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'Imaginei tudo com eles', diz mulher que perdeu bebês de gravidez quíntupla

Rafaelly narra dificuldades na gestação e após o parto Imagem: Arquivo pessoal

Letícia Marques

Colaboração para Universa

03/10/2023 04h00

Rafaelly de Paula Morais, de 38 anos, e o barbeiro Rodrigo Santos Canário, de 33, esperavam quíntuplos. Por complicações na gestação, perderam dois bebês logo nas primeiras semanas. Os outros três, Álvaro, Antonella e Angelina, nasceram prematuros, mas morreram dias após o parto. A Universa, Rafaelly conta a história da sua gestação —e como vem superando a perda que comoveu amigos e pessoas nas redes sociais.

'Emoção e medo terrível'

"Desde que conheci o Rodrigo, conversávamos sobre ter uma família e filhos, isso sempre foi um sonho. Em 2022, engravidei e foi uma alegria imensa, mas, com sete semanas, acabei perdendo o bebê. Nem chegamos a saber o sexo porque foi tudo muito rápido.

Um ano após essa minha primeira tentativa, fomos abençoados com uma gravidez de quíntuplos. Senti muita emoção e, ao mesmo tempo, um medo terrível porque cinco, de uma vez só, era loucura. Tivemos de mudar a nossa rotina: morávamos em Araputanga, no Mato Grosso, mas tínhamos de ir até Cuiabá, uma distância de 400 km, para fazer pré-natal a cada 15 dias.

Rafaelly e Rodrigo esperavam quíntuplos, mas perderam dois no início da gravidez Imagem: Arquivo pessoal

O deslocamento sempre me gerava muito medo, pois sabia que a gravidez era de risco e, por ser longe, imaginava como seria quando estivesse prestes a ganhar e com contrações, o longo caminho que teria de percorrer para ser atendida.

Tudo estava bem, cheguei à nona semana de gestação e sentia os bebês crescerem dentro de mim. Até que um dia acordei com um pressentimento ruim, chamei meu esposo e disse que estava sentindo algo errado e que precisava ir ao médico. Ele concordou e fomos, novamente, para a cidade vizinha na intenção de adiantar o pré-natal daquela quinzena.

Chegamos ao hospital, entramos para a consulta e o médico, após me examinar, nos deu a primeira notícia dolorosa desta trajetória. Havíamos perdido dois bebês. Foi muito difícil ouvir aquilo, chorei bastante.

Ele explicou que havia dois sacos gestacionais: em um havia três bebês e, no outro, os dois que não resistiram. Senti a perda dos meus dois filhos, mas, ao mesmo tempo, já estava preparada para essa possível fatalidade porque o médico já havia nos alertado sobre essa possibilidade. Não precisei retirar os dois fetos porque eles não estavam desenvolvidos e não atrapalhava a gestação dos meus outros bebês.

A chegada dos bebês

Em julho deste ano, descobrimos que os bebês já estavam encaixando e queriam nascer. O médico nos alertou de que precisaríamos fazer um procedimento para "segurá-los" e evitar o parto prematuro, pois com 21 semanas a chance de sobreviverem eram mínimas. O ideal era que eu conseguisse segurar o parto até as 28 semanas para que eles pudessem ganhar peso e desenvolvessem os órgãos.

Eu orava para chegar às 28 semanas e que eles conseguissem nascer saudáveis. Sentia os pezinhos de cada um deles e sabia as posições: as meninas ficaram nas laterais da minha barriga e o menino, no meio.

Em 22 de julho, comecei a ter contrações, corri para o hospital e me deixaram mais alguns dias de repouso absoluto, mas sentia muita dor, além do normal. Tive contrações e as bolsas estouraram, então o cirurgião disse que não poderia esperar mais para não comprometer a vida dos nenéns e a minha.

Álvaro, Antonella e Angelina nasceram em 1º de agosto de 2023, com 24 semanas, quatro a menos do que os médicos esperavam, e prematuros.

Álvaro foi o primeiro que vimos: consegui pegar na mão dele e ver o rostinho. Finalmente, havíamos nos tornado pais. Antonella e Angelina vieram na sequência e foram direto para a incubadora, por serem muito prematuras.

Meus filhos não ficaram comigo, os vi [peguei] pela primeira vez, depois que nasceram, após três dias que tive alta. Meu marido chegou ao hospital ansioso e logo foi ver nossos bebês. Ele e eu estávamos tão felizes e ansiosos para pegá-los no colo... Não víamos a hora de vê-los e tê-los em nossos braços.

Na UTI

Os bebês ficaram na UTI por 48 dias após o parto — neste tempo, meu marido voltou para nossa cidade para continuar trabalhando, e fiquei com minha mãe e alguns amigos em Cuiabá, pois eu tinha de acompanhar de perto a evolução deles e não poderia deixá-los sozinhos.

Parto dos três bebês ocorreu com 24 semanas, e crianças não resistiram Imagem: Arquivo pessoal

Com sete dias após o parto, perdemos o Álvaro pela extrema prematuridade e por uma infecção que ele tinha. Por ter sido o primeiro a nascer, ele "protegeu" as irmãs da infecção e também protegeu meu útero. Ele, com certeza, foi o nosso protetor, meu e das irmãs. Sua perda foi muito dolorosa para nós.

Antonella faleceu com 16 dias e a Angelina aguentou 48 dias, uma guerreira que ficou firme até o último minuto pelos irmãos. É uma perda irreparável.

Nós imaginávamos tudo com eles, já estava tudo prontinho para recebê-los. Eu e Rodrigo identificamos os traços deles: o Álvaro parecia com o avô paterno, a Antonella lembrava as bisavós, e a Angelina se parecia com meu marido. Cada um tinha um jeito diferente, um traço incrível e único. Ficávamos identificando e sonhando com o nosso amanhã com as crianças.

Tivemos a benção de conhecê-los. Foram muitos guerreiros e são nossos anjos protetores. Hoje, somos pais de seis."

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