Sexo livre: por que você não precisa ser selvagem na cama para transar bem
Heloísa Noronha
Colaboração para Universa*
13/02/2024 04h00
Fetiches, posições mirabolantes, inspiração em cenas de cinema, movimentos que conseguem atingir determinados pontos erógenos, sex toys de última geração, vídeos pornôs... Às vezes há a impressão de que o sexo, para ser bom, precisa ter um toque de selvageria, de inusitado, de incomum, com mil recursos para a experiência ficar ainda mais excitante.
É claro que as novidades são uma força motriz para a vida sexual, mas não se trata de uma regra nem de um conceito que se aplica a todo mundo.
Relacionadas
Há uma certa convenção social e cultural de que o sexo de qualidade é sempre muito enérgico e até performativo. Isso é reforçado em filmes pornográficos, na mídia e nas redes sociais, e leva as pessoas a acreditarem que é preciso ter essa intensidade para ser bom. Essa imposição implícita funciona quase como uma 'ditadura do sexo', que mostra que, se não as pessoas não vivenciam o sexo assim, então ele é ruim. Porém, o que é bom ou não é algo relativo e varia de pessoa para pessoa e de casal para pessoa.
A busca frequente por mais emoção no sexo pode trazer alguns riscos, como a insatisfação constante, como se o que existe não é suficiente. Isso muitas vezes está relacionado a comparações injustas e distorcidas com o que é visto na TV, nos filmes pornôs etc. Muitos tendem a valorizar apenas o que não têm e erroneamente acreditam que não é necessário se dedicar para fazer um sexo gostoso.
O melhor afrodisíaco
Os mitos e tabus existentes sobre o sexo são alimentados há séculos. Do total recato às fantasias desenfreadas, o comportamento sexual sempre despertou interesse, modismos e repressão. E, mesmo nos dias atuais, ainda existem as ditas 'regras': isso pode, isso não pode, etc... O melhor afrodisíaco, a melhor fantasia, o melhor acessório é a química entre os envolvidos. Se ela existe não é necessário nenhum incremento, a não ser que as pessoas decidam variar, inventar, experimentar.
O sexo deve acontecer de maneira livre, não seguir um "script de fantasias". O modelo de "sexo selvagem" é mais uma exigência ditada pela indústria do sexo que vende pornografia e brinquedos eróticos, entre outros símbolos de consumo, que visa os ganhos ditando novos padrões de sexualidade humana.
Cabe às mulheres aproveitarem essas alternativas, até mesmo para quebrar a rotina, possibilitando novos prazeres, mas sem invalidar o sexo tido como básico.
Aqui é bom ressaltar que o sexo "básico" para uma pessoa pode não ser considerado assim para outra - e que, independente do ponto de vista, pode ser, sim, excitante e prazeroso. Sexo gostoso de verdade é quando as pessoas conseguem estar 100% no momento, entregues à relação, sem pensamentos em outros lugares. Há uma troca, uma via de mão dupla, em que ambos estão focados nas sensações, na exploração do corpo como um todo e não pensando em seguir um roteiro com a obsessão de chegar ao orgasmo, por exemplo.
A prioridade é a entrega
Sexo gostoso não é sobre fazer alguma coisa diferente, é sobre estar ali de corpo e alma presentes, com todos os sentidos estimulados. Muita gente não gosta de inovar e está tudo bem. As principais dicas para essas pessoas são aproveitar o que gostam, manterem o olho no olho, o corpo no corpo e comunicarem o que gostam.
Assim, a vida sexual pode se manter saudável em relações tanto curtas quanto longas. Isso é extremamente benéfico, já que muitas pessoas acabam criando necessidade de fantasias e acessórios nas relações porque não se entregam e tentam disfarçar isso com situações mirabolantes. Não funciona. Como tudo na vida, menos é mais, desde que tenha qualidade.
Fontes: Carolina Freitas, mestre em Psicologia; Danni Cardillo, sexóloga especializada em Tantra e sexologia humanizada; Paula Napolitano, psicóloga e terapeuta sexual; e Rosely Salino, psicóloga, sexóloga e terapeuta de casais
*Com matéria publicada em 27/06/2020