'A fé me mantém viva': Klara Castanho fala sobre desafios e sua carreira

Klara Castanho, 23, trabalha desde os nove meses. Ela começou fazendo publicidade e aos 5 anos já estava uma série no canal GNT. Em fevereiro, ela se despediu de mais uma personagem da ficção, que fez bastante sucesso: a Angela, de "Bom dia, Verônica".

"Essa é uma série de muitas denúncias. Aquilo que as pessoas não gostam de verbalizar é retratado na tela", disse em entrevista exclusiva à Universa.

Aos 16, Klara foi emancipada por conta do trabalho e precisou se mudar para longe dos pais. A vida adulta, para ela, chegou bem mais cedo. Mas sua relação com a mãe, mesmo ficando longe uma da outra, é das melhores. Talvez, sem nem perceber, ela sempre cita a mãe em diversos momentos.

"Minha relação com a minha mãe é maravilhosa. Ela é jovem, tem a cabeça aberta, temos um diálogo ótimo. Nunca existiu assunto proibido. Somos muito amigas. Ligo para ela e falo: 'Oi amiga mãe'", diz. Klara garante que a mãe é sinceríssima e que fica esperando para ouvir o que ela tem a dizer sobre seus trabalhos.

Em um papo leve, a atriz falou sobre amizade, sua carreira e se, quem sabe, voltará a escrever livros daqui uns anos.

Universa: Você foi uma das convidadas da websérie que a Maísa fez com a Dove, e fica na cara a amizade de vocês. É mais fácil ou mais difícil trabalhar com amigos?
Klara Castanho: Tem os dois lados da moeda. Principalmente com a Maísa. A gente se conhece muito e se entende no olhar, às vezes é perigoso. Damos indícios de conversas paralelas e não podíamos. Mas quando você vai fazer uma cena difícil, ter um rosto conhecido é acolhedor.

Sempre agradeço quando tem alguém que conheço em um trabalho novo, porque já quebra o gelo desde o início e não tem o processo de criar intimidade no set.

Na série vocês falam sobre insegurança em lugares que a gente nem pensa no dia a dia, como a axila. Rola essa preocupação com tudo mesmo? Canela esbranquiçada, cotovelo ressecado? Você chega a ficar insegura?
Na adolescência tudo tem um peso maior e começamos a reparar em regiões diferentes. Como atrizes, nunca sabemos qual cena vamos gravar naquele dia. Gravando, já precisei dormir duas vezes com o braço para cima. A atenção vem daí. Quem vai imaginar que a axila, um dia, vai ganhar um close?

Nós emprestamos nosso corpo para os personagens, mas se eu gravar uma cena com foco na panturrilha, subindo uma escada, por exemplo, sempre vai ter alguém com um creme. Claro que em casa temos nossos cuidados, mas no set tem muitas pessoas preocupadas com o resultado.

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Tem algum procedimento ou produto que você não vive sem?
Minha pele é muito ressecada, então sou bem adepta dos hidratantes, tanto para o rosto quanto para o corpo.

Falando em Maísa, vocês já trabalharam juntas muitas vezes?
Na verdade, não. Trabalhamos no mesmo projeto por três anos, então passamos essa impressão porque estamos sempre grudadas. Nunca dá para saber o que é trabalho e o que é vida. Nós nos conhecemos há oito anos em "Pop Star". Misericórdia, já faz oito anos!

Maísa e Klara Castanho no programa da DOVE
Maísa e Klara Castanho no programa da DOVE Imagem: Reprodução/Instagram

Esse projeto de três anos em que estiveram juntas é o "Depois dos 15", onde você viveu a Carol. A despedida que escreveu para a personagem em suas redes foi bem linda. Ela faz falta?
Quando começamos um ciclo com uma personagem sabemos que uma hora ele vai chegar ao fim. No Brasil, as séries tendem a ser mais curtas, então quando renova dá um sensação muito boa, de poder ficar mais com aquele personagem.

Carol começou como uma menina inocente e romântica e chegou à universidade. Eu sinto que o ciclo fechou, mas a despedida é sempre dolorida. Ser atriz é ter experiências fora do corpo e passamos por um processo muito legal juntas.

Você está se despedindo da Angela, de "Bom dia, Verônica" também. A terceira temporada da série estreou dia 14 de fevereiro. E o assunto, nessa produção, é mais difícil. Você chegou a receber mensagens de mulheres que perceberam ser vítimas de abusos após assistir a sua personagem?
Sim, desde o início. Essa é uma série de muitas denúncias. Aquilo que as pessoas não gostam de verbalizar é retratado na tela. E até quem não sabe qual o assunto daquela produção, mas decide assistir porque gosta de algum dos atores, acaba impactado. E o feedback é imediato.

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Recebi mensagens de pessoas que disseram conhecer alguém na mesma situação que a Angela, por exemplo, Nossas redes sociais se tornam canais abertos de contato e troca. As mensagens são constantes. Vão desde entender o que a própria pessoa passou a outras que ela conhece. É uma obra de ficção, mas estamos denunciando um sistema muito maior.

Sem spoiler, o fim da terceira temporada mostra muita união feminina. Para você, qual a importância desse laço entre as mulheres?
Quando você conhece alguém que entende suas experiências tudo se torna mais leve. Mulheres se compreendem e nós fomos percebendo isso com o passar dos anos. Acredito que, nesse momento, estamos mais unidas do que nunca. Podemos retratar a potência feminina em uma série que fala justamente disso, que tem uma protagonista que é mulher.

É gratificante trazer que essa força traz um resultado primordial. Estamos desenhando algo que deveria ser normal, mas ainda temos escorregões. Quanto mais normalizamos, mais essa união se torna possível.

Você escreveu um livro quando era adolescente. Sempre gostou de contar história? Quer escrever mais?
Sempre fui boa de redação e gostei de escrever. Lia bastante na adolescência. Vi que estava rolando uma movimentação de famosos escreverem seus livros, mas não tinha nada da minha vida pra contar. Então resolvi fazer uma história fictícia. Me juntei a uma outra escritora, a Luiza Trigo, e foi assim que surgiu a Nana de "Meu jeito certo de fazer tudo errado".

O livro acabou entrando no Programa Nacional do Livro Didático, tornando-se material obrigatório nas escolas públicas. Tomou uma proporção que eu não esperava, superou todas as expectativas. Recebo mensagens de alunos dizendo que leram e pedindo continuação ou filme. Estamos à vontade e com vontade de fazer isso acontecer.

Foi uma aventura que deu muito certo e sou apaixonada pela história. Não sei quando vem outro —e sequer se teremos uma continuação. Em algum momento da minha vida pretendo escrever outro livro, mas com outra abordagem. A aventura literária é mais intensa do que uma obra audiovisual, posso garantir.

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Você é uma mulher de muita fé. Já fez o Caminho da Fé e andou 120 km até chegar à Aparecida do Norte. Em quais momentos sua fé foi primordial em sua vida?
Fé pra mim é tudo. Tive diversos momentos de me reencontrar com ela, de me entender. Sou batizada em uma religião, mas acredito em muitas coisas de outras religiões Sempre acreditei em uma força maior. Fé, pra mim, é tudo aquilo que você não consegue ver, mas que chega primeiro e te ampara. Ela me mantém viva.

O Caminho da Fé é um processo muito pessoal e único. Cada um tem seus problemas e fizemos os três dias com muita chuva. Chegávamos exaustos nas pousadas. Mas parecia que a chuva levava embora a dor. Foi uma experiência única. Tem quem chega estragado, tem quem chega intacto. É maravilhoso.

Você faz publicidade desde os nove meses. Se pudesse encontrar com a Klara no passado, em qual fase seria e o que diria?
Acho que gostaria de me encontrar com uns 14 ou 15 anos, que era uma fase que eu não gostava de nada em mim, achava que ninguém me entendia.

Só queria pegar na minha mãozinha e dizer: 'Calma, as coisas melhoram, você vai conseguir se entender e achar o lugar que você pertence. Não leve tudo a ferro e fogo. Você está colocando peso naquilo que não precisa. E ouve sua mãe'.

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