Mica Rocha conta que teve receio com maternidade: 'Medo de não dar conta'
Mãe de três filhos, dona de duas marcas de roupas e joias, apresentadora de TV. A empresária Mica Rocha, 37, acumula atribuições e sucesso em cada uma delas. Mas ela gosta de falar sobre fracassos.
"As pessoas estão acostumadas a ver nas redes sociais uma vida de novela em que dá tudo certo. Sempre gostei de falar sobre as partes que deram errado porque isso faz parte, são marcadores de quanto evolui e cresci", diz.
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A maternidade foi um dos momentos em que houve alguns tropeços, segundo ela. "A maternidade não vem com manual e erramos muito. No meu caso, já estou um pouquinho melhor, no terceiro filho, já temos mais noção", diz. "Sei que tenho muitos privilégios. Ainda assim, por várias vezes, senti muito medo de não dar conta."
Neste ano, Mica estrou o MiConta, programa na CNN em que ela entrevista mulheres empreendedoras para falar sobre suas trajetórias de sucesso. Confira a entrevista com ela.
UNIVERSA: Qual é o seu segredo de sucesso?
Mica Rocha: Com a minha maturidade, aos 37 anos, penso que o sucesso está muito relacionado às pessoas que estiveram comigo, que colaboraram com meu crescimento, seja na minha estrutura familiar, na minha rede de apoio, no meu trabalho.
Valorizo muito as pessoas que contribuíram para eu chegar onde estou, para conseguir fazer o que faço. O segredo está na sua rede de pessoas, quem está a sua volta, quem torce por você e te ajuda de verdade.
Como surgiu a ideia do MiConta?
Sou influenciadora digital, criei duas marcas, a Misha e a Open Era. Estou muito focada nesse dia a dia de escritório, gestão de pessoas, liderança, metas. Recebi inesperadamente um convite da CNN para apresentar um programa no canal. Confesso que a minha primeira reação foi dizer que não tinha nada a ver comigo, por ser um canal de notícias. Mas depois entendi que eles queriam um conteúdo leve, com entretenimento também.
Venho de um mundo digital onde faço meus conteúdos, planejo minha carreira. Sempre fui intuitivamente para lugares onde achava que deveria ir. No canal, me deixaram muito livre para criar o programa e escolher a equipe, falar do que gosto e do que é relevante. Então nasceu esse programa de entrevistas com trajetórias fantásticas de mulheres no empreendedorismo.
E o empreendedorismo, para mim, vai desde essa noção mais clássica da mulher dona de uma empresa com colaboradores a mulheres que sejam donas das suas próprias carreiras, suas próprias vidas.
Quais foram as principais dificuldades na sua trajetória profissional?
Já fechei marca que não deu certo, já fracassei em programas de televisão, programas que não tiveram segunda temporada. Adoro falar sobre os meus fracassos e sobre tudo que deu errado, muito mais do que falar sobre sucesso. O sucesso fala por si só, as pessoas veem. Mas é importante elas entenderem que, nesse caminho, existem muitas pedras.
Tem muitos projetos que não dão certo, que nos empenhamos e não rola. Mas as pessoas estão acostumadas a ver nas redes sociais uma vida de novela em que dá tudo certo. Sempre gostei de falar sobre as partes que deram errado porque isso faz parte, são marcadores de quanto evolui e cresci. Não tem sucesso sem fracasso. As pessoas não podem ter medo de fracassar. Isso faz a gente pensar em novas receitas, pensar no que poderia dar certo, no que posso melhorar.
Quando tive minha primeira filha, não sabia o que era ser mãe. A maternidade não vem com manual e erramos muito. No meu caso, já estou um pouquinho melhor, no terceiro filho, já temos mais noção. A vida é aprender com nossos erros.
Em que ideia você apostou e não deu certo e fez você pensar em desistir?
Em 2014, escrevi e produzi um programa que chamava "SOS Pé na Bunda" e foi exibido na Warner Channel. Fiquei muito empolgada para ir ao ar, tive a ideia do programa, mas enfrentamos várias dificuldades na época com a exibição dele. E não teve uma segunda temporada.
Depois disso, fiquei receosa de fazer televisão. Pensava: "Será que eu nasci pra isso?". Mas, logo em seguida, veio um convite para apresentar um programa de viagens. Aprovaram o piloto que apresentei, mas depois de alguns dias recusaram a proposta. No momento que o projeto não foi para frente, eu disse: "Nunca mais vou fazer nada com televisão". E fechei essa porta. Mas, depois de dez anos, a CNN me faz esse convite. Estou muito diferente, muito mais madura e com muito mais clareza do que quero para minha vida.
Para você, foi difícil conciliar o empreendedorismo com a maternidade de três filhos?
Quando tive minha primeira filha, não tinha esse pensamento de que minha carreira estava em jogo, até porque a carreira de um influenciador é muito pautada em mostrar a rotina, as mudanças que a vida proporciona. Ter um filho era um novo assunto que eu dividia com as pessoas. Não trabalhava, como muitas mulheres, em um local fixo em que precisava tirar licença-maternidade —e que, muitas vezes, quando elas voltam, esse lugar foi ocupado por outra pessoa ou essa volta é recheada de preconceito com a maternidade. Não tive isso porque não trabalhava nesse mundo corporativo.
Nesse mundo mais autônomo, tive que me organizar mais. Meu medo era como ser uma mãe presente, como fazer tudo que faço e ser mãe em primeiro lugar. Minha prioridade era a maternidade que, além de tudo, é uma responsabilidade muito grande. Passei a me organizar melhor e, consequentemente, passei a trabalhar mais.
Não foi um momento em que tive que desistir de algo. Eu tinha essa flexibilidade.
Neste caso, acho que foi um privilégio trabalhar com o que eu trabalho e ser mãe. Depois, quando eu tive minha segunda filha, resolvi empreender e foi quando de fato apertou. Senti esse medo de não conciliar a maternidade com a profissão, porque eu tinha um escritório, ainda amamentava minha filha, tinha que me deslocar. Me desdobrei para conseguir dar conta da maternidade.
Sou muito orgulhosa da maternidade que construí. Claro que eu não construí sozinha. Meu marido, Renato [Mimica], é um pai muito presente. Dividimos a maternidade e isso ajuda muito. E fora a minha rede de apoio. Então sei que tenho muitos privilégios na minha maternidade, para uma mulher que trabalha. Ainda assim, por várias vezes, senti muito medo de não dar conta.
No Brasil, muitas mulheres empreendem, na realidade, por necessidade. Que dica você daria para uma mulher que está começando e talvez não tenha experiência com planos de negócio?
Todo mundo merece ter pessoas na vida que ajudam nessa trajetória. Conte com pessoas que estão ao seu lado de alguma maneira, que você possa perguntar, aprender. Não necessariamente algo do negócio em si, mas da vida; algo que te dê força. Pessoas fazem muita diferença.
Quando você vê histórias de empreendedoras, nenhuma começou do nada. Por exemplo, a Cleusa [Maria da Silva], da Sodiê Doces, que já foi uma das convidadas do MiConta. Ela era boia-fria, não tinha nenhum recurso para começar o negócio dela e começou por necessidade. Quando ela conta a história dela, percebemos que diversas pessoas seguraram a mão dela em alguns momentos. Não necessariamente pessoas que a ajudaram financeiramente no negócio ou na estratégia de negócio, mas como suporte emocional. Pode ser ajudar com filho, entregar um bolo.
É muito importante que se apoie mulheres empreendedoras que estão, por necessidade, abrindo seus negócios. Tem dias que são difíceis, a gente acha que não vai dar certo, se pergunta o que a gente está fazendo ali. Mas todas essas histórias que entrevistei no programa são de mulheres muito vencedoras e que começaram a vida empreendendo sem recurso algum.
Você começou sua carreira na internet, com os temas de relacionamento e astrologia. Você ainda tem projetos nesta área?
Comportamento humano é minha paixão. Não consigo olhar para uma história de um jeito raso. Minha mãe, que é psicológa, me ensinou a aprofundar no comportamento humano. Levo muito isso para o meu trabalho. Como empresária, penso que sem inteligência emocional hoje não há produto. Sem isso, não há meta que você coloque que vai ser batida. Precisamos entender pessoas.
Já a astrologia é algo eu levo para minha vida. Não abro uma loja sem ver como está a lua, tento não fazer gravações importantes no mercúrio retrógrado. Tenho superstições. As pessoas que começaram a trabalhar comigo achavam estranhíssimo. Mas depois elas embarcam comigo nisso.
Também levo isso para o MiConta. Falamos da trajetória pessoal de uma empreendedora, então falamos de história, comportamento e a astrologia também. É um diferencial do programa, você poder falar de astrologia na CNN, poder falar de comportamento humano misturando o trabalho.
Não tenho novos projetos ainda ou um livro novo. Tenho até alguns convites, mas eu acho que não é o momento. Estou fazendo bastante coisa, mas com certeza são duas vertentes do meu trabalho que eu uso para muitas frentes.