'Faltou instrução, chorei até faltar ar': mães lembram a dor na amamentação
Apesar de a maioria das mães dizer que a amamentação é um momento de amor e conexão quase mágico, nem todas têm essa experiência logo de cara. As dificuldades podem ocorrer desde o primeiro dia de vida do bebê e perdurar por bons meses, seja por questões físicas, emocionais ou até 'operacionais'.
Universa conversou com mulheres que viveram um aleitamento bastante desafiador —às vezes, até traumático— que precisa ser esclarecido e divulgado, para quem outras mães não se sintam sozinhas nesse processo.
"Chorei tanto que fiquei com falta de ar"
"Quando nasci como mãe, nunca poderia imaginar que um dos maiores desafios que enfrentaria na minha vida seria a amamentação. Achei que seria algo intuitivo e tranquilo, mas está longe de ser assim! Para piorar, ainda tive um quadro de baixa produção de leite (devido a 'sequelas' causadas por uma cirurgia de mamoplastia redutora) e meu bebê nasceu com a língua presa, o que dificultou o processo e gerou muitas fissuras mamilares.
Ainda na maternidade, fui mal instruída pelas enfermeiras e, em poucos dias, meu filho machucou meu bico todinho.
Depois de todo o sofrimento inicial, na primeira consulta com a pediatra, fiquei extremamente frustrada: mesmo com todo o esforço que estava fazendo, meu filho havia perdido 18% de peso, uma taxa preocupante.
A médica, super a favor do aleitamento materno, recomendou: mais mamadas —fórmula, só em último caso.
Amamentar, de fato, exige muito sacrifício, vontade e entrega. Um dia, tentando extrair sem conseguir quase nenhuma gota, tive uma crise: chorei tanto que fiquei com falta de ar, achei que fosse ter um treco e desfalecer.
Meu marido disse: 'Isso não é vida, esse processo está sendo desumano com você. Vamos comprar a fórmula'. Fiquei decepcionada comigo, mas aceitei.
Consegui continuar a amamentação por nove meses em formato misto, mesmo retornando ao trabalho após cinco meses de licença.
Contei com três fatores que me ajudaram a conseguir amamentar: o primeiro, sem dúvida, foi o apoio incondicional do meu marido, Fellipe, um paizão e parceiro incrível, que esteve presente de forma integral em todos os momentos, participando da amamentação conosco e cuidando do Augusto. Ele chegou a parar de trabalhar um período para dar o apoio que eu precisava.
O segundo foi o suporte de profissionais incríveis no aleitamento, que me ensinaram a encarar tudo de forma mais leve e mostraram que amamentação mista não deixa de ser amamentação.
O terceiro foi a possibilidade de trabalhar de forma remota, com flexibilidade de horários, em uma empresa humana e acolhedora, que abraça a todos sem distinção", conta Verônica Petrelli, gerente de presença digital, mãe do Augusto.
"Se tivesse outro problema, não tentaria mais"
"Quando nos descobrimos grávidas, pensamos que tudo vai ser como nos comerciais de televisão. Mas, diferentemente do que eu pensava, amamentar não é um ato natural, nem para a mãe e nem para o bebê.
Vicente colocava a língua no céu da boca e tentava mamar e isso causou feridas sérias no bico do peito até descobrimos como resolver. Foram uns dois meses de dor.
Depois, tive mastite, que é superdoloroso e diminuiu drasticamente a minha produção de leite. Me vi tendo que complementar com fórmula. Aí veio todo o sentimento de culpa e fracasso por não conseguir amamentar meu filho.
Após um tempo, tudo se normalizou, mas depois dessa experiência e de tudo o que vivi, coloquei na minha cabeça que, se tivesse qualquer novo problema com relação à amamentação, não tentaria mais e iria desistir, pois foi muita dor e sofrimento.
Consegui amamentar por uns seis meses. Com o retorno ao trabalho e toda a preocupação envolvida, meu leite secou", diz Semira Mendes, analista de segurança, mãe de Vicente.
"Em casa, sozinha, é só entre você e o bebê"
"É um momento desafiador, mas também é um momento dourado da fase de ser mãe, depois que você passa pelo primeiro período. Quando engravidei, tinha um desejo muito grande de amamentar. Minha mãe me amamentou só até os três meses e tinha o sonho de fazer o oposto.
Quando grávida, fiz alguns cursos de amamentação e assim que a Bella nasceu, pedi para vir direto para o peito. E aí, meu Deus, foi muito difícil.
O curso é imaginário, na prática é completamente diferente. Tudo o que a gente treina, ensaia, não é nada daquilo. É difícil e muito doloroso.
No hospital, fica só aquele colostro descendo, o leite ainda não vinha. Quando cheguei em casa, o bicho pegou e o leite começou a vir. Mas empedra, dá febre, a criança tem que aprender a mamar.
Ali, sozinha, é uma troca de experiências entre você e o bebê. Me lembro de chorar, porque machucou bem o bico do meu peito. Também chorava porque, devido à dor, pensava que ela não estava mamando e ficaria com fome.
Demorou até que a Bella mamasse muito, com a conexão que eu esperava ter", conta Deia Cypri, apresentadora e influenciadora digital, mãe da Bella.
"Nem sabia que era possível seio 'empedrar'"
"Quando ainda era bem criança, lembro de visitar a amiga da minha mãe na maternidade e, ao chegarmos, ela estava amamentando. Desde aquela época, achei que aquilo era o ponto alto da vida de toda mulher. Adolescente, via os comerciais na TV e desejava amamentar quando chegasse a minha hora —eram cenas lindas em que as mulheres, muito bem arrumadas, riam e faziam cara de prazer durante a amamentação.
Mas quando chegou a minha hora, queria correr para bem longe. Nunca tinham me contado antes que era tão dolorido e, até ficar 'prazeroso' e não doer, era um longo caminho.
Na primeira semana, só chorava dando de mamar, porque o meu seio tinha empedrado. Nunca tinha ouvido falar nisso; nem sabia que era possível!
Como assim um bebê não nasce sabendo mamar? Meus seios ficaram supermachucados, não gosto nem de lembrar.
Mas continuei amamentando aos prantos, porque achava que seria 'menos mãe' se não passasse pelo estágio da amamentação.
Pensei várias vezes em comprar fórmula e até parar de amamentar —o que aconteceu quando minha filha tinha 1 ano e 8 meses.
A única coisa que aprendi nessa fase é que a sociedade não conta para o mundo a realidade da amamentação e essa falta de verdade me levou a ter um trauma por conta da minha alta expectativa. Hoje, não amamentaria novamente.
Pode ser que a amamentação seja realmente esse mar de rosas dos comerciais da década de 90, porém, para mim, não foi", lembra Carol Dourado, farmacêutica, mãe da Ceci.
"Nós duas precisávamos nos entender"
"Senti que algo não estava fluindo bem na amamentação, apesar de a Stella mamar muito. Ela não conseguia manter a boquinha bem aberta e fazia muitos estalos com a língua, logo, se cansava, precisava parar e continuava a mamar na sequência. As enfermeiras falavam que ela tinha uma boa sucção e que a pega estava boa, mas eu sentia dor e meus bicos já estavam fissurados.
Assim que saí da maternidade, fiz laser para cicatrizar e, durante cada mamada, ficava mais machucada. Na primeira semana em casa, foi preciso laser a cada dois dias de tão machucados que meus bicos estavam.
Foi uma consultora de amamentação que identificou que minha bebê tinha um freio grosso e isso poderia estar atrapalhando a pega.
Testei outro posicionamento, fiz mais laser, recorri a odontopediatra e fonoaudióloga para a Stella. Durante a adaptação dela pós-frenectomia, eu tive entupimento nos ductos da mama esquerda, o que aconteceu duas vezes. Foi preciso furar com agulha, tomar anti-inflamatório e, ainda assim, continuava sentindo muita dor.
Chegou momento que, mesmo com toda essa ajuda externa, percebi que era preciso ter uma conexão com a minha bebê; nós duas precisávamos nos entender, trabalhar juntas. Foi aí que ficamos a sós, olho no olho, e eu falei: 'Já tivemos toda a ajuda possível, agora somos nós duas! Me ajuda, filha!'. Nesse momento, as coisas começaram a fluir", relata Natashe Nassif, nutricionista, mãe da Stella.
"Ficava o tempo todo parada, só esperando"
"Quando comecei a amamentar foi bem difícil. A dor era bem grande, fora aquela sensação de estar 'presa' até você se acostumar com aquilo. Meu primeiro filho mamava por bastante tempo —uns 40 a 60 minutos— e, depois, como ele tinha refluxo, precisava ficar bastante tempo no colo para arrotar. Não podia colocá-lo deitado senão voltava tudo. Então, eu não tinha tempo, não conseguia fazer nada, dependia sempre dos outros e não tinha ninguém para me ajudar.
Se tivesse fome ou vontade de fazer xixi, tinha que ficar ali, presa, esperando amamentar. E quando se é mãe de primeira viagem, não tem ideia das coisas que pode fazer ou não.
Então, se você senta para amamentar e não pega o celular ou um livro, esquece. Vai ficar o tempo todo parada, esperando. Às vezes, ficava mais de uma uma hora ali para amamentar, sem ligar televisão, ou fazer algo. Tudo para que ele dormisse e aproveitasse bem o momento.
Foi tão difícil que eu falava que, quando completasse seis meses e um dia e ele começasse a introdução alimentar, eu iria parar de amamentar.
Com o tempo, as coisas se tornam gostosas. Existem as trocas de olhares, ele começa a pegar no seu peito, na sua mão. Foi aí que realmente comecei a gostar de amamentar e não queria que parasse —com 11 meses, ele mesmo parou de mamar. No meu segundo filho, voltou a ser um dilema. Podemos até pensar que fica mais fácil, mas tem a questão da pega e volta a ser difícil até ficar gostoso", relata Melissa Sessak, estrategista e educadora digital, mãe de Julio e Pedro.
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