GTA terá delegacia para mulheres denunciarem assédio dentro do jogo
Camilla Freitas
De Universa, em São Paulo (SP)
08/03/2024 18h08
Agora o GTA RP terá uma delegacia para mulheres denunciarem assédio, constrangimento e outros tipos de violência que sofrem de outros jogadores sem precisar sair da plataforma.
A primeira e-delegacia exclusiva para mulheres, para receber denúncias reais, foi uma criação da ONG Wonder Women Tech, ou WWT, que incentiva a inclusão feminina no mundo da tecnologia.
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A ideia é que as jogadoras consigam fazer boletins de ocorrência dentro do próprio jogo. Ao sofrer ou presenciar situações de violências contra mulheres, a pessoa pode salvar as provas dentro da própria plataforma e levar seu avatar digital a um ponto de apoio onde um totem será aberto e instruirá o registro de um boletim de ocorrência eletrônico dentro do site oficial da polícia.
Ao finalizar o preenchimento, as informações seguirão os trâmites normais de apuração das ocorrências por autoridades oficiais.
Segundo dados da Pesquisa Gamer Brasil (2022), o Brasil ocupa a quarta posição no ranking da América Latina no consumo de jogos eletrônicos, e 51,5% desses consumidores são mulheres, um fator determinante para a escolha do país para pilotar o projeto —que está em fase beta.
As vozes das jogadoras femininas têm sido sufocadas pelo assédio e violência. Lançar uma estação de e-polícia não é apenas uma inovação, é uma declaração de que a era do silêncio e do medo acabou. Merecemos nos sentir seguras. Lisa Mae Brunson, Fundadora da Wonder Women Tech
O impacto que a iniciativa pode ter
Muitas vítimas deixam de denunciar seus agressores por enxergar impunidade dentro desse território online. Esse tipo de violência, contudo, não é só um comentário durante o jogo e afeta a vida de muitas mulheres.
Uma pesquisa divulgada em 2023 mostrou que 49% das mulheres gamers já sofreram algum tipo de assédio enquanto jogavam ou transmitiam lives na internet. Delas, 27% temem que esses ataques ameacem a própria vida.
Outro número ainda mais impactante é que uma em cada dez entrevistadas cogitou tirar a própria vida após violências online.
A pesquisa foi realizada pela Sky Broadband, uma das maiores companhias provedoras de internet do Reino Unido.
Lisa Mae Brunson comenta que agora, com a nova ferramenta, as jogadoras terão um canal de ajuda para repreender a violência de alguma forma.
"Essa ferramenta incorpora nosso compromisso em transformar o mundo dos jogos em um espaço de segurança, respeito e igualdade", diz Brunson.
A ONG ainda avalia a possibilidade de propagar essa funcionalidade em outros jogos e países para um futuro de médio prazo.
O código de implementação, contudo, será disponibilizado de forma gratuita e aberta na página oficial e-policestation.com.
Para o público de outras nacionalidades será necessário alterar a programação, reendereçando a página de denúncias para o órgão competente e de atuação no país específico.
Este é um ponto de virada, um momento em que dizemos 'chega' e nos unimos para proteger a alegria, a criatividade e a comunidade que os jogos trazem para nossas vidas. Nossa mensagem é clara: estamos observando, estamos agindo e estamos mudando o jogo para as mulheres em todos os lugares. Lisa Mae Brunson, Fundadora da Wonder Women Tech