'O que aprendi sendo acompanhante me ajuda no curso de psicologia'

Paula Assunção, 33, começou a trabalhar como acompanhante em 2011. Foi a partir desta experiência que ela também resolveu iniciar os estudos em psicologia. O motivo é que os clientes diziam que se sentiam muito bem conversando com ela, quase uma terapia —talvez até mais prazeroso que o sexo.

A Universa, Paula conta como funciona a plataforma Fatal Model, onde tem seu anúncio como acompanhante, além da vida pessoal — com um filho de 15 anos— e os bastidores do trabalho.

"Sempre tive problemas de autoestima"

"Comecei como acompanhante em 2011. Trabalhei por quase um ano e depois parei porque me casei —não foi com um cliente.

Decidi ser acompanhante porque só descobri o prazer sexual saindo com homens que não conhecia, sem existir um vínculo emocional. Não me sentia vulnerável e vi uma oportunidade de ter prazer e ganhar dinheiro. Sempre tive problemas de autoestima e, se alguém paga para estar comigo, é uma forma de melhorar isso.

Mas assim que me formar em psicologia, pretendo parar porque não seria ético e viável manter as duas profissões. Por coincidência, poderia vir a atender a mesma pessoa como psicóloga e acompanhante.

'Plataforma funciona como um classificado de jornal'

O cliente consegue encontrar diversos perfis no Fatal Model, em que estou há 2 anos, o que melhor agrade o perfil dele, e valores por hora. Depois, o site direciona o contato para o nosso WhatsApp. A plataforma é mais um anúncio mesmo. O restante ele confirma tudo comigo.

O anúncio já traz muitas informações, como as características físicas da acompanhante, o que está disposta ou não a fazer. Conversamos para acertar o 'onde, quando e qual horário'.

Paula também estuda psicologia em Porto Alegre
Paula também estuda psicologia em Porto Alegre Imagem: Arquivo pessoal
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Costumo atender homens ou casais. Na maioria das vezes, os clientes são casados, mas quando aparece um solteiro, eu pergunto o motivo da procura.

Eles querem um sexo casual 'sem burocracia', mas até chegar neste ponto, envolve uma conquista. Com isso, existe um medo de iludir a mulher, de que ela se apaixone —e sabemos que às vezes elas também só querem o mesmo.

O que eles acabam descobrindo é que até comigo, um sexo pago, essa parte da conquista precisa ocorrer. Quando conto que sou seletiva com clientes e chego até a recusar alguns, eles percebem que, de uma certa forma, me conquistaram e ficam felizes.

Os casados, por exemplo, sentem essa falta da conquista, do flerte. As pessoas esquecem que em um encontro profissional isso também pode acontecer.

Por que ela escolheu estudar psicologia

Muitos clientes falavam que se sentiam muito bem conversando comigo, que era um momento tão prazeroso quanto o sexo, e eu adoro ouvi-los.

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Mas não foi só isso. Já sofri abuso sexual e sei o quanto isso interfere na vida das pessoas. Acho interesse entender sobre o tema, a mente, o comportamento humano e a sexualidade, para ajudar outras pessoas.

'Também sou mãe e tenho um filho de 15 anos'

Ele estava morando nos Estados Unidos com o pai dele e deve voltar mês que vem para ficar comigo, aqui em Porto Alegre.

Quando ele soube do meu trabalho, o maior choque foi eu não ter contado antes. Mas pensava: 'Será que ele está pronto?'. Com isso, ele descobriu sozinho, alguém acabou contando. Só que ele lidou muito bem com tudo.

Sempre falamos abertamente sobre sexualidade, desde proteção até curiosidades do assunto. Explico que o sexo na vida real não é igual ao que ele pode encontrar na internet, com a pornografia.

Meu filho entende que eu tenho minha vida e deu um super apoio. Disse que, se eu estou feliz, está tudo certo. Vamos ver como vai ser.

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Imagem: Arquivo pessoal

Conversei bastante com ele antes para entendermos como será essa adaptação. Já teve bastante gente da família preocupada com isso, com preconceito, de como vai ser isso. Hoje em dia, as famílias têm contextos diferentes.

Mas os amigos dele aqui do Brasil são meus fãs e vivem fazendo perguntas sobre sexo para mim. Então, acho difícil que ele sofra algum tipo de preconceito. Ele vai acabar ganhando mais popularidade.

Como te disse, a forma que exponho meu trabalho de maneira, sem hipersexualização, me ajuda. A ideia é realmente quebrar estereótipos.

'Não é segredo para ninguém que sou acompanhante'

Todo mundo sabe disso. Aliás, ao lado de um amigo, tenho um show de comédia falando justamente da vida de uma acompanhante. É até uma forma de desmistificar isso e trazer reflexões.

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Acabo sendo muito respeitada exatamente por isso, talvez isso fosse diferente se eu ficasse mais anônima.

Minha faculdade de psicologia me procurou para criar um projeto de extensão que atendesse profissionais do sexo que trabalham em situações mais vulneráveis.

A ideia é unir os cursos de psicologia e enfermagem. Achei muito bacana.

'O que mais acontece é homem querer conversar no encontro'

Meu anúncio fica exatamente focado para esse tipo de público: quem gosta de conversar. Não é coincidência que a maioria dos meus clientes busque 'uma terapia' comigo.

Acho que a coisa fica muito mais interessante. Se fosse só algo sexual, não faria sentido para mim, a situação fica muito objetificada.

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Se existe uma conversa e sei que há um interesse genuíno do cliente em trocar uma ideia comigo, é bem melhor. Às vezes, vira até uma terapia. Como sou estudante de psicologia, acho interessante e fica parecendo até um estágio.

Sempre gostei desse padrão de atendimento, pois tornam as coisas menos impessoais. Já estamos pulando diversas etapas quando vamos para um motel transar com alguém que você nunca viu.

Então, conversar um pouco com aquela pessoa torna as coisas menos mecânicas, mesmo que seja apenas por 20 minutos.

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Imagem: Arquivo pessoal

Gosto de ouvi-los. Percebo que sentem mais satisfação em ser ouvidos do que serem sexualmente satisfeitos. É gratificante notar que fiz a diferença em apenas 1h na vida de alguém que nem conhecia.

'Clientes chegam ansiosos e broxam'

Na primeira vez, geralmente, os homens me contratam para 1 hora. A segunda vez já querem mais tempo, principalmente para conversar. Posso dizer que a parte sexual é a que menos acontece. De 1h de atendimento, o ato sexual em si durante uns 10 minutos.

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Quase todos os clientes gostam de repetir. Isso mostra que é um mito de achar que os homens procuram acompanhantes para ter mais variedade de mulheres. Quando ele se dá bem com a mulher, principalmente pela conversa, ele vai querer repetir. O homem gosta, sim, de intimidade, apesar de as pessoas pensarem que não.

Eles são muito cobrados para serem mais sexuais, ter desejo de transar o tempo todo. Mas a maioria dos homens chega nervoso e ansioso, com grande tendência a broxar.

Conforme conhecemos o outro, o sexo melhora e eles ficam mais tranquilos. As coisas acontecem com mais tranquilidade.

'Homens têm mais ciúmes no ménage'

Quando me procuram para ménage, geralmente, é por parte da mulher, de casais ainda sem experiência. Até prefiro isso do que quando eles acham que são profissionais e já chegam com 'vícios', com tudo muito rápido.

Aliás, um erro comum é achar que esse é só um desejo de homens, por influência da pornografia. Mas muitas mulheres querem me assistir transando com os maridos.

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Outro ponto é que o ciúme e cenas de desconforto ocorrem por parte do marido. As mulheres ficam sempre muito à vontade, geralmente são bissexuais e estavam há bastante tempo sem contato com outras mulheres.

O homem, às vezes, vai com aquele pensamento que será o centro das atenções, mas acaba não sendo e fica decepcionado.

'Já tive dois namorados sendo acompanhante'

Paula tem anúncio na plataforma Fatal Model
Paula tem anúncio na plataforma Fatal Model Imagem: Arquivo pessoal

Os dois relacionamentos falharam pelo mesmo motivo. No começo, eles sentem algo como: 'Nossa, estou namorando uma acompanhante. Pagam para ficar com ela, mas, comigo, ela fica 'de graça', devo ser incrível'.

Só que isso muda quando eles começavam a me imaginar com clientes quando estão comigo, aí acham que meu comportamento é igual, que faço mesmas coisas, e isso vira um problema e acaba.

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Isso se dá muito mais de eu ser acompanhante pública porque aí surgem as coisas do machismo. Todo mundo sabe que aquele homem tem uma namorada acompanhante que está com outros homens e, por isso, ele é corno.

Nunca aconteceu de se apaixonar porque não me permito envolver. Posso ter uma entrega sincera com o cliente, gozar, mas conhecer fora do horário de trabalho, nunca fiz. Apesar de usar meu nome verdadeiro, eu ainda sei discernir duas Paulas.

'Acham que eu passo o dia todo no motel'

Sempre relacionam minha vida com meu trabalho. Esquecem que eu tenho outras coisas para fazer fora disso.

Um dia, avisei a um cliente que só poderia atendê-lo às 15h, e ele reclamou porque queria ser o primeiro do dia. Mas antes disso, eu estava no dentista e, depois, na terapia.

As pessoas esquecem que tenho uma vida além disso. Se eu não posso encontrar alguém em determinado dia, acham que é porque estou trabalhando. Não estou sempre em um quarto de motel. Isso me incomoda muito."

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