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'Nunca vai usar cropped': como ajudar crianças que são vítimas de bullying

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Imagem: iStock

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Universa

22/12/2023 04h00

Larissa*, filha da recepcionista Jaqueline*, tinha só 8 anos quando foi vítima de bullying por causa de seu corpo. No meio de uma conversa pelo WhatsApp para mostrar o novo corte a duas amiguinhas, o cabelo e os quilos extras da menina foram motivo de desdém e zombaria.

"Já começou com elas falando que o cabelo tinha ficado feio. Quando ligaram por vídeo, ficaram rindo e falando que minha filha nunca usaria cropped, porque era gorda", relata a mãe.

Na conversa remota, Larissa ficou sem reação e não disse nada. "Mas ficou chateada e, depois, me contou sobre o que aconteceu com lágrimas nos olhos. Disse que não era mais amiga das meninas", conta Jaqueline.

A mãe ficou surpresa com o comportamento das outras garotas, que até então eram consideradas amigas da filha, mas já temia que isso eventualmente acontecesse. "Sabia que poderia acontecer, infelizmente", diz. "Entrei em contato com as responsáveis pelas meninas e contei o que aconteceu. Como foi fora do ambiente escolar, apenas avisei a escola e pedi para que a professora observasse alguma mudança no comportamento."

Larissa tem tido acompanhamento médico e praticado atividades físicas por estar "acima do peso, mas nada absurdo", segundo a mãe.

Como identificar

Nem todas as crianças verbalizam as ocorrências para os pais ou responsáveis. Então, vale ficar de olho em mudanças de comportamento —algo esperado em situações de bullying.

Claro que cada criança reage de um jeito, mas há reações mais comuns:

  • não querer ir à escola ou começar queixar-se sem explicar o motivo;
  • fugir das aulas de educação física
  • usar roupas largas e capuz na tentativa de esconder o corpo
  • evitar comer ou comer em excesso, em casos de muita ansiedade
  • tornar-se mais irritável
  • chorar
  • mudar hábitos de higiene
  • ter pouca vontade de sair de casa ou evitar locais públicos

"O bullying pode levar a um quadro depressivo", diz Miguel Bunge, psicólogo clínico infantojuvenil e autor do livro "Criação Consciente".

Há atitudes que vão além do comportamental, como a criança ou o adolescente chegar da escola com a pele rabiscada ou o caderno cheio de xingamentos e imagens inadequadas.

Recomenda-se ainda atenção ao celular, já que a discriminação pode acontecer virtualmente, como no caso de Larissa.

Como agir

Quando os menores relatam o problema e pedirem ajuda, cabe aos pais e responsáveis oferecerem segurança. A primeira atitude dos adultos é escutar o que os filhos têm a dizer, ressalta a psicóloga Áquila Thalita Costa, coordenadora do curso de psicologia da Estácio Feira de Santana.

Depois, procure a escola ou o lugar onde o bullying aconteceu para buscar uma via de mão dupla. Os responsáveis devem ouvir o que os profissionais da educação têm a dizer e compreender em qual contexto essa discriminação vem acontecendo.

Por fim, vale considerar buscar auxílio psicológico para a criança, sobretudo quando o caso já está mais avançado e são notadas consequências e mudanças.

Para trabalhar a questão no dia a dia das crianças, fique de olho nestas dicas dos especialistas entrevistados:

  • Escutar as queixas, perguntar como se sentem e demonstrar interesse sobre como foi o dia na escola --inclusive para obter dados sobre como estão as relações no ambiente estudantil;
  • Buscar uma rede de apoio, incentivando o convívio com outras crianças, sobretudo de grupos diferentes;
  • Incentivar a prática de esportes para aumentar a autoestima e a autoconfiança;
  • Trabalhar constantemente a autoestima da criança, mostrando o quanto ela é valorizada em casa e que não depende das opiniões alheias;
  • Mostrar que o bullying é praticado por crianças que não entendem que essa atitude é errada e pelo medo do diferente, facilitando a compreensão. Isso ajuda a não se importar tanto com os atos em si;
  • Ensinar autonomia, ajudar a impor limites e ensinar maneiras de comunicar, ainda que minimamente, aquilo que não gosta;

* O nome foi alterado a pedido da entrevistada.