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BBB 24: por que homens não sabem olhar para mulheres sem sexualizá-las?

Yasmin Brunet dança durante festa do BBB 24 Imagem: Reprodução/Globplay

De Universa, em São Paulo

12/01/2024 16h20

O BBB 24 começou há pouco mais de uma semana, mas as falas machistas já estão chamando a atenção. Comentários sobre o corpo da Yasmin Brunet, a transparência de suas roupas e reclamação de um brother sobre uma participante que não quer sexo embaixo do edredom aconteceram em poucos dias.

O primeiro eliminado, Maycon, em uma conversa com Wanessa Camargo e Luigi dentro da casa, disse que tinha medo de olhar para Yasmin. "Cara, eu fico com receio porque minha mulher te acha uma parada 'indesenhável'. Então é muito ruim de eu te olhar, de eu falar contigo, te abraçar, ficar perto [...] Uma mulher daquele tamanho, daquele tipo, que parece uma sereia'", comentou com os colegas. Luigi concordou.

Os dois homens participantes chegaram a dar um exemplo, questionando o que Wanessa acharia se o Dado estivesse em um mesmo lugar que Yasmin, com roupas transparentes e piercing no mamilo.

Isso exemplifica o modo como os homens aprendem a ser homens. A masculinidade no Brasil tem como principal pilar a misoginia, que é o repúdio às mulheres e 'qualidades' relacionadas ao feminino. Valeska Zanello, pesquisadora e professora do departamento de psicologia clínica da UnB

Segundo a especialista, essa misoginia se apresenta de duas formas: ou como discurso de ódio ou com a objetificação do corpo da mulher.

"O objetificação sexual desumaniza o outro. A gente precisa problematizar essa masculinidade. Em vez de assumirem isso como um problema pessoal, o meio que os participantes vêm para lidar com o que sentem é eliminar as mulheres", explica Zanello.

Já Isabela Venturoza, antropóloga, diretora da ONG Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde e doutoranda no Núcleo de Estudos de Gênero Pagu da Unicamp, enxerga o posicionamento como um uso de "humor torto".

"Acho que a fala usa de um humor torto, que pretende ser simpático e respeitoso, mas apenas tenta suavizar a carga machista por trás da fala, que é, sim, objetificante", diz Venturoza. "Esse tipo de atitude diminui as mulheres, como se elas fossem apenas bunda e peito, e não as coloca como pares, dignas de respeito, sujeitos complexos com atributos que extrapolam muito sua aparência física", completa.

Bumbum que é assunto

Yasmin Brunet dança durante festa do BBB 24 Imagem: Reprodução/Globplay

O bumbum de Yasmin é um acontecimento à parte no BBB. Imagens de participantes tentando não olhar, ou virando o rosto quando veem que ela está de costas para eles, até se tornaram memes na internet. Apesar de parecer uma tentativa de "ter respeito para o corpo", especialistas afirmam que isso também é parte da objetificação da mulher.

"O bumbum é um dos principais alvos dessa objetificação, mas há outros, como rosto, corpo e seios. A consequência disso é a mulher aprender a se auto-objetificar para ter uma chance de ser escolhida pelo outro", diz Zanello, que reforça que esse posicionamento também ajuda na criação da rivalidade feminina.

O comportamento dos homens da casa, que estão tentando não ser "desrespeitosos" ao olhar para Yasmin, é, segundo Zanello, um reflexo do autopoliciamento maior, por medo de cancelamento, que existe hoje em dia.

"Acho que as emoções não mudaram tanto. Porque os processos estruturais não mudaram muito. Isso leva tempo e precisamos de políticas públicas de intervenção e promoção de outras masculinidades, que sejam mais eficazes, que devem acontecer na educação", completa Zanello.

Para Venturoza, a sociedade ainda evoluiu muito pouco no sentido da valorização da mulher, já que jovens seguem sendo sexualizados e são vítimas de violência até mesmo em plataformas de jogos digitais.

"Acho que o que mudou, e que reflete em certas transformações sociais, foram nossas vozes, denúncias e a proliferação que discursos críticos têm alcançado. Isso demonstra como certos comportamentos não poderão ser mais 'naturalizados'", diz a antropóloga.

Casal só com 'sexo no edredom'

Nizam e Alane em festa do BBB 24 Imagem: Reprodução/Globoplay

Está rolando um clima entre Nizam e Alane desde que a dupla chegou no programa, mas convicções pessoais da paraense fizeram o brother dar uma pausa e reclamar com outros participantes: ela não quer transar embaixo do edredom.

"Estou desistindo. Estava conversando, ela tem 24 anos, a mamãe falou para ela não fazer nada aqui. Não quer deitar com ninguém, quer ficar só no beijinho. Eu, com 32 anos, o que eu quero de beijinho?", disse em uma conversa na cozinha.

Essa não foi a única vez que o executivo tocou nesse assunto. Durante a festa, ele disse que o rebolado da modelo era encantador, pena que ela não rebolava embaixo do edredom. O casal já trocou algumas carícias, mas não rolou nada além de um selinho.

"Esse comportamento está relacionado à educação afetiva. Mulheres aprendem que a renúncia sexual aumenta o valor dela com os parceiros. Os homens, ao contrário. O valor dele pode estar ligado à virilidade sexual". diz Zanello.

Segundo ela, uma mulher que faça sexo embaixo do edredom na casa, coloca em xeque o seu valor quanto mulher. Já para o homem, isso só chancela a potência de sua masculinidade, porque ele fica com imagem de garanhão.

Isabela Venturoza reforça que sexo é importante para todas as pessoas, independentemente do gênero. "As mulheres não possuem menos desejo sexual e às vezes são tão diretas quanto os homens em situações que ensejam isso", diz.

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