Ataques a Leidy: por que chamar mulher negra de 'mucama' é racista?
O termo "mucama" — usado para definir mulheres negras escravizadas que ajudavam "nos serviços caseiros, para acompanhar pessoas da família ou para servir de ama de leite; camba", como define o dicionário Michaelis — foi usado por internautas na noite de ontem (11) para adjetivar Leidy Elin, participante do BBB 24, que é negra.
Os comentários foram publicados nas redes sociais após uma confusão entre Leidy e Davi Brito, que teve suas roupas jogadas na piscina da casa pela sister depois de uma discussão entre os dois no quadro 'Sincerão'.
A conta do Instagram da participante também foi derrubada devido a denúncias por parte dos fãs de Davi.
"A #mucama disse que nunca vai ultrapassar os princípios dela por dinheiro. #Leide tu é subsolo, que princípio?", publicou uma internauta no X, antigo Twitter. Outra, postou: "Leide segura o cigarro pra Yasmin tragar! #mucama".
Em pouco menos de uma hora da briga entre Leidy e Davi, a hashtag "#mucama" chegou aos assuntos do momento na rede social.
Entenda o termo
Historicamente, mucamas eram as mulheres negras escravizadas que ficavam mais perto da família central dentro do sistema escravagista brasileiro — não à toa, o histórico dessas figuras também é ligado a abusos sexuais de seus patrões. Por essa razão, "mucama" é uma das expressões racistas que devem ser retiradas do nosso vocabulário.
O uso do termo nos dias atuais é criticado especialmente por aqueles mais atentos à construção do estereótipo que cerca as mulheres negras — que, devido ao ranço histórico da escravidão brasileira, ainda são vistas como "quem deve servir" e se manter em condição subalterna em relação a pessoas brancas.
A historiadora e escritora Larissa Moreira afirma que referenciar como mucama também desumaniza a mulher negra.
É uma perspectiva histórica de uma violência tremenda. Apesar de o termo ter passado por uma romantização, graças ao autor Gilberto Freyre, é uma alegoria que passa tanto pela questão de gênero quanto pelo racismo.
Larissa explica ainda que a mucama não era, portanto, "a preferida" do senhor, como a história tenta nos contar.
"Ela servia ao domínio patriarcal, era passível de estupros, sofria com o ódio da senhora. Tudo isso sendo explorada em um ambiente doméstico", afirma.
Posicionamento da equipe de Leidy
Por meio do X (antigo Twitter), a equipe que controla as redes sociais de Leidy lamentou o racismo das publicações: "Desde ontem, os números de ataques racistas aumentaram e de forma absurda, enquanto a pauta da discussão é sobre atitudes dentro do jogo".
"Os limites estão sendo gravemente ultrapassados a ponto de que boa parte do público se juntaram para derrubar o Instagram da Leidy. E adivinhem? Conseguiram. E sabem o que mais? Querem derrubar até o TWITTER. Isso é jogo limpo?", segue o perfil de Leidy.
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Quero receberDesde ontem, os números de ataques racistas aumentaram e de forma absurda enquanto a pauta da discussão é sobre ATITUDES DENTRO DO JOGO.
-- Leidy Elin ? (@leidyelin) March 12, 2024
Os limites estão sendo gravemente ultrapassados a ponto de que boa parte do público se juntaram para derrubar o Instagram da Leidy. E?
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