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'Date diferente': experiência une exercício e teatro para reconectar casais

Projeto Stereo Imagem: Divulgação

Natália Eiras

Colaboração em Lisboa, Portugal

10/01/2024 04h00

"Corra!". "Sincronize seus passos". "Aumente o ritmo". Poderia ser as palavras motivacionais de um aplicativo de corrida ou de exercícios físicos, se não fossem por mensagens que estariam deslocadas em um treino convencional. "Caminhe de costas". "Olhe para o seu parceiro, não para onde está indo."

O "coach" dizia no meu fone de ouvido iluminado, enquanto tentava olhar nos olhos do meu marido no meio de um estádio esportivo em uma noite muito fria de dezembro no alto inverno de Lisboa, em Portugal, onde fazíamos uma atividade imersiva para nos reconectar.

Neste ano, desembarcou na capital portuguesa e em Porto, o projeto Stereo, criado pelo grupo ucraniano Uzahvati. Especializada em performances de repertório e projetos imersivos para empresas e clientes particulares, a equipe desenvolveu uma experiência que une exercícios físicos, podcast e teatro e que promete ser uma opção interessante para casais que estejam à procura de um date diferente.

"A ideia surgiu de um amor profundo e uma crença ainda maior no poder da arte para transformar as pessoas e criar razões para se envolver emocionalmente. O objetivo principal de cada apresentação é envolver os sentidos. Trata-se da oportunidade de viver uma nova experiência emocional, não apenas assisti-la", diz a artista Polina Baranichenko, coordenadora do projeto em Portugal.

É algo novo e exclusivo para os dois. É uma experiência íntima que oferece uma maneira original de estar na atenção plena um do outro, em um contato sensual especial, sem telefones e sem conversas, em silêncio e nos sentimentos.

Projeto Stereo Imagem: Divulgação

Testamos a experiência

Fiquei sabendo de Stereo pelo Instagram. Vi um anúncio que não explicava muita coisa, mas aquilo me intrigou. Principalmente pelo valor: um bilhete para a experiência custa por volta de 50 euros (R$ 266). Um preço alto para os padrões lisboetas. Depois de uma rápida pesquisa, descobri que era um projeto imersivo cujo palco era um estádio esportivo, mais especificamente o Estádio 1º de Maio, no bairro de Alvalade, área residencial de Lisboa.

Eu e meu marido, Alex, estamos juntos há sete anos, dividindo uma casa há seis. Mudamos de país, vivemos uma pandemia global. Como marido de jornalista, ele já me ajudou em coberturas diversas, como a da Parada LGBTQIAP+ de São Paulo (SP) e manifestações pró-Bolsonaro. Vivemos muitas coisas juntos. Então, ele não ficou muito surpreso quando disse que estava pensando em levá-lo a uma experiência imersiva para casais.

Antes do nosso "date diferente", recebi a orientação de usarmos roupas confortáveis, as mesmas que vestiríamos caso fôssemos fazer uma longa caminhada pela cidade. Na data marcada, a nossa host Maria nos perguntou se gostaríamos de deixar os nossos pertences com ela e sugeriu que não usássemos os nossos celulares. Por fim, nos deu dois fones de ouvido iluminados: o vermelho para mim, o azul para Alex. E disse para que caminhássemos para sentidos opostos do estádio.

Corrida com obstáculos

Projeto Stereo Imagem: Divulgação

A ideia de fazer a experiência em uma pista de atletismo surgiu por acaso. "Não encontramos imediatamente um local onde queríamos contar a história dos relacionamentos, mas sabíamos que deveria ser um lugar onde um casal pudesse agir em vez de apenas sentar. Porque os relacionamentos são uma série interminável de ações, feitos e escolhas", afirma Polina.

Assim, era importante que o projeto acontecesse em um espaço que transpirasse uma energia ativa. E um estádio é mesmo uma locação impressionante.

Ele nos proporcionou várias imagens - a de um círculo, ao longo do qual caminhamos e repetimos tudo 'de novo' dia após dia, e a de uma maratona onde os parceiros precisam superar dificuldades, fadiga, monotonia, mantendo seu ritmo e sincronizando-se no tempo.

E, de fato, é uma espécie de maratona. Inicialmente, o participante está sozinho. "Para ser Stereo, é preciso ser 'mono'", diz o coach nos fones de ouvido. Vozes contam pequenas histórias de pessoas à procura de seus parceiros ideais. Enquanto isso, você é motivado a caminhar pela pista de atletismo - é, no entanto, preciso tomar cuidado com os atletas que estão usando o espaço à sério. Hora ou outra, passa um corredor em alta velocidade zunindo por você. Até que, depois de 15 minutos, o áudio diz para você encontrar sua parceria em um lugar onde será a sua "largada".

É quando a maratona do relacionamento começa. Isso significa que você fará uma espécie de "jogging" com o parceiro.

Enquanto trota pela pista de atletismo, atores leem trechos de histórias de casais fictícios falando sobre seus dilemas, mas também sobre o que gostam um no outro. Discorrem sobre o que é a monogamia, as dificuldades da convivência em uma mesma casa, sobre se terá filhos ou não. E são opiniões e situações tão diversas que é difícil não encontrar algo com o qual se identifique. O tipo de "drama" que uma pessoa em um relacionamento conhece bem. Seja uma relação heterossexual ou homossexual.

Descobrimos, mais tarde, que o coach às vezes falava coisas diferentes para mim e para o Alex. Por exemplo, em certa altura, a voz diz para nos separarmos novamente. Depois, para eu ficar parada com os olhos fechados. "Espere por ele, você o está sentindo?", pergunta. Por fim, me orienta a abrir os olhos e buscar pelo meu marido. Não consegui segurar o riso ao ver Alex me procurando no meio do campo de futebol. No carro, voltando para casa, ele me contou que o coach disse para ele ir atrás de mim e que não havia entendido porque eu estava parada no meio do nada com os olhos fechados.

Cada casal, uma impressão

Segundo Polina, mais de 500 pessoas participaram da experiência em Lisboa e Porto em 2023. São casais de diferentes formatos e gêneros, com idades que vão desde os 25 até os 34 anos. O impacto que a experiência tem nas pessoas, por sua vez, é igualmente diverso.

"Alguns a experienciam como uma história romântica, enquanto outros dizem que há questões muito complexas. Há quem diga que não entendeu nada, enquanto para outras pessoas a peça abre um fluxo contínuo de lágrimas. Alguns acham engraçado, agradável e intrigante ver para onde tudo isso leva. Em resumo, Stereo moldado pelo contexto de cada casal", comenta Polina.

Projeto Stereo Imagem: Divulgação

No nosso caso, eu e Alex não soubemos muito bem o que dizer. Maria nos perguntou o que achamos, no que meu marido comentou: "Interessante". É claro que demos risadas de algumas coisas, mas em alguns momentos nos sentíamos perdidos com as instruções.

"Diria que é o tipo de coisa que você deve fazer com quem está afim de viver essa experiência. Se uma das pessoas não estiver disposta, não vai ter uma experiência positiva. O propósito de criar um vínculo não vai ser atingido", comentou o meu marido.

Assim, tem que ir para a sessão de peito e mente abertos. Eu mesma fiquei um tanto envergonhada em fazer a experiência em um lugar cheio de pessoas e aproveitei pouco o momento de reflexão que a atividade propõe.

A performance não possui uma mensagem específica, dual - boa/ruim, certa/errada, faça isso/não faça aquilo. Ela cria um ambiente e um campo para perguntas, onde cada casal ouve e vive sua própria história, dependendo do contexto, profundidade, duração e forma de seus relacionamentos. Acreditamos que o processo de se conhecer em relacionamentos é interminável, comenta Polina.

Ficou interessado? Em janeiro, há sessões de Stereo em Porto, mas logo mais voltam as de Lisboa. Além de Portugal, o projeto está disponível também em Praga, na República Tcheca, e em Cracóvia, na Polônia. No futuro, a empresa pretende levar Stereo para Amsterdam (Holanda), Talín (Estônia), Berlim (Alemanha) e Valência (Espanha).

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