'Ai, que lindo': quando elogiar filhos vira problema e como acertar a dose
Ganhar elogio aquece o coração de qualquer pessoa, sobretudo quando o esforço não teve o resultado esperado. Mesmo quando as metas não são atingidas, os esforços devem ser reconhecidos —e as crianças precisam saber disso desde cedo. Mas elogiar por elogiar, sem um motivo atrelado, pode ter efeitos negativos.
Elogios por mera formalidade são ruins para as crianças, explica o psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura, presidente do Comitê de Adolescência da Associação Paulista de Medicina (APM), porque mantém as crianças dentro da zona de conforto. Ou seja, elas tendem a fazer apenas o mínimo, procurando se arriscar pouco, porque já sabem que serão elogiadas.
O excesso de elogios vazios pode gerar até mesmo perda de confiança e uma certa dependência de um olhar externo.
Na infância, o elogio é fundamental para a autoestima e a autoconfiança, principalmente. Mas, precisa ser bem administrado.
"Tem um potencial grande para promover o desenvolvimento saudável e diminuir casos patológicos na vida adulta", diz o psicólogo Carlos Eduardo Pereira, professor do curso de Psicologia da Estácio Juiz de Fora. "Reforce situações positivas e use como ferramenta para diferenciar o que a criança deve ou não fazer."
"O maior elogio está na atenção concentrada e no ato de pensar sobre o que o outro me comunica, então, Além de dizer que o filho é inteligente —e isso é ótimo!—, é importante reconhecer se ele também é dedicado", afirma Bottura.
Quanto elogiar?
O ideal é nem muito, nem pouco.
"O problema do excesso é que vamos criando na criança uma necessidade desse reforço contínuo, como se ela só funcionasse se recebesse algum tipo de elogio", diz Pereira.
Ao longo da vida, adultos nem sempre serão elogiados —na verdade, na maioria das vezes, há bem pouco reconhecimento. Mas a prática de nunca elogiar os filhos também é prejudicial, porque pode gerar uma sensação de que a criança nunca será valorizada, independentemente do que faça.
Por consequência, fica numa busca constante de melhorar e fazer cada vez mais por um reconhecimento que talvez nunca chegue.
"Devemos buscar o equilíbrio, oferecendo uma condição de desenvolvimento saudável, em que o esforço é recompensado e os resultados são reforçados, mesmo que pequenos", indica Pereira.
A aleatoriedade não é ruim
Distribuir elogios mais aleatoriamente não causa mal, desde que tenha seu propósito. A estratégia é boa para fazer os pequenos se arriscarem e saírem da zona de conforto —diferente da ideia de elogiar atitudes e feitos óbvios, que impactam na autoconfiança.
Aqui, não há previsibilidade desse elogio, que serve para reforçar a percepção dos pais no que exatamente os filhos devem se esforçar.
"O importante é dar elogios sinceros, por coisas que não são as mais óbvias.
Um elogio comum como, por exemplo: 'nossa, você parece mais velho do que é', no caso dos jovens, é improdutivo e valoriza mais o parecer do que o ser", aponta Wimer.
Como elogiar
Ao elogiar alguém, é bom ter em mente a função disso: motivar um comportamento para que ele, assim, se repita.
"Precisamos lembrar que o maior medo de uma criança é não ser amada, ela busca o elogio como forma de se sentir aceita. É importante dizer para ela o quanto se é feliz por tê-la como filha", reforça a psicóloga Lala Fonseca, terapeuta cognitivo comportamental.
Mas isso não quer dizer cometer excessos ou comparações, usar moedas de troca ou chantagens emocionais.
Com base nisso, a psicóloga explica alguns momentos certos para comunicar esse elogio e indica algumas maneiras de fazê-lo:
Valorize esforços e evoluções
Sem exageros e de forma sincera, deve-se reconhecer o esforço depositado pelo filho em alguma atividade e, principalmente, sua própria evolução na tarefa. Isso pode ser manifestado, por exemplo, com:
- "Você percebe que, quando se dedica, consegue pintar dentro das linhas?";
- "Você é um bom amigo, conseguiu dar uma figurinha especial para seu colega";
- "Muito bem por guardar seu material na mochila, assim, amanhã nada vai faltar na escola".
Não faça comparações
Na tentativa de corrigir falhas, a comparação pode impactar o futuro dessa criança, fazendo com que ela se torne um adulto que nunca se sentirá bom o suficiente. Por isso:
- Nunca cite algo semelhante a: "Você viu porque seu amigo já escreve e você ainda não? Saia deste videogame!";
- Nem misture o amor com elogio ou reprovação, dizendo "Eu te amo porque você faz a lição direitinho". Prefira dizer: "Fazer a lição faz com que você aprenda o que precisa".
Reforce bons comportamentos
Fortalecer atitudes positivas com elogios é a melhor maneira de repeti-las. Diga:
- "Que lindo está seu quarto! Parabéns por ter arrumado a cama";
- "Por mais que tenha sido difícil, parabéns por ter falado a verdade".
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