Só tem best-seller: escritor conta como consegue atingir público feminino

Nicholas Sparks, 57, passou alguns dias no Brasil para divulgar seu novo livro, "Primavera dos Sonhos" (Editora Arqueiro). Com uma tiktoker como protagonista, e uma pitada de thriller na trama de romance, ele admite que é importante manter os personagens relevantes para as novas gerações de leitores.

E, olha, que fãs não faltam. Em São Paulo, teve quem esperou cerca de quatro horas apenas por um autógrafo. "Ele tem um sorriso lindo", disse uma delas. Mas o encantamento vai para além disso. Nicholas cativa seus leitores com romances intensos que, muitas vezes, ganharam Hollywood.

Vários de seus livros entraram na lista de best-sellers do New York Times, com cerca de 115 milhões de cópias vendidas em todo o mundo, sendo traduzidos para mais de 50 idiomas.

"Acredito que os sentimentos que despertam emoções não mudaram nos últimos 100 anos", disse em entrevista para Universa. Com três filmes em pré-produção e a adaptação de "Diário de uma Paixão" prestes a estrear na Broadway, ele prevê que seu 2024 será cheio.

Universa: Seu novo livro acaba de ser lançado aqui no Brasil e tem uma protagonista tiktoker. Como você faz para se manter atualizado sobre o comportamento da sociedade e o que as pessoas querem ler?
Nicholas Sparks:
É um equilíbrio. Escrevo sobre temas que existem desde sempre: amor, família, lealdade, esperanças, sonhos, sacrifícios. Autores falam sobre isso há anos, então você precisa se manter relevante. Mas falar sobre tecnologia também não é fácil, porque é algo que está sempre mudando.

Lembro que no meu segundo livro, "Uma Carta de Amor", que escrevi em 1998, a protagonista fez uma pesquisa sobre uma cidade usando a internet. E, naquela época, não tínhamos muitos buscadores. Na história, ela encontra três resultados. Hoje, se fizermos a mesma busca teremos milhões. Cometi esse erro. Em "Primavera dos Sonhos", queria que a história fosse relevante para as gerações mais novas, que têm as redes sociais como algo importante. Aí escolhi o TikTok.

E como é seu processo de escrita: primeiro você pensa 'a protagonista será uma tiktoker' ou primeiro a história e os detalhes acontecem de forma orgânica?
Varia de livro para livro, mas geralmente penso primeiro nos personagens. Às vezes, a ideia vem de um tema que eu gostaria de escrever. Outras de personagens ou gerações que quero contemplar.

Você escreve romances para um público majoritariamente feminino há 27 anos. Como sabe o que vai tocar nossas mentes e nos emocionar?
Acredito que os sentimentos que despertam essas emoções não mudaram nos últimos 100 anos. O que é triste? Perder alguém que você ama. Seja seus pais, um avô, seu filho ou amigos. Pessoas choravam por isso há 300 anos e choram por isso hoje.

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Por exemplo, se pegarmos o tema 'não poder lutar pelos seus sonhos'. Acredito que muitas pessoas se identificam. Eu queria participar das Olimpíadas. O corredor brasileiro Joaquim Cruz era um dos meus heróis. Mas ele era melhor do que eu, e não tinha nada que eu pudesse fazer, então desisti desse sonho. E, ao mesmo tempo, uma atitude como essa nos ensina.

As emoções sobre as quais eu escrevo não mudaram e são universais. Acredito que se você ler essas histórias daqui a 25 anos continuará sendo da mesma forma.

E por que escrever romance? Por que você escolheu esse gênero?
Por algumas razões. O amor é a fonte de tudo que há de bom no mundo. Seja perdão, sacrifícios, cuidado, paciência...

A opção era escrever sobre essas emoções ou o que há de ruim no mundo, como inveja, ganância, traição. A gente não ganha nada com isso, não é algo que me chame a atenção. Prefiro escrever sobre o que há de bom.

Outro motivo pelo qual escolhi o romance é porque é muito mais difícil escrever sobre os sentimentos bons da vida e fazer com que as pessoas continuem interessadas em virar as páginas deste livro. Existe uma diferença na atenção que é andar por uma rodovia e nada acontecer e andar pela mesma rodovia e se deparar com carros batendo e corpos voando. Claro que você vai parar para prestar atenção. Por isso que me desafio a escrever algo focado em bons sentimentos que prenda o leitor.

Channing Tatum e Amanda Seyfried em cena de Querido John
Channing Tatum e Amanda Seyfried em cena de Querido John Imagem: Divulgação/IMDb

E você já recebeu algum feedback negativo sobre o comportamento de suas protagonistas?
O que mais recebo é questionamentos sobre o comportamento da Savannah, em "Querido John". Mas essa história aconteceu com meu primo. Não com os mesmo detalhes, mas na essência. Ele tinha uma namorada, eles tinham um futuro juntos, ele estava saindo do Exército para se dedicar a esse relacionamento e aconteceram os ataques terroristas de 11 de Setembro. Com isso, ele optou por se realistar. A namorada disse que ele tinha quebrado a promessa e que não ia esperá-lo. E terminou a relação. E isso acontece, é ruim, mas acontece. E quem sabe? No fim, pode ter sido para melhor.

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Essa era uma das minhas perguntas. Você tem muitos romances com tramas diferentes. De onde tira inspiração?
As histórias vêm de todos os lugares e de eventos que acontecem em minha vida. Às vezes, um livro começa a partir de uma ideia ou de um personagem que quero explorar. Outras, de algo que vi ou li. E tem, claro, quando a inspiração vem da minha vida.

É difícil dizer de onde as ideias vêm, porque penso em diversas até descobrir qual é a certa para o próximo livro. Tento manter minha mente aberta e pedacinhos diferentes de informações vão se juntando. Quando tenho o suficiente, começo a escrever.

Os filmes de romance voltaram com tudo, depois de um longo período esquecidos por Hollywood. Teremos novidades com sua assinatura?
A indústria passou por uma mudança, não há dúvidas. E estou feliz com isso, porque eu também estava em uma pausa. Onze livros meus se tornaram filmes e foi uma fase muito ocupada da minha vida. Não conseguia mais escrever e fazer filmes todos os anos, então diminuí o ritmo.

Tenho três livros em vários estágios de produção: "O Regresso", "Primavera dos Sonhos" e "O Desejo". Esses dois últimos, com o fim da greve dos roteiristas, estão avançando. Tenho esperança que pelo menos um, senão os dois, comecem a ser gravados em 2024.

Os rascunhos dos roteiros já estão prontos e um deles já está até no estúdio. E tem também "O Diário de uma Paixão" sendo adaptado para um musical da Broadway. E está muito bom. Dá para ver partes do livro, partes do filme, mas é algo único. Bom, 2024 vai ser um ano bem cheio...

Te incomoda ver pessoas adaptando suas histórias?
Não. Eu as escrevo para que as pessoas se sintam próximas a elas. E nem todo mundo é leitor. Então como eu faria para que essas pessoas conhecessem minhas histórias? Bom, pode ser por um filme, um musical ou pelos dois. Fico feliz com isso. Existem mudanças, mas a essência da história segue a mesma.

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Nicholas Sparks veio ao Brasil para o lançamento de seu novo livro
Nicholas Sparks veio ao Brasil para o lançamento de seu novo livro Imagem: Divulgação

Os relacionamentos estão mudando. O que as mulheres aceitavam em 1996, quando você escreveu o primeiro livro, elas não aceitam mais. Quais cuidados você toma na construção dos seus personagens homens para que eles não sejam machistas e misóginos?
Eu tenho que estar atento à sociedade contemporânea e entender que os sentimentos mais profundos da sociedade são constantes em nossa cultura.

Não gosto de escrever sobre mulheres indefesas. Minha mãe não era assim, minha ex-esposa não era assim. As mulheres que me cercam não são assim. Também tento criar personagens que são universais, para que as leitoras possam se identificar. Escrevo sobre histórias do mundo real, como as que eu conheço. E tento fazer o mesmo com os homens: eles são comuns, com pensamentos comuns, mas que amam aquela a mulher com toda sua alma. E aquilo é o suficiente.

Mas mesmo esses personagens comuns se tornam exemplos do que as mulheres buscam nos homens. Você se preocupa com isso na hora de escrever?
Sabe, meus filhos já têm idade para se apaixonar e dois deles estão noivos. E são loucos pelas mulheres deles, da mesma maneira que eu era apaixonado pela mãe deles.

Existe muito trabalho entre o casal para que um relacionamento seja duradouro. É preciso paciência, compreensão, ceder... Me vejo em meus filhos, mas na minha opinião o problema aqui nos Estados Unidos é que, majoritariamente, existem dois tipos de casais: aqueles que conhecem alguém e se casam cedo e aqueles que querem casar só quando estiverem com a carreira estabelecida.

Escrevo sobre esses dois tipos. Como o Noah, de "Diário de uma Paixão", que sabia imediatamente que aquela era a mulher da sua vida, e o protagonista de "Primavera dos Sonhos", que esperou.

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