'Seu ex tá aqui, cuidado': mulher espancada e morta recebeu alerta de amiga
Simone Machado
Colaboração para o UOL, em São José do Rio Preto (SP)
18/03/2024 13h20Atualizada em 19/03/2024 08h12
A técnica em enfermagem Elda Mariel Aquino Fortes, de 29 anos, foi espancada até a morte na casa em que morava em Lorena (SP). O caso é investigado como feminicídio e o ex-namorado da vítima, que não aceitava o fim do relacionamento, é o principal suspeito do crime e é procurado pela polícia.
O que aconteceu
Elda foi encontrada pela mãe caída no quarto da casa em que morava na manhã de sábado (16). A residência da técnica de enfermagem fica nos fundos da casa da mãe, no centro da cidade.
Durante a madrugada, Elda foi até uma casa noturna com um grupo de amigas. Ela ficou no local até por volta das 4h.
Elda foi perseguida pelo ex-companheiro, segundo a Polícia Civil.
Em uma troca de mensagens, uma amiga diz que o homem foi até a sua casa procurando pela técnica de enfermagem e mostra preocupação com a amiga.
Amiga, seu ex está aqui na porta da minha casa falando que você estava aqui. Ele está indo encontrar você, toma cuidado
Mensagem da amiga, no Whatsapp
Sim amiga, ele é doente de tudo
Elda, em resposta à amiga
Na sequência, a amiga segue demonstrando preocupação e pede para que Elda a avise assim que chegar em casa. As duas seguem conversando por alguns minutos até que Elda para de responder.
Elda apresentava várias lesões no rosto e sinais de asfixia causados possivelmente por um golpe 'mata-leão'. O pescoço dela estava quebrado, segundo o boletim de ocorrência.
'Sempre tentava ir atrás dela', diz mãe
"A morte da minha filha é algo que dói muito, mas ela ter sido morta dentro da minha casa dói ainda mais. Eu não sei como aconteceu. Eu não escutei nada, nenhum grito. Os cachorros não latiram. Não sei se ela foi golpeada lá fora ou se foi aqui dentro", diz Valéria Aquino Fortes, 59, mãe da vítima e professora aposentada.
Elda e o ex-companheiro, principal suspeito do crime, permaneceram juntos por cerca de quatro anos e tiveram uma filha, de três. O casal estava separado desde novembro e o homem não aceitava o fim do relacionamento. No momento do crime, a criança dormia com a avó.
"Eles não brigavam, mas ele criticava a roupa, cabelo, perfume e tudo o que ela fazia. Ele sempre buscava uma forma de abalar a autoestima dela até que ela terminou com ele e mandou ele sair de casa", recorda a mãe de Elda.
Em janeiro, a vítima registrou um boletim de ocorrência contra o ex-namorado por violência doméstica e tinha uma medida protetiva contra ele. Na ocasião, segundo a mãe, o homem tentou agredir a filha na rua e a ameaçou de morte.
Toda vez que ela saia de casa, a gente ficava preocupado porque ele sempre tentava ir atrás dela e quando a encontrava mandava voltar para casa mesmo ela tendo a medida protetiva.
Valéria, mãe de Elda
Elda trabalhava como auxiliar de enfermagem na maternidade da Santa Casa da cidade havia dois anos. Ela deixa dois filhos, um menino de 14 anos e uma menina de três.
"Ela estava feliz e vivendo uma fase muito boa da vida profissional. Ela vinha fazendo cursos e estudando para crescer na carreira", conta a mãe. "Era uma menina vaidosa, que amava se cuidar e estar sempre bonita. Era o amor da minha vida e ele acabou com tudo isso.
Em caso de violência, denuncie
Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.
Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.
Há ainda o aplicativo Direitos Humanos Brasil e através da página da Ouvidoria Nacional de Diretos Humanos (ONDH) do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Vítimas de violência doméstica podem fazer a denúncia em até seis meses.