Aperte o play pra gozar: é possível ter 'orgasmo mental' com barulhinhos?
Os vídeos ASMR continuam em alta. São aqueles ruídos de pentes passando por cabelos, barulhos típicos do banho, estouros de plástico bolha, mãos mexendo em substâncias gosmentas...
Também há produções com vozes sussurrantes, rumores para induzir o sono e sons que prometem excitar. O sucesso está na sensação de bem-estar que esses sons provocam —tão intensa para alguns que chega a ser comparada a um orgasmo mental.
Mas o que significa ASMR?
A sigla significa Autonomous Sensory Meridian Response (Resposta Sensorial Autônoma do Meridiano, em tradução livre). O "autônomo" da sigla diz respeito ao sistema nervoso autônomo, que coordena funções das quais não temos controle voluntário, como a respiração, a temperatura corporal e a digestão.
Algumas sensações da ASMR são comparadas à sinestesia, fenômeno no qual a estimulação de uma via sensorial ou cognitiva leva a experiências involuntárias. Pessoas com essa habilidade podem, por exemplo, ver sons, sentir o gosto de palavras ou dor e choques com certos aromas.
De onde surgiu?
A comoção em torno do assunto teve início em 2007, em um fórum virtual sobre saúde, quando internautas começaram a debater sensações estranhas e inexplicáveis que seriam boas.
Uma usuária contou sentir um formigamento no couro cabeludo quando ouvia pessoas falando bem devagar, ruídos de coisas se movimentando bem lentamente e gravações de sons para meditação e relaxamento. Ela chegou a escrever que o formigamento era como um orgasmo, mas apressou-se em dizer que não havia nada sexual na sensação. A comparação com o orgasmo foi apenas no sentido de que a sensação aparecia como uma onda, que começava fraca, atingia um nível máximo e depois passava.
Vídeos com teor assumidamente erótico passaram a proliferar no YouTube. Com nomes sugestivos como ASMR Sex Experience, há vídeos com gemidos, sussurros e até as sonoridades típicas de penetração, masturbação e sexo oral.
Experiência subjetiva
Nem todo mundo é suscetível aos supostos efeitos sensoriais deliciosos promovidos pelos sons. Cada pessoa modula os sons de maneira diferente e nem todo mundo é receptivo a ruídos de sussurros e arranhões, por exemplo. Para alguns, isso dá agonia. Outros nem sequer conseguem fazer a prática com fins de relaxamento.
Algumas pessoas afirmam sentir o mesmo que um orgasmo, um clímax sexual. Mas ainda são necessários mais estudos sobre os efeitos físicos da experiência.
Existe diferença importante entre o orgasmo sexual e o chamado orgasmo mental. O relaxamento que a ASMR provoca tende a levar o corpo à diminuição da frequência cardíaca e ao relaxamento por longos períodos, como até 30 minutos, bem diferente do que esperamos em experiências sexuais. E a atividade cerebral tende a acontecer em locais distintos daqueles associados às vias de recompensa sexuais.
Sussurros e determinados tons de voz são reconhecidos como eróticos por muitas pessoas. Mas o prazer é um conceito que depende de processos cerebrais de percepção e que são moldados pela experiência individual.
Som da intimidade
O som da voz humana sussurrando marca a memória da maioria das pessoas como sendo o 'som da intimidade'. A maioria das pessoas ouviu sussurros enquanto era bebê e recebia afetos e cuidados de um adulto. O sussurro também pode estar ao ouvir um segredo íntimo, ao trocar juras de amor e, principalmente, durante o sexo. Assim, da mesma forma que certos perfumes despertam memórias, alguns sons podem despertar sensações e sentimentos.
Não é necessário que a satisfação de um desejo ou fantasia seja concreta para vivenciar percepções corporais. A satisfação pode ser imaginária e, mesmo assim, gerar prazer. É o caso dos vídeos ASMR com conteúdo erótico, que favorecem a sensação corporal de excitação sexual devido a uma satisfação imaginária induzida por ruídos e sussurros.
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Quero receberFontes: Diogo Haddad, neurologista do Hospital 9 de Julho, em São Paulo (SP); José Carlos Riechelmann, médico sexologista presidente do departamento de medicina psicossomática da APM (Associação Paulista de Medicina); Júlio Pereira, neurocirurgião da Beneficência Portuguesa de São Paulo; e Oswaldo Martins Rodrigues Jr., terapeuta sexual diretor do Inpasex (Instituto Paulista de Sexualidade).
*Com matéria publicada em 08/08/2020
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