O jeito de gozar muda conforme o tempo? Como a idade influencia o sexo
Heloísa Noronha
Colaboração para Universa*
21/11/2023 04h00
Conforme as pessoas envelhecem, o modo de encarar o sexo também passa por transformações. A idade, é claro, interfere na libido, no desejo e nas preferências. E isso, consequentemente, acaba influenciando na maneira de alcançar e vivenciar o orgasmo, sob o ponto de vista fisiológico e emocional.
Para as mulheres, a questão sempre envolve fatores contraditórios que precisam ser equilibrados. Na puberdade, por exemplo, há um pico hormonal que estimula a vontade de transar e pode intensificar o orgasmo. No entanto, pensamentos permeados por culpa, medo de uma gravidez precoce, consequências sociais do ato e toda a preocupação que envolve a perda da virgindade e o início da vida sexual acabam dificultando o prazer.
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Além disso, tudo, ainda existem o tabu e a repressão que envolvem a masturbação feminina —ao contrário do que acontece com os rapazes, ela não é incentivada culturalmente entre as garotas.
Passagem do tempo
Até os 20 anos, em média, a falta de intimidade e a insegurança podem atropelar a fase de excitação das mulheres, encurtando as preliminares e, consequentemente, dificultando ou impedindo o orgasmo, já que ele necessita de estímulos diretos e indiretos no clitóris para acontecer. Entre os 20 e 30 anos de idade, elas atingem a plenitude do período reprodutivo e o auge da receptividade sexual.
Para muitas, porém, é difícil vivenciar o orgasmo devido à falta de autoconhecimento físico e de um certo receio sociocultural de viver a sexualidade de forma mais livre, sem a necessidade de um relacionamento estável com desejo de reprodução.
A faixa etária que vai dos 30 aos 40 anos é marcada pelo acúmulo de experiências e por uma maior apropriação dos desejos e vontades. A mulher está no pico da responsividade, sente-se mais à vontade em relação ao sexo, mais consciente do próprio corpo e de suas necessidades, mais segura de si, decidida e exigente na cama. Por saber o que quer, também conhece bem os caminhos para atingir isso e, portanto, é comum que nessa fase ela experimente orgasmos incríveis, tanto em quantidade como em qualidade.
A chegada da menopausa, entre os 45 e os 55 anos, promove uma série de alterações físicas derivadas da diminuição do hormônio feminino estrogênio, entre as quais o afinamento da pele e da mucosa vaginal e a redução da lubrificação natural.
A resposta sexual humana possui fases que são divididas em: desejo, excitação, platô, orgasmo e resolução. Com o envelhecimento, ocorrem mudanças nessas etapas. Na resolução, fase após o orgasmo, o corpo pode levar menos tempo para retornar a um estado neutro do que levaria no caso de mulheres mais jovens. Isso dificulta —mas não impede, vale frisar— a obtenção de um novo orgasmo.
Fazer sexo durante a menopausa pode parecer complicado, mas é importante lembrar que o desejo tem um componente emocional importante e, nessa fase, muitas preocupações deixam de existir, abrindo caminho para mais liberdade. Uma vez que o estrogênio é responsável por manter a lubrificação vaginal durante a excitação, a redução dele tende a levar à secura vaginal. O uso de um lubrificante à base de água é imprescindível.
Após os 60 anos, a vagina pode apresentar graus mais intensos de afinamento e perda da elasticidade, mas tanto as sensações de prazer quanto o orgasmo ainda são possíveis. Por isso, é recomendado conversar com um ginecologista sobre tratamentos de reposição hormonal e técnicas como laser e/ou radiofrequência, que amenizam esses incômodos.
Outra mudança é a maior necessidade de estímulos —ou seja, as preliminares devem ser mais prolongadas. Há outras maneiras de alimentar essa motivação: usar a imaginação, recorrer a fantasias, ler romances excitantes, ver vídeos e filmes pornôs, apostar na masturbação, ouvir músicas que despertem as memórias sexuais e por aí vai.
E em relação aos homens?
Assim como ocorre com as mulheres, a fase jovem se caracteriza pela taxa elevada dos níveis hormonais, principalmente da testosterona, o que facilita a excitação e a ereção. Nessa etapa, o tempo de latência, que é o período entre ejacular uma vez e tudo se restabelecer para ejacular novamente, é menor.
O tempo de latência aumenta conforme a idade, o que acaba modificando o jeito de ejacular. Já o adolescente, quando começa a ter relações sexuais, é normal que ejacule antes até de penetrar devido a uma ansiedade natural de desempenho.
Depois dos 30 anos, há o início do declínio hormonal, quando a libido e a excitação começam a diminuir e o volume da ejaculação também, pois tudo faz parte do mesmo processo. Isso faz parte da nossa biologia e não tem muito como evitar.
A balança pende para um maior tempo de relação e um menor número de vezes. O homem adulto tem mais confiança na sua virilidade e consciência de que a mulher também precisa se satisfazer. Por fim, o aspecto emocional tem papel importante no orgasmo também para os homens.
Após os 40 anos, o DAEM (Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino) surge sorrateiramente com quedas graduais dos níveis de testosterona, afetando diretamente a performance física e sexual do homem. Essa condição tende a piorar com a idade, principalmente para aqueles que se alimentam mal, dormem pouco, são sedentários, estão acima do peso ou têm diabetes e hipertensão arterial.
Os 50 anos marcam um declínio hormonal maior, o que faz com que os pacientes sintam diminuição na libido e com que a ereção seja menos imediata. O nível de excitação necessária para atingir a ereção é maior, enquanto o volume da ejaculação geralmente fica reduzido.
Medicamentos indicados para disfunção erétil, como o Viagra, permitem ereção suficiente para uma atividade sexual satisfatória, mas não basta apenas engolir o comprimido para o pênis ficar ereto. Vale lembrar que Viagra não é afrodisíaco, e sim um facilitador. Se não houver estímulos nem erotização na fase pré-sexo, o remédio não vai funcionar.
Fontes: Alex Meller, urologista da UNIFESP e membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein; Franciele Minotto, sexóloga e ginecologista; Mônica Lopes, fisioterapeuta pélvica; Lessandro Curcio Gonçalves, urologista do Hospital Federal de Ipanema e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia do Rio de Janeiro.
*Com matéria publicada em 12/07/2019