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Ela nasceu no circo e conta como é a vida: 'Nunca morei em uma casa fixa'

Giovanna faz parte da 7ª geração do circo da família Imagem: Reprodução/Instagram

De Universa, em São Paulo

06/11/2023 04h00

A vida no circo faz parte do imaginário de muita gente. Seja para quem frequenta tendas ou só viu a magia do picadeiro em produções audiovisuais. Mas há também quem fique curioso com a vida itinerante.

Não ter cidade fixa e morar em um motorhome são partes da realidade da artista circense Giovanna Robatini, de 19 anos, desde que ela nasceu. Filha de palhaço e ilusionista, a jovem viaja pelo Brasil se apresentando no Circo Encantado com bambolês.

Vem de gerações. Eu nasci no circo, assim como meus pais, meus avós, meus tios, meus primos. Sempre foi o meu normal. Eu nunca morei em uma casa fixa.

Mas, quando Giovanna começou a ir para a escola, ela percebeu que os colegas não achavam a sua rotina tão normal assim. E foi durante a pandemia que a artista conseguiu colocar em prática um plano que ela já tinha há muito tempo: mostrar o seu dia a dia.

"Poder mostrar para as pessoas como realmente é a nossa vida. Mostrar que nós somos uma família levando a nossa arte para outras famílias. Muita gente não entendia esse conceito", explicou Giovanna.

Giovanna se apresenta com 50 bambolês no circo da família Imagem: Reprodução/Instagram

A pandemia impactou diretamente a atividade da família de Giovanna. No circo, as únicas fontes de renda partem da bilheteria e das vendas da praça de alimentação. Sem apresentações, não tinha dinheiro.

Como alternativa, o pai de Giovanna precisou deixar a profissão de palhaço e trabalhar como caminhoneiro. Ela, a mãe e o irmão foram para as ruas vender brinquedos, bolas e maçãs do amor. No tempo livre, ela produzia vídeos para o TikTok.

'Como vocês estudam?'

Desde a primeira vez que mencionou que vivia no circo, perguntas não pararam de chegar. Com um público majoritariamente jovem, a principal dúvida ainda é: 'Como você estuda?'

Acho que já gravei uns cinco vídeos respondendo isso. Em cada cidade que o circo passa, estudamos em uma escola diferente. No caso da minha família, escolhemos pelo método do Objetivo. Então, a gente conseguia seguir a mesma apostila e usar o mesmo uniforme.

"Sempre funcionou bem e sempre achei normal estudar assim. Nunca fiquei um ano em uma escola fixa", lembra ela. Somente neste ano, Giovanna conta que passou por cerca de uma cidade por mês. Em outras temporadas, as estadias já foram menores.

"Teve uma época que a gente estava no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, e ficava 15 dias em cada cidade. Às vezes, sete dias, e aí mudava", lembra ela.

E as amizades?

Segundo Giovanna, existe um mito muito grande sobre as amizades. "Falaram em um dos meus vídeos que deve ser ruim para as crianças por não criar laços. Mas a gente consegue, sim, criar laços. A gente se adapta."

Hoje, a internet é uma grande aliada, mas a artista conta que a mãe manteve amizades por carta ao longo de anos - e ainda tem contato com pessoas com quem estudou na juventude.

'Vocês ficam em hotel?'

Outro questionamento a que Giovanna sempre precisa responder é sobre ações cotidianas - 'como ela cozinha, toma banho e dorme?', por exemplo.

"Tem gente que acha que quando chegamos em uma cidade, ficamos em hotel ou alugamos uma casa por temporada. Não! Ficamos nos trailers em volta do circo. É como se fosse um condomínio", explica a jovem.

Giovanna mostra em seus vídeos que a estrutura dos trailers e motorhomes é como a de uma casa: tem sala, quarto, cozinha e banheiro. "Tem cama, chuveiro, ar-condicionado. Tem tudo."

Perrengues

A estrutura robusta é essencial para enfrentar horas de estrada com o circo. Apesar de adorar a vida cheia de mudanças e contato com culturas diferentes, Giovanna considera que os processos burocráticos são a parte mais chata da vida circense.

"Ficamos dois, três dias sem energia, [quando chegamos em um lugar novo] às vezes demoram para vir ligar. Tem cidades que é muito quente e, por mais que a gente tenha gerador para o ar-condicionado, não dá para ficar com ele sempre ligado porque o diesel é caro", pontua.

'Vocês só se apresentam?'

Em um de seus vídeos, Giovanna explica que existem outras funções que precisam ser exercidas pelos artistas circenses fora do picadeiro. É o caso do porteiro, bilheteiro e secretário, por exemplo.

"O secretário é a pessoa que vai antes de todo mundo para a próxima cidade, ele faz toda a parte burocrática do circo: aluguel de terreno, pedido provisório de energia e de água."

No caso da família de Giovanna, seu pai cumpre esse papel. E, ao fazer contato com as prefeituras, já enfrentou situações de preconceito.

"Já aconteceu do meu pai, que faz toda a parte de documentação do circo, chegar na prefeitura e não ser recebido. Mas esse é meu intuito: acabar com esse preconceito. Já consegui mudar a ideia de muita gente", conta.

Como recebem encomendas?

Em outra postagem, ela conta que pode fazer compras pela internet mesmo sem um endereço. Para isso, ela recorre aos tios que moram em uma cidade fixa e visita a tenda com frequência.

Quando está longe, ela tem outras opções. "Ou eu calculo certinho se a compra vai chegar enquanto eu estou naquela cidade e mando para o endereço dos Correios da cidade ou mando para a casa da minha tia e ela encaminha depois", completa Giovanna.

Ainda que tenha uma rotina bem diferente de outras meninas da sua idade, ela não pretende quebrar a tradição da família.

Acho que eu não conseguiria, nem daria conta. A gente se acostuma tanto com essa rotina corrida e de apresentações... Não me vejo fora do circo. Eu gosto muito.

Salário semanal?

Giovanna explica que, diferente de um trabalho convencional, no circo o salário é semanal.

"A gente recebe um valor fixo, independente da movimentação. Mas ele varia de acordo com a apresentação que o artista faz. Normalmente, apresentações de risco costumam ter salários maiores", explica.

"Mas também depende da quantidade de apresentações que você faz. Se fizer 'globo da morte' e ser trapezista, por exemplo, ganha um valor um pouco mais alto", completa ela.

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