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Com cenas quentes de sexo, 'O Lado Bom de ser Traída' chega à Netflix

O romance erótico 'O Lado Bom de Ser Traída' ganhou um filme na Netflix Imagem: Divulgação/Netflix

de Universa, em São Paulo

25/10/2023 04h00

Quando começou a escrever romances eróticos de forma independente, Sue Hecker jamais imaginou que um deles ganharia uma adaptação para o streaming. Com 16 milhões de leituras na internet, "O Lado Bom de Ser Traída" chega à Netflix hoje com Giovanna Lancellotti, Leandro Lima, Camilla de Lucas e Bruno Monteleone no elenco. E o que não faltam são cenas picantes de sexo - com direito a muita nudez.

Romances eróticos são frequentemente vistos com preconceito, tanto por leitores quanto pelo mercado. "Na Bienal deste ano, que aconteceu no Rio de Janeiro, rolaram diversos eventos. Nenhum deles foi dedicado à literatura erótica. E são esses livros que tomam conta do ranking dos mais vendidos", diz Sue. O dela, "O Lado Bom de Ser Traída", ocupou o quarto lugar entre os mais vendidos da Harlequin.

Universa já assistiu ao filme. As cenas de sexo estão presentes desde o primeiro momento e não há, digamos, pudor. Elas são sexy e feitas com cuidado, não passam a sensação de vulgaridade. A trama tem um toque de mistério que vai te prender até o final. E se você leu o livro notará que há várias diferenças entre as páginas e o filme, mas que não estraga a experiência.

Em conversa com a reportagem, Sue contou como o acaso fez com que seu livro chegasse à Netflix, e falou sobre a sua inspiração para encontrar um lado bom em ser traída. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Imagem: Divulgação

UNIVERSA: Você se inspirou em alguma experiência pessoal para escrever o livro?
Sue Hecker: Tenho amigas que foram traídas de diversas formas, mas minha mãe é minha principal inspiração. Ela descobriu que meu pai a estava traindo e, assim como a Bárbara, não deu nenhuma oportunidade para que ele se explicasse. Ele já a traía havia anos, mas quando ela teve a confirmação daquilo que desconfiava, juntou todas as coisas do meu pai e colocou na garagem. Não o deixou nem entrar em casa. Eles se separaram na década de 1980 e não era algo comum. Ninguém na família já tinha se separado e minha mãe teve coragem de tomar essa decisão mesmo com três filhos pequenos.

Isso impactou a maneira como você passou a enxergar os relacionamentos?
Acredito que sim. Cresci dizendo que não aceitaria traições e tendo essa referência de não aceitar menos do que merecemos. Minha mãe sempre falava que a ferida só dói enquanto ela está cicatrizando, mas ela vai ficar ali para o resto da vida. Eu tinha sete anos quando tudo aconteceu e já entendia. Cresci com isso. Não sei se não perdoou, não teria que desculpar nada, eu acho. Apenas me desligo. Sem contar que existem vários tipos de traições na vida, como a gente também vê no livro.

E seu pai sabe que ele serviu como uma referência para esse livro?
Ele contribuiu, mas ele ainda não se deu conta do que ele fez. Percebo que, às vezes, ele se arrepende, quando não tem família no Natal e no Ano Novo. Mas é um homem boêmio, tem uma namorada a cada seis meses, gosta de sair, foi casado diversas vezes. A inspiração mesmo foi a minha mãe. Não que eu não admire meu pai. A vida que ele leva é a vida que ele leva. Mas a minha mãe... Ela ainda enfrentou um câncer logo após a separação e, mesmo doente, trabalhava à noite, aos finais de semana e montou uma fábrica de móveis para sustentar os filhos.

Imagem: Divulgação/Netflix

Do livro para as telas

Como rolou o convite para que seu livro fosse adaptado para a Netflix?
Eu estava em uma viagem a trabalho para o Rio de Janeiro, passando por diversas livrarias. A equipe que estava comigo me chamou para sair no final do dia, mas eu não quis, queria descansar. Fui para o hotel jantar e, no restaurante, tinha um homem sentado na mesa do meu lado. Ele puxou papo, perguntou se eu estava a trabalho ou a lazer no Rio. Fiquei meio tensa, por ser uma mulher sozinha ali, então contei tudo. Que estava a trabalho, que era autora e que estava participando de sessões de autógrafos.

Esse homem me disse que era captador de recursos financeiros para filmes e que também estava trabalhando na cidade. Ele perguntou se eu estava com meu livro em mãos. Disse que não, mas que deixaria um exemplar pra ele na recepção no dia seguinte.

Conversamos bastante sobre meus livros, ele contou a história dele, mas nunca achei que ele ia me ligar. Dois meses depois, ele ligou. Era dono de uma produtora e estava interessado em comprar os direitos do livro.

Bárbara (Giovanna Lancellotti) e Marco (Leandro Lima) em 'O Lado Bom de ser Traída' Imagem: Divulgação/Netflix

E foi essa produtora que levou seu livro para a Netflix?
Sim, a produtora da Glaz, Mayra Lucas, lecou para o streaming. Eu vendi os direitos em 2019, em uma longa negociação. Eles fizeram estudos, análises e fechamos. A intenção era de que o filme fosse para o cinema. Mas a pandemia chegou.

Aí eles apresentaram para a Netflix e me falaram que foi amor a primeira vista. Fiquei sabendo dessa mudança no meio da pandemia e eu não pude contar nada. Imagina eu, a autora, que escreve sobre tudo, tendo que guardar segredo! [risos]

E como foi a escolha de elenco? Você tem Giovanna Lancellotti e o Leandro Lima como protagonistas.
Quando escrevemos sempre nos baseamos em alguém e minha referência era o ator mexicano William Levy (protagonista da novela "Café com Aroma de Mulher"). Eu passei as características para a equipe, mas não imaginaria que eles iam escolher pessoas tão parecidas com a minha imaginação. O Leandro é muito talentoso, e está caracterizado para o personagem. Quando vi o teste de química entre ele e a Giovanna Lacellotti fiquei arrepiada. Sabia que eram eles. E a Camilla de Lucas é exatamente como a personagem do livro.

Imagem: Netflix/Divulgação

Infelizmente, a história da Bárbara, de ser traída estando noiva, não é tão incomum. Você recebe feedback de leitoras que passaram pelo mesmo que a personagem?
Não só feedback como diversos pedidos de conselhos. Já recebi mensagem de leitora dizendo que estava em uma relação e começou a se sentir atraída por outra pessoa. Eu sempre falo: 'Você gostaria se fosse com você? Gostaria de ser enganada?'. Tem pessoas que estão em uma fase que se sentem oprimidas no casamento e começam a pensar nisso. Como escritora, é quase como se eu abrisse uma porta e me tornasse psicóloga daquelas que me lêem, sabe? Quando escrevi "Sr. G", que é a história de Patrícia, a melhor amiga de Bárbara, e continuação da série, abri um espaço para mulheres falarem comigo sobre suas intimidades. Elas sentem a liberdade de falar.

Preconceito e desconhecimento

A literatura erótica sofre muito preconceito. Você já passou por situações desagradáveis por escrever esse tipo de livro?
É mais do que só literatura erótica. Eu escrevo romance nacional. Há alguns anos nós procurávamos obras brasileiras desse gênero nas livrarias e não existia. Com o tempo, o número foi crescendo e as pessoas viram que temos autoras incríveis por aqui. Não sei se posso dizer que foi um preconceito, mas foi um árduo trabalho para mudar um comportamento cultural. Inclusive do mercado literário.

Existem autoras independentes que criaram filas de quatro ou cinco horas durante a Bienal do Livro para autografarem suas obras e elas não têm espaço nas grandes editoras. Quantos romances internacionais são publicados por ano? Quantos nacionais? E não adianta me dizer que não vende, porque se você pegar os custos de traduzir e adaptar uma obra estrangeira para o português e investir em marketing e viagens promocionais, a conta fica mais barata para falar sobre os livros que são daqui.

Você já enfrentou problemas nas negociações por ser uma autora de romance erótico?
Não, se achar que algo não é para mim, eu me afasto. E está tudo bem. Porque existem leitores que gostam do meu trabalho. Na Bienal deste ano, que aconteceu no Rio de Janeiro, rolaram diversos eventos. Nenhum deles foi dedicado à literatura erótica. E são eles que tomam conta do ranking dos mais vendidos em alguns sites, por exemplo.

Imagem: Divulgação Netflix

Nem mesmo com o anúncio já feito que meu livro teria um filme na Netflix. E não quero soar soberba, não é isso. Eu até me emociono, sabe? [com voz embargada e olhos marejados] porque nós, autoras de romances eróticos, também fazemos literatura. Desde 2016 eu decidi que ajudaria os romances nacionais a crescerem e é só o que eu consumo.

E para aliviar um pouco, de onde vem sua inspiração para construir os diálogos e cenas de sexo? No livro eles são bem explícitos.
Quando estou criando uma cena no livro é quase como se fosse um poema erótico, que leio muito para me inspirar. Para mim, tem que ter esse toque de poesia. Comecei a ler romances eróticos com 18 anos, escrevi meu primeiro livro aos 40, já tinha lido tudo. Em "O Lado Bom de ser Traída" tem muita fantasia, então tem bastante imaginação.

Sou muito explícita com meu marido, temos essa relação de que gostamos de falar. Tem muita gente que ainda usa expressões americanas, mas sempre recebo feedbacks dizendo que minha obra é bem brasileira, que tem nossa linguagem. Por exemplo, nesse livro tem o fato do Marcos chamar seu pênis de "anaconda". Isso se tornou algo engraçado para quem lia. Já escrevi 22 livros e, em todos eles, os personagens usam uma expressão diferente.

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