Maquiagem promete 'embelezar' partes íntimas, mas... sério, precisa?
Que o mercado está investindo cada vez mais no bem-estar sexual, seja através de cosméticos ou brinquedos, isso não é segredo para ninguém. Mas uma novidade do setor vai mais longe.
Uma marca brasileira lançou uma espécie de maquiagem íntima, que tem pretensões que vão além de colorir as bochechas - os lábios, para o qual ele foi projetado, não são os da boca.
"Muitas pessoas gostam de fazer uma brincadeira diferente ali, no momento da intimidade, e a gente pensou: 'por que não trazer um lip tint que possa ser usado também nas aréolas, na região vulvar, anal e peniana?'", explica Stephanie Seitz, CEO da Intt Cosméticos.
Do ponto de vista médico, o uso da maquiagem íntima é o procedimento "menos prejudicial" frente a cirurgias e outras intervenções. Mas isso não significa que o produto é totalmente livre de riscos - e que traz, de fato, algum benefício.
'Atração por tom diferente'
O produto foi idealizado pela marca, e é fabricado e comercializado por ela. Segundo Stephanie, o lip tint, que tem a anatomia parecida com a de um batom, se adapta a qualquer tom de pele. Na embalagem, o "Sweet Rose" promete deixar a região levemente rosada.
"A gente sabe que uma atração que o pessoal tem é deixar a região com um tom diferente. Muitas pessoas não querem usar clareador íntimo, ou são alérgicas, e sentem baixa autoestima na hora que vai ter relação", completa ela.
O lip tint tem vitamina E e D-pantenol na composição, ingredientes que prometem hidratar e retardar o envelhecimento da pele. A coloração fica por conta de um corante hipoalergênico que, de acordo com a dona da marca, foi testado em 300 mulheres.
Na Beauty Fair, a maior feira do setor na América Latina, o produto foi um dos destaques do stand da Intt. Pela aceitação do público, a marca já pensa em expandir a linha para outras tonalidades, como vermelho e bege.
Marca também criou vibrador líquido
A marca está no mercado de sex shop desde 2007 e já foi considerada pioneira em outros momentos. O carro chefe deles sempre foi a linha cosmética, que hoje tem mais de 150 produtos — os brinquedos vieram só depois.
O primeiro produto que "viralizou" foram os géis beijáveis, que foram apresentados em seis sabores na época. Hoje ele não existe mais.
Anos depois, a marca ficou famosa por seu vibrador líquido — como o próprio nome sugere, o produto é um gel que promove efeito de vibração por causa do jambu na fórmula.
"O lip tint foi uma revolução, porque não tinha. Então, a gente trouxe algo [para o mercado]. Fazemos questão da inovação, de nunca parar e sempre querer trazer coisa nova para o mercado", afirma Stephanie.
Ginecologista alerta para risco de alergia
O uso de cosméticos que alteram a estética sexual, mesmo que de forma momentânea, como a maquiagem, contribui para o debate sobre aceitação do corpo.
"Essa questão merece uma reflexão: o que que leva a querer pintar uma parte intima para torná-la mais desejável? A palavra 'equilíbrio', neste assunto, é sempre bem-vinda", pontua a ginecologista Carolina Cunha, da BP - A Beneficência Portuguesa da São Paulo.
"Tudo o que a gente faz para se sentir melhor, aumenta a autoestima. Só não pode virar uma busca patológica, como o pensamento de 'eu só consigo atrair alguém se tiver um lábio maior, um corpo escultural', por exemplo", explica Carolina.
Procedimento é o 'menos prejudicial'
Por se tratar de uma tinta, a médica acredita que a maquiagem seja o procedimento "menos prejudicial" entre outras possiblidades de alterações estéticas. No entanto, é importante ficar alerta aos componentes e riscos de alergia.
A aplicação do produto, diretamente, não deve causar nenhuma infecção. Mas, se eu aplicar e tiver algum tipo de reação, eu comprometo a barreira da pele que protege. E aí eu tenho uma porta de entrada para alguma bactéria que esteja passando por ali.
Na avaliação da ginecologista, tanto a vitamina E quanto o D-pantenol não oferecem danos a pele. Mas deve-se evitar o uso diário por ter corante e outros componentes.
"Do ponto de vista médico, esse produto é uma tinta e não é feito com nada que tem potencial de causar um dano permanente. As substâncias que têm nele são encontradas em outros produtos. Mas isso é diferente desse produto fazer bem", explica ela.
Para falar de benefícios, segundo a médica, ainda é cedo. "Eu não posso só dizer que [o produto] não faz mal e que ele é recomendado sem ter nenhum estudo comprovando isso. Precisaria estar bem embasado em evidências científicas", pondera Carolina.