Sexo ajuda a melhorar dor de cabeça? O que explica alívio após relações
Heloísa Noronha
Colaboração com Universa*
27/01/2024 04h00
Uma piada bem batida —e machista— já rendeu inúmeros anúncios de analgésicos: uma pessoa (em geral, a mulher, daí o machismo) alega que não quer transar porque está com dor de cabeça. Um remédio milagroso acaba com o problema, para deleite do parceiro, e tudo termina bem.
Por outro lado, há quem argumente que o sexo é um antídoto natural contra a dita-cuja: basta começar a fazer para que ela suma. Mas, afinal, em meio a anedotas ultrapassadas e opiniões com uma certa dose de interesse, o que é verdade?
Vamos aos fatos:
Pesquisa afirma: transar ajuda a melhorar o quadro
Um estudo conduzido pelo departamento de neurologia da Universidade de Münster, na Alemanha, concluiu que o sexo pode ser o analgésico natural para a enxaqueca e a cefaleia em salvas, termo que se refere à dor de cabeça que se repete ao longo de um período de tempo.
A dor surge de uma a três vezes por dia durante um período de tempo que pode durar de duas semanas a três meses. Esses ataques estão ligados ao ritmo circadiano, que é nosso relógio biológico.
Os pesquisadores reuniram dados de 400 pessoas com um dos dois tipos de dor de cabeça e que estavam em tratamento nos últimos dois anos. Mais da metade dos pacientes com enxaqueca que fizeram sexo durante uma crise sentiram uma melhora nos sintomas e um em cada cinco ficou livre de dor no final da relação sexual. Entre as pessoas que sofriam de enxaqueca, 33% disseram que faziam sexo mesmo quando sentiam dor.
De acordo com os cientistas, há uma série de possíveis explicações para os resultados, como as alterações na pressão arterial. Outra das hipóteses para a melhora é que o organismo libera endorfina durante o sexo —o hormônio do prazer e do bem-estar alivia a dor ao agir no sistema nervoso central.
Alívio não atinge todas as pessoas
Apesar de o sexo liberar endorfina, hormônio que realmente combate a dor, ele não é eficaz para todo mundo que sente dor de cabeça. Segundo estudos, mais homens do que mulheres relataram melhora —a explicação é de que elas costumam sofrer mais com o problema do que eles, principalmente por questões hormonais.
Além disso, outros fatores estão em jogo, como o histórico de saúde da pessoa e, claro, a disposição não só física como emocional para transar. Alguns especialistas, inclusive, não recomendam qualquer atividade que exija esforço durante a dor de cabeça. A sensação de pulsação da enxaqueca pode piorar durante a relação sexual.
Porém, é verdade também que uma vida sexual saudável ajuda a prevenir as crises.
Dor de cabeça sexual, uma realidade
Já ouviu falar da "cefaleia orgásmica"? É um tipo de dor de cabeça que surge logo depois do clímax. A causa não é totalmente conhecida, mas sugere-se que possa ocorrer devido à distensão de veias e artérias e a uma reação inflamatória. O tratamento é feito com uso de anti-inflamatórios.
Quem costuma vivenciar episódios pode tomar o remédio entre 30 minutos a uma hora antes da atividade sexual. Entretanto, todo primeiro episódio deve ser investigado para afastar causas mais graves, como uma hemorragia intracraniana. Além disso, todo medicamento deve ser prescrito por um médico.
A cefaleia ligada ao sexo também pode aparecer na fase pré-orgasmo ou orgasmática. E, se acontecer em "trovoadas" (dores de cabeça de forte intensidade), deve ser alvo de investigação para descartar o rompimento de um aneurisma cerebral. De acordo com estudos internacionais, pelo menos 1% das pessoas terão uma dor de cabeça devido ao sexo durante a sua vida —sem maiores consequências.
O sexo, sempre é bom lembrar, leva ao aumento da pressão sanguínea e, consequentemente, eleva o risco de contrações musculares e tensão, causas que podem estar por trás das dores de cabeça. A maioria some em questão de horas.
Fontes: Fabio Porto, neurologista do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo); e Fernando Nakandakare, neurologista do Hospital Santa Cruz, em São Paulo (SP).
*Com matéria publicada em 02/10/2018