Barriga de aluguel no exterior custa um apartamento: saiba como funciona

Com o sonho de formar uma família, o empresário Tauã Fernandez, 33, buscou a adoção e a barriga solidária da mãe para realizar o desejo de ter filhos junto com o seu marido, o médico psiquiatra Rafael Silva, 41, mas as tentativas não deram certo.

Na primeira situação, eles acharam o processo de adoção cansativo e burocrático. Na segunda, as duas fertilizações in vitro da mãe de Tauã não tiveram sucesso, gerando uma enorme tristeza e frustração para todos.

"Eu e meu marido decidimos contratar uma barriga de aluguel na Colômbia, onde a prática é legalizada. Fizemos o processo por uma agência internacional que auxilia casos de gestação por substituição, indicada para indivíduos ou casais que não conseguem, não querem ou não têm a possibilidade de conceber um filho", diz Tauã. Os valores deste tipo de serviço variam de R$ 350 mil a mais de R$ 640 mil (mais detalhes abaixo).

Bruna Alves, diretora da Tammuz Brasil, agência que presta este tipo de serviço, explica que a primeira etapa é entender a história e a necessidade da pessoa ou família (se é solteiro(a), casal homossexual, etc).

A segunda é definir em qual país o procedimento será realizado. A barriga de aluguel pode ser feita com os óvulos e sêmen do próprio indivíduo/casal ou a partir de um banco de dados internacional com o perfil de doadores (de óvulos e sêmen) que incluem informações gerais, fotos, profissão, histórico médico, familiar, traços da personalidade, entre outros.

"A vela dentro de mim se apagou, tudo ficou escuro"

Rafael, Tadeu e Tauã: aqui já num momento posterior (e feliz!)
Rafael, Tadeu e Tauã: aqui já num momento posterior (e feliz!) Imagem: Arquivo pessoal/CGC Photos (Camila Costa)

Durante o processo de Tauã e o marido, as fertilizações in vitro com os quatro embriões da primeira doadora de óvulos e o sêmen de Rafael não deram certo e eles foram aconselhados a tentar uma outra doadora e uma outra gestante por substituição.

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"Foi o momento mais difícil da minha vida. Entrei em depressão, perdi a fé, a esperança e a alegria de tentar ter um filho. Era como se tivesse uma vela dentro de mim que se apagou, tudo ficou escuro", conta Tauá, emocionado.

De acordo com a diretora da agência, a doadora de óvulos nunca é a mesma pessoa que será a gestante por substituição.

Doadoras não podem ter nenhuma condição genética que possam trazer malefícios para a saúde do bebê, por isso elas passam por uma varredura nos genes.

Já as candidatas a gestantes por substituição precisam ter sido mãe ao menos uma vez e os partos anteriores precisam ter sido saudáveis. Elas também são submetidas a exames e testes físicos e psicológicos.

Na parte contratual, são assinados dois contratos, um com a agência referente aos serviços e custos pela intermediação. O outro é entre a família e a gestante por substituição, que é reconhecido pela lei local do país onde a barriga de aluguel será realizada.

Com barriga de aluguel, Rodrigo viu chance de construir sua família

Rodrigo com os filhos gerados por barriga de aluguel nos EUA
Rodrigo com os filhos gerados por barriga de aluguel nos EUA Imagem: Arquivo pessoal

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Gay e solteiro, a ideia de se tornar pai parecia distante para o empresário Rodrigo Marder, 47. Ao saber de amigos que contrataram uma barriga de aluguel no exterior, Rodrigo viu a possibilidade de constituir sua própria família.

Em 2017, ele deu início ao processo com a Tammuz na Pensilvânia (EUA). "Durante a gestação, regularmente recebia informações sobre o estado de saúde da gestante e do bebê pela agência, participava dos ultrassons por videochamada, mas também conversava diretamente com a gestante por aplicativo de mensagens. Fui uma vez a mais aos EUA para conhecê-la pessoalmente, esse contato foi importante para nos aproximar e gerar conexão", conta Rodrigo.

De forma geral, o indivíduo ou casal viaja duas vezes para o país onde a barriga de aluguel será realizada. A primeira é no início, para fazer a coleta de material genético deles (sêmen ou óvulos). A segunda é para buscar o bebê —geralmente o período de estadia é de 3 a 4 semanas, tempo em que será emitida a certidão local de nascimento.

É com essa documentação que a família comparece ao consulado brasileiro para a nacionalização do bebê e emissão do passaporte. Bebês que nascem nos EUA têm direito a dupla cidadania: brasileira e americana.

No Brasil, barriga de aluguel é proibida

Segundo o advogado Washington Fabri, a barriga de aluguel é proibida no Brasil porque não pode haver comercialização de partes do corpo, principalmente devido a lei de transplantes (doação de órgãos) e a lei de biossegurança.

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Apesar de a prática não ser aceita no Brasil, o país não veda os registros dos bebês nascidos por barriga de aluguel no exterior, desde que sejam feitos em países em que a legislação permite o procedimento.

"No Brasil, o processo de surrogacy [útero de substituição] só pode ser feito de forma solidária, não pode ter fins lucrativos e deve seguir algumas regras específicas de acordo com as resoluções e os provimentos do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Federal de Medicina", explica o advogado, que atua com casos de barriga solidária e registro de bebês nascidos por barriga de aluguel internacional.

Entre os requisitos está o parentesco de até quarto grau entre um dos pais e a mulher que cederá o útero. Caso não haja um familiar até quarto grau, uma autorização deve ser solicitada junto ao Conselho Regional de Medicina.

Promessa feita e o bebê veio

Tadeu foi gerado por uma barriga de aluguel na Colômbia
Tadeu foi gerado por uma barriga de aluguel na Colômbia Imagem: Arquivo pessoal

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Ao trocar de doadora de óvulos, de gestante por substituição e fazer uma promessa para São Judas Tadeu, conhecido como o padroeiro das causas impossíveis, Tauã deu continuidade ao processo que durou três anos.

Dos 16 óvulos, apenas um virou um embrião e pela primeira vez a fertilização foi bem-sucedida. "Demos o nome do nosso filho de Tadeu em homenagem ao padroeiro. Ele nasceu em dezembro de 2023 na Colômbia. A chama dentro de mim voltou a acender. No futuro, queremos dar um irmãozinho ou uma irmãzinha para o Tadeu", conta Tauã.

Rodrigo está no terceiro processo e aguarda por Elisa

Eduardo e Helena vão ganhar uma irmãzinha
Eduardo e Helena vão ganhar uma irmãzinha Imagem: Arquivo pessoal

Em 2018, Rodrigo viveu um dos momentos mais emocionantes da sua vida ao se tornar pai de Eduardo, que nasceu nos EUA. Quando o menino tinha poucos meses de idade, ele decidiu aumentar a família e deu entrada no segundo processo no mesmo país.

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"Perguntei à minha primeira barriga de aluguel se ela aceitaria gestar o segundo bebê, ela aceitou e Helena nasceu em 2021", afirma.

Rodrigo está no terceiro procedimento de barriga de aluguel e aguarda por Elisa, que está prevista para nascer em maio de 2024. "Criar filhos, ainda mais sendo pai solteiro, é um desafio diário. Meu papel é educá-los para que tenham valores, princípios, sejam pessoas boas e responsáveis", conta Rodrigo que se tornou consultor de vendas da Tammuz e hoje ajuda outras pessoas e famílias.

É caro?

Atualmente, a Tammuz opera na Colômbia, Argentina, México, Geórgia e Estados Unidos. Há diferentes tipos de planos, custos e regras de quem pode fazer o procedimento em cada local.

No plano garantia, que só se encerra até que ocorra o nascimento do bebê para a família, na Geórgia, o investimento custa em torno de US$ 66 mil, o que dá mais de R$ 327 mil (exclusivo para casais heterossexuais).

Na Colômbia e Argentina o custo é cerca de US$ 71 mil (R$ 351 mil). Nos EUA, o valor é US$ 130 mil (R$ 644 mil). Com a intermediação da agência, já foram gerados mais de 1.600 bebês no mundo, sendo mais de 200 bebês brasileiros.

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