Manuela d'Ávila sobre ataques pessoais: 'Essa força eu nunca quis ter'
Colaboração para Universa, em São Paulo
28/09/2023 04h00
Convidada do "Desculpa Alguma Coisa", videocast de Universa com Tati Bernardi, Manuela d'Ávila contou dos ataques que sofreu ao longo de sua carreira política.
Manuela d'Ávila: "Esse papo da mulher forte tem vários significados e todos são horrorosos. A violência política de gênero é disciplinadora de todos os corpos. Ela afasta as mulheres da política, é completamente errado. Ela exige de ti uma força que por um lado você quer ter, porque eu lutei muito pra ocupar os espaços que ocupei. Entrei no congresso nacional pra ser avacalhada pela grande imprensa, que me chamava de musa, que me rebaixava intelectualmente".
Essa força [de receber os ataques] eu nunca quis ter. Nunca foi um atributo que eu quis ter. Eu quis ser inteligente, ser estudiosa, ser amiga dos meus amigos, de luta. Mas forte nesse sentido de aguentar essa violência pessoalizada o tempo inteiro? As críticas à minha ideologia, as minhas ideias, beleza, sempre estive na luta pra isso, pra debater. Mas aí todo dia você chegar em casa e tu olhar e ver que tá ferrando a vida do cara que está casado contigo, tua filha, teu enteado... Manuela d'Ávila
"Eu sei que a coisa que eles mais tem raiva é que eu sou feliz. A minha felicidade é uma arma quente e eles odeiam porque eles são muito infelizes. Eu vou viver muito e vou infernizar demais essa gente escrota que quer destruir a gente. Mulheres felizes incomodam demais os misóginos", completou.
Manuela d'Ávila diz que maternidade foi 'encontro definitivo' com feminismo
A política contou como ter sido mãe "virou uma chave" em sua relação com o feminismo. "São várias coisas juntas que me aconteceram com a maternidade. Primeiro, a maternidade me deu a exata dimensão da necessidade do feminismo. Eu já era. Não fui sempre, era militante, parlamentar, sem me reivindicar feminista. Mas meu abraço definitivo foi porque me dei conta da dimensão do trabalho reprodutivo na organização da sociedade. Tenho um pai que divide responsabilidade, tenho grana pra pagar creche, tenho licença maternidade de 4 meses, estabilidade e mesmo assim, isso fez com que eu passasse a ser outro tipo de pessoa no ambiente que eu frequento. Meu encontro definitivo com o feminismo foi a maternidade. Ele é tão ou mais transformador que o meu encontro com a militância 16 anos antes".
Manuela d'Ávila diz que ser deputada federal foi 'traumático e violento'
Manuela contou como sua experiência como deputada em Brasília lhe fez mal. "Ser deputada federal em Brasília pra mim foi absolutamente traumático e violento. Não existia o termo violência política de gênero. Foi muito violento estar lá. Meu último discurso em Brasília foi um discurso contra um deputado do PSDB que depois de oito anos anos, eu trabalhando, me disse que minha atuação política era porque eu tinha sido namorada de um ex deputado. Um deputado de outro estado que eu conheci quando já era deputada. Foi muito violento, aquilo pra mim impactou muito. Falei: 'Isso é demais pra mim, preciso estar bem pra conseguir fazer política'. Eu fui adoecendo. Em 2014 quando decidi sair, não consegui ir no ultimo mês. De sofrimento profundo. Eu falei: 'não tenho mais condição de ir'".
Manuela d'Ávila diz que descobriu transtorno de imagem durante amamentação
Manuela contou que descobriu um transtorno de imagem durante a amamentação de sua filha. "Eu fui obesa até os 18 e eu me dei conta que eu tinha transtorno de imagem. Eu descobri isso amamentando a Laura, vendo um documentário e eu surtei. Falei: 'Não é que eu sou uma pessoa chata e me acho gorda estando magra, isso é uma coisa que tem nome'. Fiquei neurótica e nunca mais me pesei. Falei: 'Minha filha não vai ter isso'".
Manuela d'Ávila lembra reação a ataque: 'Ia agarrar a pessoa'
A política revelou a Tati Bernardi como foi reagir a um ataque verbal que recebeu. "A primeira vez que eu reagi eu reagi pq ele [marido] foi reagir]. Eu falei: 'Não é ele que vai e eu vou ficar aqui no meu lugar. Foi uma das piores coisas que me aconteceu. Eu me dei conta que não tinha mais medo deles, tinha de mim. Eu ia bater na pessoa. Olhei pro lado e estava a Laura me olhando. Eu ia agarrar a pessoa. Era domingo, 9 da manhã, no mercado, ela falou horrores pra mim na frente da minha filha, do Duca. Quando eu estava indo (na pessoa), estava a Laura me olhando. Eu falei: 'Acabou. O problema não são mais eles. sou eu. Isso é a vitória deles. Eu me transformar em alguém parecida com ele".
Manuela d'Ávila explica por que sua filha não tem babá: 'Seria hipocrisia'
Durante a conversa, a política também explicou para Tati Bernardi por que não teve babá para Laura. "Na rotina nunca tive e achava simbólico. Porque falar que sou uma mulher com as teses liberais que rompeu o telhado de vidro com uma outra mulher ocupando aquela espaço seria hipocrisia. A maternidade impõe uma restrição à participação das mulheres e eu queria falar sobre isso. Tinha um debate naquilo que era importante pra mim".
Manuela d'Ávila exalta relação com o marido: 'Absolutamente livre com ele'
Manuela também exaltou a relação livre que tem com o marido, Duca. "Eu sou absolutamente livre com ele. Quando a Laura era pequena, tinha uma viagem que era a viagem dos meus sonhos. E vários sonhos que eu tinha não realizei porque fui eleita muito cedo. E eu não tinha feito essa viagem pra Noruega. Apareceu uma passagem de milhas e ele falou para eu ir com ela e eu fui. Minha mãe, que teve quatro casamentos, perguntou se a gente estava se separando. Não é que seja fácil ser casada, mas o Duca é muito parceiro das minhas viagens e eu sou das viagens dele. Ele é meu maior parceiro. Muito companheiro", disse.
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