Médico é indiciado por morte de mulher durante retirada de DIU em MG
De Universa, em São Paulo
21/03/2024 21h01Atualizada em 21/03/2024 21h01
O médico cardiologista Roberto Márcio Martins foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio após uma paciente morrer durante o procedimento de retirada do DIU (dispositivo intrauterino), na cidade de Matozinhos (MG). O homem está preso preventivamente (por tempo indeterminado) desde dezembro de 2023 por violação sexual mediante fraude contra seis pacientes.
O que aconteceu
Retirada ocorreu no dia 4 de novembro em uma clínica no centro do município que tinha alvará apenas para a realização de consultas cardiológicas. A vítima, Jéssica Marques Vieira, de 32 anos, foi sedada pelo médico que realizou o procedimento, mesmo em descumprimento de resolução do Conselho Regional de Medicina, que estabelece que a administração de anestesia deve ser realizada por um segundo médico. Além da retirada do DIU, a mulher também fez a coleta de material do colo do útero para biópsia.
Delegado narrou sequência de eventos. Após a finalização do procedimento, Jéssica apresentou uma piora no quadro respiratório e cardíaco. Mesmo com aplicação de "antídotos" da sedação, a mulher entrou em parada cardiorrespiratória. O médico tentou fazer ao menos 12 manobras de ressuscitação antes de pedir apoio aos socorristas da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Matozinhos, informou a Polícia Civil.
A Polícia Civil apurou que procedimento começou por volta das 7h30 e o resgate só foi acionado às 11h. "A equipe da UPA demorou apenas cerca de dez minutos para chegar. Foi realizado procedimento de intubação e diversas manobras de ressuscitação, sem sucesso. (...) Por fim, a vítima foi levada à UPA de Matozinhos, onde a morte foi constatada", completou o delegado Cláudio de Freitas, responsável pelo inquérito.
Imagens de câmeras de segurança da clínica e confronto de depoimentos durante a investigação concluíram que o médico demorou para solicitar apoio do socorro. "A demora teria ocorrido com o objetivo de resolver a situação internamente e evitar problemas para o médico e para a clínica, que estava irregular", destacou Freitas. O indiciamento foi por homicídio com dolo eventual, o que significa que apesar de não ter a intenção direta de matar, Roberto assumiu o risco para isso.
Causa da morte foi edema pulmonar. Uma perícia específica foi realizada e apontou que a associação de fatos, incluindo hipóxia (quantidade de oxigênio insuficiente nos tecidos) prolongada e efeitos adversos das medicações aplicadas, podem ter causado o edema e, consequentemente, a morte da paciente.
A reportagem tenta contato com a defesa do médico. O texto será atualizado tão logo haja manifestação.
Médico é indiciado por violação sexual
Médico é indiciado por violação sexual mediante fraude contra seis pacientes. O indiciamento, ocorrido em dezembro de 2023, aponta que os abusos teriam ocorrido durante consultas e exames. Em razão desses casos, o homem está preso.
Ontem, uma mulher que também seria vítima do médico procurou a delegacia de Matozinhos para relatar abusos semelhantes. Um novo inquérito foi aberto para apurar a denúncia.
Uma consulta ao portal do CFM (Conselho Federal de Medicina) apontou que o médico está com a situação de registro "regular". A data de inscrição dele no CFM foi em 30 de janeiro de 1992.
Relembre o caso
Segundo o pai de Jéssica, Lino Antônio Vieira, 64, a filha nasceu com um sopro no coração. Por indicação de outros profissionais, passou a fazer acompanhamento cardiológico na Clínica Med, em 2011.
"Com o passar do tempo, o médico também passou a fazer os procedimentos ginecológicos na Jéssica. Pedia exames e indicou que ela parasse de usar a pílula e colocasse DIU. Como a Jéssica já tem um filho de 9 anos, ela aceitou", contou o pai, em entrevista ao UOL em novembro de 2023.
Lino conta que o procedimento para colocar o DIU foi no dia 20 de outubro. Nesse dia, o médico percebeu que havia uma vermelhidão no útero de Jéssica e pediu mais exames. No dia 4 de novembro, Jéssica voltou à clínica, acompanhada do pai e do marido para fazer a retirada do dispositivo intrauterino.
Na época, a Prefeitura de Matozinhos, por meio da Secretaria de Saúde, disse que tomou conhecimento do fato a partir da solicitação de atendimento à UPA. Segundo a prefeitura, após os procedimentos de reanimação cardiopulmonar, foi constatada a morte. A Clínica Med Center foi interditada em novembro de 2023 pela prefeitura local, sob alegação de não ter alvará para fazer procedimentos ginecológicos, apenas cardiológicos.
Em caso de violência, denuncie
Ao presenciar um episódio de agressão contra mulheres, ligue para 190 e denuncie.
Casos de violência doméstica são, na maior parte das vezes, cometidos por parceiros ou ex-companheiros das mulheres, mas a Lei Maria da Penha também pode ser aplicada em agressões cometidas por familiares.
Também é possível realizar denúncias pelo número 180 — Central de Atendimento à Mulher — e do Disque 100, que apura violações aos direitos humanos.
Para receber atendimento ou fazer denúncias pelo WhatsApp, é possível enviar mensagem para o número (61) 99611-0100; ou pelo Telegram, basta digitar "Direitoshumanosbrasil" na busca do aplicativo. Após uma mensagem automática inicial, o atendimento será feito pela equipe do Disque 100 ou do Ligue 180.