canta no coral da igreja]). Eu até chorei quando percebi o quanto ela parecia comigo.
Mas foi uma surpresa para você, eles não falaram com você antes?
Olha só, eu tinha esquecido que, quase dois anos antes de a novela sair, eu tinha dado uma entrevista para algumas pessoas da produção para falar sobre a minha vida, sobre como eu lidava com a religião, com a minha profissão. Quem me lembrou disso foi a autora, quando eu fui na festa de lançamento da novela.
Nos últimos anos, vimos temas como igualdade de gênero, combate ao racismo e às violências, sobretudo contra mulheres, se tornarem mais presentes nos debates públicos. Como mulher negra, que avaliação você faz deste cenário? Na prática, tem algo diferente acontecendo?
Olha eu gosto de quando se compartilha informação, quando se tem informação alivia um pouco, porque você percebe que você não está sozinha, você consegue identificar e ajudar de alguma forma. Está melhor por conta disso, por estarmos nos dando a mão. Principalmente quando se compartilha a experiência e faz as mulheres entenderem que elas estão sendo violentadas, porque muitos não sabem, né? Eu mesma. Eu sempre falei que nunca fui agredida, mas eu já fui. Só por não ter saído com o olho roxo achava que não era violência. Então, acho que essa comunicação é muito necessária para que a gente possa ter melhores escolhas se baseando em exemplos melhores. Porque às vezes a gente também normaliza por estar acostumada a ver aquela atitude e achar que é normal.
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Quero receberO Vai-Vai terá enredo sobre o hip hop no próximo carnaval e você será a madrinha da bateria. Como estão os preparativos para esse desafio? E como você se sente representando uma escola tão tradicional?
Nessa reverência da escola aos 40 anos do hip hop nacional não tinha como ser outra mulher que representasse o movimento como eu, com o meu histórico.Não tinha como dizer não! Quando chegou o dia da coroação, parecia que estava realmente ali tomando um reino. Estou muito feliz e honrada por esse convite.
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