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Gemidos, fetiches e todo mundo nu: o que rola numa festa de BDSM em SP

O dress code recomendado é o do BDSM, com máscaras, látex, lingeries e harness, mas não é obrigatório Imagem: Divulgação / Director Nyx

Martina Colafemina

Colaboração para Universa, em São Paulo

06/02/2024 04h00

Diversão segura, sadia e consensual. Esse é o propósito da Let's Play, festa fetichista que acontece mensalmente na Spicy Club, boate de festas liberais em Moema (SP). Ali, há até um playground para iniciantes.

Como funciona

Na fila da entrada, a hostess avisa sobre as regras principais: nenhum tipo de preconceito é tolerado. Machismo, transfobia, racismo, capacitismo, gordofobia e desrespeito aos pronomes das pessoas rendem expulsão sem direito a reembolso. Também é proibido tocar sem permissão.

Já dentro da festa, os jogos são permitidos em todos os espaços, com exceção do wax play —prática em que o dominador pinga cera de velas sobre a pele do submisso—, que tem um espaço específico por segurança. Os únicos registros de imagens liberados são os dos fotógrafos oficiais. Quem quer ser filmado ou fotografado assina um termo de consentimento logo na entrada.

O wax play é uma das práticas do playground para iniciantes da Let?s Play Imagem: Divulgação / Director Nyx

Pessoas usam couro, harness, máscaras, fantasias, adereços, lingeries e plugs —itens comuns do dress code BDSM. É comum esbarrar em trajes como um vestido longo de renda preta que leva no peito uma folha sulfite em que está escrito "Sorria, você está sendo filmado" e na cabeça um adereço que imita uma câmera. E há os que vestem camiseta e calça jeans.

As pessoas às vezes perguntam: posso me trocar aí? Pode. Posso transar na pista? Pode. Posso já ir montado? Pode! É uma festa sobre liberdade.
Mandala, idealizadora da Let's Play

Playground para adultos

Começa o prazer da dor. Por volta das 23h30, uma ruiva tatuada e simpática encaminha a reportagem ao primeiro espaço do playground no hall de entrada da Spicy Club.

"No Impact Play, o pessoal quer experimentar o prazer da dor. Aqui fica um top e um bottom (Top é ativo, quem é o 'dominador'. Bottom é passivo, quem recebe). Esse top vai bater em quem quiser apanhar e também tem uma submissa disponível para levar uns tapas", explica Fennix Queen, a player responsável por recepcionar os iniciantes na edição de janeiro da festa.

Das 0h às 2h, esses espaços são exclusivos para a experiência com os jogadores que estão trabalhando na festa. É como uma experiência guiada, pensada para os curiosos —mas qualquer um pode passar por elas. Fora do horário estipulado, os espaços são livres.

Das 0h às 2h, dominadores e submissos que trabalham na festa realizam os desejos de quem passa pelo playground Imagem: Divulgação / Director Nyx

Fetiche por pés é o queridinho. Fennix sobe as escadas, que levam a um corredor com alguns quartos e uma espécie de sacada que dá visão para a pista de dança no andar de baixo. Ali é o lugar para a podolatria, a queridinha, de acordo com ela. Um dominador e um submisso também ficam à disposição para realizar esse fetiche com quem chega.

"Sempre que um player vai começar uma prática com alguém, é feita uma negociação. Ele vai perguntar o nome, a idade, o que ela espera da prática, se é sua primeira vez e o que trouxe ela até a festa. Tudo isso acontece muito rápido", destaca.

Cada prática dentro do playground tem o limite de 5 minutos. O tempo foi colocado para que todos tenham a chance de passar pela experiência.

Jogos e acessórios ficam disponíveis nos espaços da festa Imagem: Reprodução / Instagram / @letsplayfesta

Local tem sala para glory hole — espaço em que ficam cabines com buracos de interação sexual. O lado desse espaço, há uma porta que leva para a primeira sala fechada, ainda vazia antes da meia-noite. Um sofá redondo fica no meio, cercado por algumas cabines. Fennix explica que ali funcionou o glory hole em edições anteriores. Naquela sexta-feira, não havia glory hole e shibari, uma técnica de amarração.

Voyeurismo: o prazer de olhar o outro. Ela passa pelo corredor, que leva ao outro lado da boate, como um labirinto. Há uma sala igual à primeira, com mais cabines. Desse lugar, vê-se uma sala de vidro no piso inferior, feita para o voyeurismo. "Ainda está vazio. Se fossem 3 da manhã, você só estaria ouvindo gemidos", brinca.

Às 2h da manhã, Mandala sobe ao palco da pista de dança e abre o show de performances. Os ambientes fechados esvaziam um pouco, é um momento aguardado.

O tema da edição de janeiro era o exibicionismo. Os espectadores vibram com as performances que mesclam pole dance, strip tease, toques, beijos e preliminares.

Os shows encerram com uma dinâmica. A trilha sonora muda de um rock mais agitado para o tom sensual de Portishead.

"Ache seu par. Agora vai tocando, sentindo, vai abrindo os botões da camisa, sentindo no embalo da música", diz a apresentadora, que lentamente se despe no palco. O intuito é que todo mundo fique nu. Quem ficar pelado e subir ao palco ganha um drinque.

A podolatria é a prática favorita da maioria dos frequentadores da festa Imagem: Divulgação / Director Nyx

Espaço plural e acolhedor

Os participantes se dividem em uma pluralidade de corpos, gêneros e faixas etárias. O espaço não dificulta a locomoção de pessoas com deficiência, que são vistas participando de tudo.

As performances têm shows e dinâmicas com o público da festa. A cada edição, são atrações diferentes Imagem: Divulgação / Director Nyx

O clima é alegre e todos parecem empenhados em fazer com que os outros se sintam à vontade. "Você pode vir sozinha que vai acabar fazendo amizade", salienta Fennix Queen.

Uma dominadora passa com seu submisso e convida a jogar com ele. Cientes de que falavam com Universa, eles aceitam bater um papo. "Nós frequentamos várias festas. Sou dominadora por prazer, é um lazer, um entretenimento para mim", diz Domme Stella.

A Let's Play é uma das festas que eles frequentam. "O público é diverso. No geral, tem muita gente curiosa aqui. E que sejam todos bem-vindos, até para desmistificar o BDSM, que é uma coisa tranquila, bacana, consensual. É muito importante passar essa mensagem para o público", comenta Stella.

Eles explicam gentilmente que quem vive o BDSM, vive de combinados. Se não é bom para um, não é bom para ninguém.

Valores seguem uma faixa para cada público

A política de preços é um dos pontos com que Mandala se preocupou para garantir a equidade. "As crossdressers, por exemplo, abraçaram muito a Let's por conta dessa diferença. Fico muito feliz por isso", esclarece.

Casais pagam por volta de R$ 220 e consomem R$ 100. Mulheres cis e crossdressers podem participar por R$ 120. Desse valor, consomem R$ 50. Homens cis solteiros pagam R$ 200 e consomem R$ 50. Pessoas trans e não-binárias pagam R$ 30. Os valores variam conforme o lote, mas seguem uma faixa para cada público. Antes de comprar, homens cis solteiros e pessoas trans precisam fazer um cadastro.

No dia 29 de fevereiro, Mandala lançará um spin off da Let's Play. A Let's Play in Off acontecerá às quintas-feiras na Spicy Club. Foi pensada principalmente para as crossdressers. O objetivo é fazer um happy hour para que elas saiam do trabalho e se transformem dentro do clube com privacidade.

"Vamos oferecer camarim para elas e alguns serviços à parte, como sessão de fotos. Não será permitido entrar com celular. Justamente para quem tem vontade de se montar, mas não tem onde. A ideia é explorar o lado B das pessoas", conclui Mandala.

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