Cristã e gay, Marcella Rica critica preconceito: 'Deus salva, não o pastor'

Marcella Rica conta a importância da fé em sua trajetória no sétimo episódio do "Maria vai com os Outros", programa de Universa apresentado pela atriz e colunista Maria Ribeiro. A atriz, diretora e empresária fala do desafio de assumir sua sexualidade e critica quem usa o nome de Deus para espalhar preconceito e ódio.

"Tenho um desejo muito profundo em algum momento de conseguir falar de fé e disso [da sexualidade], porque é muito a base de quem eu sou na vida", diz a artista, que cresceu em uma igreja evangélica.

As pessoas usam o nome de Deus pra balizar um discurso de ódio, é muito grave. Quero falar de Deus para as pessoas da comunidade que se fecham, porque muita gente tem depressão, sofreu muita agressão na vida e eu sei que o amor de Deus, essa fé, esse lugar que é inabalável que você se sente amado e preenchido, um vazio que só ele preenche, não vem do outro, não interessa o que o outro pensa. É o amor de Deus que salva vidas, não é o pastor. Marcella Rica.

Marcella se apaixonou por uma mulher pela primeira vez aos 16 anos, mas não assumiu o relacionamento. Aos 18, teve a primeira conversa com sua mãe sobre o assunto. A atriz disse que as duas sempre tiveram uma boa relação e que ela recebeu apoio desde o início.

"A primeira conversa não foi fácil, nunca é, acho que por uma preocupação dela muito grande em relação a como o mundo ia me receber e por saber que eu já era atriz e tinha feito novela, então existia uma expectativa nesse sentido", afirma. "Ou que eu ia ter que viver escondida, me traria dor de alguma forma ou o que ia perder o trabalho. E eu não julgo ela, acho que em relação a isso não era errado, era fruto da experiência dela e da época".

Quando eu tinha 18 anos, há 13 anos, o Ricky Martin era hétero, eu me lembro do primeiro tweet do Ricky Martin se assumindo gay, eu já gostava de mulheres e eu falei 'meu Deus'. Daniela Mercury foi bem depois disso também, eu já tinha namorado, terminado, namorado, terminado. Lembro que foram os grandes nomes na época que a gente falou 'caramba, agora a gente vai conseguir pelo menos falar sobre isso no meio artístico'. Marcella Rica.

A atriz conta que viu muitos amigos vivendo relacionamentos "no armário" e que ela namorou escondido várias vezes. "Eram relações muito dolorosas".

Hoje, Marcella diz que não se priva de fazer as coisas por medo da opinião alheia —o que inclui não só assumir a própria sexualidade, mas também raspar os cabelos.

Ela cita a atriz Vitória Strada como uma inspiração para ser autêntica. As duas, que terminaram o noivado este ano, namoraram por quatro anos.

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"Ter que criar uma vida em cima de uma vida é muito ruim, então isso é uma coisa que eu vou ser grata à Vitória para o resto da minha vida, o quanto a gente fez isso de forma tão natural e orgânica, porque para mim era um movimento de libertação que eu precisava viver e o quanto essa honestidade impactou outras pessoas e que bom que a gente conseguiu".

O programa "Maria vai com os Outros" vai ao ar às quintas, às 15h no Canal UOL e às 17h no YouTube de Universa.

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